Aqui eu já falei de contentamento, alegria, amor e mais algumas coisas… Hoje eu vou falar sobre autoridades, política e falta de bíblia que muitos perfis e pessoas que professam a fé cristã tem apresentado.

Estamos vivendo um processo longo e penoso de instabilidade política e econômica e parece que somos obrigados a nos dividir entre entre azuis e vermelhos. Há idolatria em ambos os espectros políticos. Esses dias, no comentários de uma denúncia clara de corrupção de um governador, vi a seguinte afirmação “Como cristãos a melhor forma é orar, interceder e torcer para que de tudo certo”. Fiquei muito assustado já que essa é uma afirmação pouco rasa e perigosa, principalmente em uma democracia jovem e frágil como a nossa.

Não conseguimos afirmar biblicamente que um cristão não pode criticar autoridades e ou políticos quando há base justa para as críticas. Infelizmente a maioria dos cristãos é guiado por uma interpretação distorcida ou muito rasa da Palavra. Para eles, recomendações como as contidas em Romanos 3:15 (“Portanto, é necessário que esses julgamentos, somente o castigo, mas também a consciência”) representem uma proibição para denunciar os erros ou divergências da linha de atuação de quem está no poder com os princípios que cremos.

Certa veze vi post bem interessante no Instagram. A imagem evidenciava em letras garrafais o versículo 23 do capítulo 5 de Atos dos Apóstolos, onde no final do versículo diz o seguinte: “Não fale sobre uma autoridade do seu povo”. Será que esses e outros textos embasam uma postura subserviente dos cristãos às autoridades, sejam elas civis, militares, políticas ou religiosas? Afinal, os mesmos designados por Deus através da Sua soberania, os líderes considerados inatacáveis ​​em sua conduta e deveríamos obedecer a uma forma acrítica?

É inquestionável que as Escrituras determinam o RESPEITO (e não a idolatria, viu gente?) às autoridades. O problema está em confundir cargo ou função com a pessoa que o ocupa o cargo ou a função. Quando alguém é eleito ou designado para determinada posição de liderança, é lícito pressiona-lo para para promover o bem-estar comum. A autoridade é conferida pela carga, não por uma pessoa identificada como quem é. Repetindo de forma mais objetiva: a autoridade é inerente à carga, não a pessoa. Caso quem ocupe não honre a carga que foi conferida, ela se tornará passível de críticas e denúncias.

Erram, e muito, cristãos que silenciam diante dos erros dos líderes, sejam religiosos, civis, militares e até futebolísticos.
Lá no período teocrático do Antigo Testamento, as autoridades de Israel foram diversas vezes confrontadas pelos profetas por seus pecados pessoais e injustiças que praticaram no seu governo/reinado. Elias, por exemplo, profetizou diante do REI por causa de sua idolatria. Natã confrontou Davi pelo adultério e assassinato que promoveu. Os profetas eram uma voz de Deus, não os reis (e hoje me dia, muito menos os políticos). Caso o detentor do poder não se comportasse de acordo com as suas funções, ele era confrontado, criticado e até deposto.

Os profetas eram levantados também para denunciar o pecado dos reis e juízes que governavam Israel. O livro de Amós, por exemplo, pode ser visto como um manual de cidadania crítica.
Numa democracia, o poder é conferido através do voto popular. A autoridade é conferida, portanto, através do povo, que também FISCALIZA ou realiza seu exercício. A crítica e a oposição fazem parte do ambiente democrático e não são antibíblicos.

No texto que já comentei aqui, temos o seguinte contexto: O julgamento a que Paulo estava sendo submetido. No verso 2 ele é agredido! Como reação, o apóstolo chama o sumo sacerdote de “parede branqueada”. No final, no verso 5, ele faz referência a um texto que supostamente o condenaria por se posicionar contra o sumo sacerdote. Ele age acertadamente diante da postura indevida da autoridade. Não resta dúvida, dentro do contexto que houve erro de julgamento da autoridade religiosa.

Esta passagem não indica em NENHUM momento que pastores ou governantes não possam ser criticados. Por isso, não pode ser utilizada isoladamente, como muitos fazem com esses e outros textos. Como explicaríamos o fato de Jesus ter chamado Herodes de raposa (Lc 13:32) e se referir a saduceus e fariseus (líderes religiosos) como “raça de víboras”? O cristão pode e deve criticar as lideranças, de maneira bíblica, e isso pode nunca ser entendido como desrespeito à autoridade. Muitos homens não honram as cargas que ocupam e precisaram ser denunciados. Este também era o caráter de atuação profética no Antigo Testamento. Este perfil também guiou vários líderes cristãos como Martin Luther King, Dietrich Bonhoeffer, Desmond Tutu e outros.

Sujeitar-se a um policial, por exemplo, não me impede de denunciá-lo caso ele abuse da sua autoridade e use a violência injustificada, cobre propina e coisas do gênero. A autoridade é do cargo. Ela não é inerente a uma pessoa. O mesmo se aplica ao presidente, aos governadores, aos perfeitos, aos vereadores, aos pastores e por aí vai.

Em síntese:

1. Podemos criticar as autoridades e isto não significa não se sujeitar a elas.
2. Oramos pelas autoridades, inclusive para as que não estão corretas diante dos compromissos assumidos para que se arrependam e cumpram a sua função.
3. O Brasil não é uma teocracia e nem o Cristianismo é o Islã. Aqui temos governantes eleitos, não aiatolás.
4. O cristão que serve cegamente a uma autoridade humana, desobedece a Deus, por ser idólatra e é culpado por omissão e cúmplice dos abusos e pecados do seu ídolo.

Que Deus nos dê graça e nos ajude a sermos mais bíblicos e não sermos encontrados em idolatria política ou religiosa.

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