Esta é um pequena ficção, continuação do Capítulo 1 – A Princesa Plebéia, baseado no segundo capítulo do livro de Cântico dos Cânticos.

Crônicas de Salomão

Capítulo 2 – O Lírio dos Vales

“Como você é linda, minha querida! Ah, como é linda. Como um lírio entre os espinhos é a minha amada entre as jovens. Quero ser seu para sempre, amar-te até os confins da terra.”

Suas mãos tremiam enquanto lágrimas tocavam seu rosto macio. Esta simples carta mudaria sua vida para sempre.

Ela fora convidada para uma festa no palácio, na qual somente membros da realeza e nobreza poderiam comparecer. E assim ela poderia vê-lo novamente.

“Venha amanhã ao pôr-do-sol no banquete real, e te encontrarei. Um dia você será minha rainha.”

O tempo parecia não passar, a ansiedade era como um roedor que destruía sua alma por dentro. Será que o príncipe a encontraria bela? Será que ele a tomaria para si?

“Bom, para essa ocasião,” disse Diana, simpática como os pássaros a despertar o dia, “você vai precisar mais do que essa roupa de linho. Vamos fazer brincos de ouro com incrustações de prata. Vamos fazê-la parecer divina para que o príncipe não se agüente de amores!”

E todas riam com seu gesto de rosto apaixonado do príncipe.

O banquete era em três dias, e a plebéia que haveria de ser princesa pouco sabia das extravagâncias e maneiras da corte.

“Que fracasso.” Disse a jovem, praticando a dança real com sua tia, que servira no palácio muitos anos atrás.

“Calma minha querida. Passe o pé direito por trás do esquerdo.”

Elas treinaram até o céu se escurecer por completo.

“Você foi bem, minha sobrinha. Descanse agora, pois dormir nos permite sonhar, e seus sonhos te levarão para teu amor.”

Ao lado de sua cama, estava a carta, e um ramalhete de flores das vinhas de En-Gedi. Seu perfume era como o paraíso na terra, como um sonho em que ela era a mais nobre princesa no reino. Ela apertou uma pequena bolsa marrom contra seu pescoço, sentindo o profundo o aroma de mirra emanando em seu corpo.

“Somente dois dias, meu amor.” Ela sussurrou às estrelas e descansou ao som da brisa tocando as folhas das árvores de seu jardim.

O último dia foi gritaria por toda parte, as servas e amigas terminando de fazer sua roupa e adornos.

“Vamos ver se o brinco cai bem em você.” Diana corria de um lado para outro como uma formiga.

“Que lindo, Diana.” O ouro puro refletia a preciosidade daquele rosto.

“É meu presente para você.”

Aquele brinco valia mais do que tudo que ela poderia pagar. Havia detalhes de prata por dentro, e era pequeno e circular. Um presente divino, tal como aquela amizade.

“Como posso te agradecer, minha amiga?” Elas se abraçaram.

“Faça-me tua serva quando você morar no palácio, e isto tudo será pago!” Elas caíram na risada, imaginando a vida ao lado do príncipe.

“Imagine festas todos os fins de semana, com os melhores vinhos da terra, os homens mais fortes e belos de todo o reino…” Diana falava sem parar, sonhando como uma criança.

“Imagine dançar com o príncipe no salão de banquetes, deitar ao seu ombro debaixo das macieiras do palácio, comer da mais fina comida ao seu lado…”

O sol cantava no horizonte. O céu resplandecia uma cor carmesim, anunciando a beleza do dia porvir.

“Minhas amigas, me prometam algo,” disse a bela princesa plebéia, com seu vestido cor de esmeralda e seus braceletes dourados, “do fundo de seu coração.”

As amigas estavam todas juntas, jantando em uma longa mesa de madeira ao ar livre.

“Nunca despertem nem provoquem o amor enquanto ele não quiser. Tudo tem seu tempo debaixo do céu.”

O mundo pareceu parar naquele momento. Ela respirou fundo, olhou para suas companheiras e continuou:

“Pois quando ele vem, ele é mais forte que a morte, o ciúme é tão inflexível quanto a sepultura, suas brasas são como o fogo ardente…”

“Deixe-o me queimar então, e seremos felizes juntas!” Diana exclamou, seguido de risos e aclamações ousadas. O banquete real se aproximava, enquanto aquele amor florescia e brilhava como um incêndio no bosque.

 

To be continued…

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