Este é último capítulo de uma pequena ficção baseada no livro de Cântico dos Cânticos.

Crônicas de Salomão

Capítulo 5 – O Casamento

O príncipe enviava cartas todos os dias para sua amada, perguntando sobre seu bem estar. Semanas se passavam, mas eles mal se viam. O príncipe enviou três de suas servas para cuidar da princesa plebéia e sempre que podia, declarava seu amor por ela.

“Por que ele não vem ao teu encontro?” Perguntou Rania, sentada ao lado de sua amiga ao entardecer.

“Ele me disse que há muitos interesses neste casamento, pois ele será um dos maiores reis da história do nosso país. E muitos reis já ofereceram suas filhas para se casarem com ele. Por isso estão ocultando nosso amor para ser revelado à nação somente em nosso casamento.”

“Mas ele te ama?”
A princesa plebéia fitou seus olhos no horizonte e respondeu sem hesitar.

“Ele me ama, tão certo como a lua que vem ao anoitecer. Eu pertenço ao meu amado, e ele me ama.”

A noite chegou. Os únicos que apoiavam este casamento era o Rei Davi, os amigos mais chegados do príncipe e da plebéia. Os demais, desde os nobres até os reis de nações vizinhas, queriam utilizar desta ocasião para fins políticos, cada um com seus próprios interesses. Estes eram dias de tensão, aonde traição e rebelião eram vistos por toda a parte.

“Filho, chegou a hora de escolher sua esposa. Esta decisão não é somente sua, pois Deus te dará todo este povo para cuidar.” O Rei disse ao seu filho, tocando seus ombros, enquanto caminhavam no jardim. “Logo o meu tempo irá chegar, e quanto eu seguir o caminho de toda terra, você precisará ser forte e ser homem para unificar o povo sob seu governo.”

“Eu já escolhi, meu pai.”

“Então façamos os preparativos sem demoras. Farei deste dia um marco em meu reinado – o casamento de meu filho amado.”

Os dois se abraçaram, e o jovem príncipe declarou quem seria sua princesa.

“Meu filho, eu sei o que é amar. Esta é uma difícil decisão, e muitos te rejeitarão como Rei, mas peça sabedoria para Deus que Ele te guiará, e fará de ti um grande Rei.”

O jardim real se encheu de ornamentos em ouro e prata, com pétalas de rosas deitadas na grama.

“Minha amada, não posso encontrar-me contigo pois cumpro o juramento do casamento, que durante uma semana não verei mulher alguma. Mas o casamento já foi marcado, e todos os preparativos estão feitos. Você sabe da tradição que temos, por isso eu só poderei tomar-te em meus braços quando seus pais te entregarem a mim. Enviarei mais servas para cuidarem de ti, minha amada, e falarei tudo que você deve fazer até o casamento. Nada poderá te afastar de mim, pois você está dentro de mim.

Teu servo, Salomão.”

O tempo tardava em se passar, ainda mais porque a tradição impedia um príncipe a ver sua mulher logo antes de se casarem. O coração da plebéia batia como se fora um tambor antes da guerra. Ela sabia da imensa responsabilidade de ser rainha, mas nunca se sentira tão preparada para algo em toda sua vida. Era como se tivesse nascido para amar ao príncipe e suportá-lo em seu governo.

O dia chegou. As vestes puras e brancas transformaram a plebéia na mais nobre princesa.

Todas a miravam enquanto ela caminhava ao jardim real, se aproximando de seu amado. Eram milhares de nobres de todas as tribos e províncias, todos com um olhar fito na futura rainha da nação.

Trombetas soaram e um jovem exclamou com toda sua força:

“Louvem o nosso Deus, todos vocês, seus servos, vocês que o temem, tanto pequenos como grandes. Chegou a hora do casamento, e a sua noiva já se aprontou. Para vestir-se foi-lhe dado linho fino, brilhante e puro! Que entre a princesa deste reino e seja recebida ao som dos mais belos instrumentos!”

Seus olhos se tocaram. O príncipe a via de longe, entrando lentamente em um tapete vermelho na grama. Ela estava descalça, e suas vestes brilhavam com o toque do sol. Ela se aproximou e se ajoelhou ante o Rei.

O que eles viveram pouco se sabe, mas a grandeza desta história foi tão notável que séculos depois, todo o mundo ouve falar de um amor entre um jovem príncipe e uma plebéia, que foi tão intenso como o calor do sol, tão verdadeiro como o próprio amor de Deus com seu povo.

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