Tem se tornado uma resposta padrão para justificar nossos atos.
Sarah está no último ano do ensino médio e tenta determinar onde ela vai fazer a faculdade. Depois de visitar quatro faculdades, ela diz aos pais que “sente paz” em relação a uma determinada escola. Ou um homem de negócios, considerando um novo empreendimento de carreira, poderia dizer: “Sei que é arriscado, mas sinto uma paz de que é isto que devo fazer”.
Quando uma sensação interna de paz se torna a razão máxima para a tomada de decisões, ninguém pode nos questionar. É o maior “fim de papo” — semelhante a dizer que Deus lhe disse para fazer alguma coisa.
Quem vai dizer que Deus não o fez, ou que seu senso de paz está errado?
Decisões Importantes
Isto pode não ser uma grande coisa com relação a decisões moralmente neutras, tal como a escolha de uma faculdade ou de nosso próximo empreendimento empresarial. Mas é um problema enorme quando se refere a escolhas em outras áreas da vida—o que quase sempre acontece.
E quando um sentimento de paz serve de base para a escolha de uma igreja, mesmo que a igreja pregue um evangelho empobrecido ou careça de liderança piedosa?
Ou quando justificamos a decisão de acabar com um casamento problemático porque simplesmente “sentimos paz” quando estamos separados?
Ou quando presumimos que um relacionamento homossexual deve ser o desígnio de Deus porque sentimos paz?
Parece uma prática virtuosa. Afinal, não quer Deus que tenhamos paz? Não é a clareza interna um sinal de sua bênção? Será que ele realmente deseja que tomemos uma decisão que não produza uma paz imediata? Certamente que não.
Bússola Danificada
Infelizmente, nossa bússola interna está fundamentalmente danificada, devido à queda. A não ser em Cristo, nossos sentimentos são extremamente enganosos (Jr 17.9). Nossas naturezas depravadas conseguem alinhar sentimentos de paz com ações que traem o bom desígnio de Deus. Sentimos paz quando nos atemos à nossa natureza caída, porque estamos agindo de acordo com essa natureza quando pecamos.
Ao respondermos ao evangelho pelo poder do Espírito, nossa natureza é transformada. Recebemos novos corações que anseiam obedecer a Deus e a adorá-lo corretamente. Quando crentes pecam, eles estão agindo contra sua nova natureza. O pecado vai trazer uma sensação cada vez mais grotesca e não trará a paz.
Portanto, isto significa que aqueles de nós que afirmam ser cristãos, podem confiar em nossa sensação de paz? Pode ser que sim. Mas talvez não—por pelo menos dois motivos.
1. Pode ser que verdadeiramente não tenhamos um novo coração.
Uma sensação de paz sobre ações ímpias pode revelar que uma pessoa não passou pela reorientação radical do coração que vem através da conversão genuína. Independentemente do pedigree religioso de uma pessoa, se ela permanecer morta em pecado, sua compulsão interna não será na direção da justiça. A paz, então, se torna um fruto ímpio que desmascara a pessoa como um falso crente.
2. Os cristãos podem ser enganados pelo pecado que os agarra de perto.
Crentes regenerados devem sentir desgosto por pecados que outrora lhes trouxeram alegria e paz. É claro, eles permanecem suscetíveis ao pecado e muitas vezes caem vítimas de sua atração, mas também responderão de maneira diferente. O pecado trará dor quando outrora trazia prazer. Produzirá arrependimento genuíno, quando outrora trazia meramente uma mudança momentânea.
Imagine um verdadeiro cristão que racionalize uma certa prática pecaminosa. A princípio, o pecado pode trazer condenação, mas com o tempo essa sensação interior de inquietação começa a diminuir. O pecado pode até parecer justificável, particularmente se obedecer a Deus trouxer desconforto ou dor.
Tomemos o caso clássico de uma adolescente cristã que namora um incrédulo. Ela sabe que o relacionamento está condenado—ele não ama a Deus e está conduzindo-a pelo caminho errado. Mas não namorá-lo significa ficar sozinha, e quem quer ficar sozinha? A dor da solidão supera a dor de um relacionamento ímpio, por isso ela percorre o caminho que tantas percorreram à sua frente. Com o tempo, ela insensibiliza sua consciência à vontade do Espírito e habitua seu coração a sentir paz em um relacionamento não sadio. Todos sabemos como essa história termina.
Deve existir uma base melhor para as decisões que tomamos. Duas perguntas são muito mais úteis na tomada de decisões do que simplesmente “Sinto paz?”
1. A Palavra de Deus Fala Desta Questão?
Se a Bíblia fala com autoridade sobre um assunto, então não importa como nos sentimos—a Bíblia está sempre certa. Certamente, aqueles que desejam prosseguir num comportamento aberrante procurarão reinterpretar as Escrituras para justificar sua situação e a retidão moral de suas ações. Mas a Palavra de Deus deve superar qualquer senso de excepcionalismo que possamos sentir.
Por exemplo, visto que as Escrituras falam claramente sobre questões de sexualidade, devemos prestar atenção ao seu conselho, negar nossos anseios e nos arrepender de nossos pecados—mesmo quando nos apegarmos ao pecado nos dê paz. Visto que a Bíblia fala claramente sobre questões de amor cristão, devemos buscar o melhor para nossos inimigos e amá-los como Cristo nos amou — mesmo que isso cause mágoa e dor.
2. O Povo de Deus Fala Desta Questão?
A comunidade cristã é um segundo ponto de controle para ajudar a esclarecer nossas ações. No entanto, aqui temos que ter cuidado. Assim como sempre podemos torcer e distorcer a Bíblia para racionalizar nossos atos, podemos também sempre encontrar um ou dois cristãos professos que justifiquem nossas ações. Ironicamente, tal apoio pode vir daqueles que buscam maior conforto para seus próprios pecados.
No entanto, a igreja ainda é onde os crentes têm seus corações treinados para encontrar alegria, paz e contentamento através da obediência a Cristo, onde eles podem caminhar lado a lado para encorajar uns aos outros à santidade e à desencorajar o pecado. Na igreja, devemos encontrar pessoas que nos amem o suficiente para nos direcionar ao perdão encontrado em Jesus. Se crentes maduros desafiam nossas ações, devemos prestar atenção a eles—mesmo que isso não traga paz aos nossos corações.
Ordem Correta, Paz Correta
É aqui que a nossa bússola interna pode entrar em cena. Se a Bíblia encoraja a nossa escolha (ou pelo menos não a proíbe), e se os irmãos dizem que é do nosso melhor interesse, então podemos nos perguntar: “Tenho sensação de paz sobre esta decisão?” ou talvez melhor, “O Espírito de Deus dentro de mim confirma que esta é a coisa certa a fazer?”
Portanto, o problema não é a questão, é a ordem. Se primeiro perguntarmos o que nos traz paz, então faremos com que as Escrituras digam o que queremos e encontraremos outras pessoas que concordam conosco. Mas, se primeiro perguntarmos o que a Palavra de Deus diz, e então o que seu povo apoia, podemos colocar nosso senso de paz em seu devido lugar — e caminhar com confiança nas decisões que moldarão nossas vidas.
Fonte: coalizaopeloevangelho
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