Ora, você que leva o nome de judeu, apóia-se na lei e orgulha-se em Deus; se você conhece a vontade de Deus e aprova o que é superior, porque é instruído pela lei; se está convencido de que é guia de cegos, luz para os que estão em trevas, instrutor de insensatos, mestre de crianças, porque tem na lei a expressão do conhecimento e da verdade; então você, que ensina os outros, não ensina a si mesmo? Você, que prega contra o furto, furta? Você, que diz que não se deve adulterar, adultera? Você, que detesta ídolos, rouba-lhes os templos? Você, que se orgulha na lei, desonra a Deus, desobedecendo à lei? Como está escrito: “O nome de Deus é blasfemado entre os gentios por causa de vocês”.
Romanos 2.17-24

O apóstolo Paulo escreve a passagem de Romanos 2.17-24 para instruir os judeus acerca de sua cegueira quanto ao seu próprio estado natural diante de Deus. Por terem sido o povo eleito de Deus e, consequentemente, recebido as Suas palavras ao longo do tempo, muitos se julgavam superiores às demais pessoas. Porém, Paulo os convida a enxergar que são cegos. Os judeus se gloriavam nas coisas que tinham recebido de Deus de maneira que começaram a entender que em si mesmos havia algo de valioso e se esqueceram de atribuir tais coisas à bondade de Deus (Rm 2.4).

Fato é que nós, a Igreja, a reunião dos eleitos de Deus de todas as nações, constantemente padecemos dos mesmos problemas de Israel. Nós estamos muito prontos para apontar os defeitos do Israel étnico, mas pouco sensíveis às nossas próprias deficiências espirituais. Somos os primeiros a condenar a imoralidade do mundo, mas como será que anda o nosso coração? Será que nós temos “moral” pra falar? Não digo que nós precisamos ser completamente perfeitos em um determinado aspecto para condenar algo, mas quero dizer que precisamos refletir não apenas quanto ao mal que enxergamos nos outros, mas, primeiramente, tratarmos de nossas brechas a ele (Mt 7.5).

Nós condenamos aqueles que mentem, mas não vemos problema em assumir um compromisso no Spotify dizendo que moramos na mesma casa que outros amigos, só pra racharmos a conta Premium; nós condenamos a guerra e o ódio, mas não somos tão rigorosos quanto a antipatias secretas que temos contra alguns; condenamos o adultério e a pornografia, mas estamos atentos às cenas sensuais dos filmes e séries sem muita restrição; condenamos a idolatria católica romana, mas passamos tempo excessivo no espelho.

Percebe o quanto somos seletivos? É preciso que entendamos que Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11), o que significa que não importa se você confessa a fé cristã se faz as mesmas coisas que o incrédulo faz (Cl 3.6). Deus não vai trazer ira sobre o incrédulo e misericórdia sobre você se ambos têm as mesmas práticas. Daí você pode questionar “e a salvação agora é por obras?”. Não (Ef 2.8-9). Contudo, as boas obras estão preparadas para aquele que possui a fé (Ef 2.10).

Meu convite hoje não é para que você deixe de exortar o seu irmão em pecado por ver em si mesmo um pecador; é, sim, para que a sua exortação sirva não apenas para ele, mas para você também, e que a Igreja de Cristo cresça em edificação (Ef 2.22).

Como advertência [para mim e] para você, deixo a passagem abaixo:

Se continuarmos a pecar deliberadamente depois que recebemos o conhecimento da verdade, já não resta sacrifício pelos pecados, mas tão-somente uma terrível expectativa de juízo e de fogo intenso que consumirá os inimigos de Deus. Quem rejeitava a lei de Moisés morria sem misericórdia pelo depoimento de duas ou três testemunhas. Quão mais severo castigo, julgam vocês, merece aquele que pisou aos pés o Filho de Deus, que profanou o sangue da aliança pelo qual ele foi santificado, e insultou o Espírito da graça? Pois conhecemos aquele que disse: “A mim pertence a vingança; eu retribuirei”; e outra vez: “O Senhor julgará o seu povo”. Terrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo!
Hebreus 10:26-31

Somos indesculpáveis se não colhermos da culpa lançada em Cristo Jesus a justiça para a vida nele. Assim como a exortação, a graça do Evangelho alcança o irmão e você.

Que Deus tenha misericórdia de nós e nos socorra, em Cristo, das trevas em que por várias vezes nos encontramos.

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