Quando um adolescente ou jovem abandona a fé cristã a partir do encontro com determinadas ideias, nós imaginamos que a causa do abandono foi este encontro, ou seja: que ele abandonou a fé por que encontrou uma compreensão mais racional sobre a realidade e sua existência nela. No entanto, essa não é uma relação necessária. E, de acordo com a antropologia bíblica, não é a mais adequada.
Escrevendo aos Romanos, o apostolo Paulo descreve a condição do homem sem Deus na segunda metade do capítulo 1. E se há algo que ele deixa claro nessa descrição é que a dimensão de nossas escolhas morais antecede a nossa racionalidade. Logo no início ele afirma que a ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detêm a verdade pela injustiça (v.18). Para o que nos interessa aqui, o que é extremamente significativo nesta afirmação de Paulo é que ele apresenta o homem sem Deus como alguém que detêm (suprime; rejeita) a verdade não por causa da mentira, mas por causa da injustiça. Isso aponta para um ponto importante da antropologia bíblica, o de que nossa dimensão intelectual é um reflexo de nossa dimensão moral. Posteriormente, no versículo 21, Paulo vai adiante e argumenta que a nulidade dos raciocínios (dimensão intelectual), que é característica dos ímpios, é um resultado do obscurecimento do coração causado por sua recusa em glorificar a Deus (dimensão espiritual). Este argumento aprofunda nosso entendimento da antropologia bíblica. Ele mostra que, de acordo com ela, nossos pensamentos são um resultado de nossas escolhas morais, e que estas por sua vez, resultam de nossa escolha espiritual.
A implicação disso para o nosso ponto aqui é a seguinte: precisamos entender que ninguém abandona a fé cristã simplesmente por ter se encontrado com ideias contrárias ao cristianismo. As ideias podem ser o gatilho necessário para um processo de abandono da fé, mas suas causas são mais profundas, são morais e, principalmente, espirituais. Quando alguém abandona a fé tendo se encontrado com ideias contrárias ao cristianismo, não o faz exatamente por ter encontrado algo novo, mas por ter encontrado algo que o permite experimentar, sem problemas de consciência, um estilo de vida adequado à devoção idólatra previamente agasalhada em seu coração. Meu objetivo ao fazer essa digressão é esclarecer que a resposta que geralmente oferecemos (você precisa estar intelectualmente preparado!) não é suficiente.
Então, o que podemos fazer para manter a fé em um ambiente educacional majoritariamente anticristão? Permita-me sugerir quatro coisas:
1. Reflita sobre sua real condição espiritual. Para manter algo, você precisa tê-lo. Só pode manter alguma coisa, quem previamente a tem. Isso significa que a primeira coisa que você precisa fazer é refletir sobre sua real condição espiritual e garantir que sua vida religiosa seja mais do que uma questão de mera tradição ou costume. Se for, você precisa nascer de novo, pois como disse Jesus a Nicodemos, um homem que era muito amigo de igreja, se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de Deus (João 3.3).
2. Cultive a humildade. O pecado é essencialmente orgulho, autossuficiência. E se existe algo que pode alimentar estas coisas é o conhecimento. A própria Bíblia diz que o saber ensoberbece. Frequentemente, o primeiro passo de adolescentes e jovens no caminho do abandono da fé é ignorar as orientações de pessoas que eles antes respeitavam – seus pais e pastores por exemplo – por que cederam à autossuficiência no caminho em direção ao conhecimento. Cultive a humildade!
3. Tenha boas companhias. Geralmente o abandono da fé é acompanhado ou até precedido do abandono da igreja. Se o primeiro passo de muitos adolescentes e jovens que abandonam a fé durante o período escolar é o orgulho, o segundo é tentar viver a vida cristã de maneira isolada, como se fosse possível ser cristão sem estar na comunidade da fé. Isso é especialmente verdadeiro no período da Universidade, quando muitos adolescentes e jovens deixam a casa dos pais em direção a outras cidades.
4. E agora sim: prepare-se intelectualmente. Certamente, o conhecimento é importante. E há duas coisas que você precisa conhecer: as verdades bíblicas articuladas em um sistema coerente de pensamento, e as principais ideologias com as quais você se depara no contexto acadêmico. Perceber a coerência interna da fé cristã, sua correspondência com a realidade e beleza, em contraste com a confusão e feiura do pensamento não cristão certamente estimularão você a se manter firme enquanto vive neste ambiente.
Autor: Filipe Pontes
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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