Tenho me divertido, e muito, com meus netos Samuel e Guilherme, vendo suas brincadeiras de criança, suas gargalhadas e outras atitudes infantis destes dois lindos bebês. O Samuel tem um pouco mais de um ano, e o Guilherme ainda vai completar seu primeiro aninho. Portanto, é natural que estejam ainda engatinhando e arriscando os primeiros e desengonçados passos, forçando a língua para falarem as primeiras palavras e agindo naturalmente como crianças de sua idade…

Mas o fato é que eu não estaria nem um pouco encantado se eles tivessem cinco anos e o mesmo comportamento de hoje!

chamados-a-maturidade

As crianças crescem, e com este crescimento vem um desenvolvimento, sadio e sistemático, de acordo com a idade. O próprio Senhor Jesus passou por este processo, e a Escritura relata que “crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens” (Lc 2:52). Assim sendo, se o Samuel tivesse ainda o mesmo comportamento de Guilherme (e olha que a diferença entre eles é de poucos meses!) diríamos que alguma coisa estava errada em seu desenvolvimento, e procuraríamos imediatamente o pediatra para providências urgentes.

O mesmo se aplica à nossa vida cristã. Quando nascemos de novo, em experiência pessoal e indelével com o Senhor Jesus, somos crianças. Precisamos aprender, crescer na graça e no conhecimento de Deus.

É natural que os novos convertidos (os neófitos, “folhas novas”) tenham atitudes infantis, mas completamente antinatural que permaneçam com tais atitudes por anos! E muito mais antinatural ainda é vermos pastores que se alegram com tal estagnação! Como pais, os pastores devem se alegrar com o desenvolvimento e se preocupar com qualquer retardo no aprendizado, buscando urgente e prontamente a solução para tal problema. Mas infelizmente não é isso que vemos.

Paulo apóstolo, escrevendo à igreja em Corinto, diz aos irmãos: “não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo. Com leite vos criei, e não com manjar, porque ainda não podíeis, nem, tão-pouco, ainda agora podeis, porque ainda sois carnais…” (1 Co 3:1-3). Mais tarde ele complementa, mostrando qual deveria ser o padrão para uma vida cristã saudável: “Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (1 Co 13:11).

O escritor da epístola aos hebreus, por sua vez, afirma a seus interlocutores: “ …porquanto vos fizestes negligentes para ouvir. Porque, devendo já ser mestres, pelo tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar quais sejam os primeiros rudimentos das palavras de Deus, e vos haveis feito tais que necessitais de leite, e não de sólido mantimento; Porque qualquer que ainda se alimenta de leite não está experimentado na palavra da justiça, porque é menino. Mas o mantimento sólido é para os perfeitos, os quais, em razão do hábito, têm os sentidos exercitados para discernir tanto o bem como o mal” (Hb 5:11-14).

Causa assombro que na igreja, mormente nos dias atuais, encontremos crentes com dois, três, cinco, dez anos de vida cristã, mas que ainda permanecem com atitudes de criança! Como já disse, é natural que nos primeiros meses da caminhada estas atitudes sejam visíveis, mas é inconcebível que após dois anos de Evangelho alguém continue agindo, pensando, falando como menino! Parece que a prioridade de certos líderes é deixá-los na ignorância mesmo, desestimulando a leitura das Escrituras e a busca por conhecimento teológico, enchendo-os de fábulas e ensinando-lhes “gírias gospel” para deixá-los bem meninos, agindo de forma ridícula e imatura!

Causa igualmente assombro vermos igrejas com vários anos, e as mesmas atitudes de criança! Sim, pois o fenômeno não é só do crente, mas da Congregação! Há igrejas com tanta meninice que torna quase impossível que um crente maduro participe de um de seus cultos!

Paulo tinha muito a falar com os coríntios, muito a ensiná-los, mas sabia que não podia, pois os mesmos eram carnais e infantis, e não compreenderiam os seus ensinos! O escritor aos hebreus reclama de ter que repetir ensinos básicos, rudimentares, ao invés de dispensar um ensinamento mais aprofundado. Os mesmos sinais podem ser vistos nos nossos dias. Muitas vezes, queremos dar um alimento mais sólido à igreja, e percebemos que o mesmo não é bem assimilado. Outras vezes, ensinamos coisas básicas (mas que vêm sido ensinadas de forma errada por anos, décadas) mas as pessoas insistem em permanecer no erro e desprezar a verdade!

É verdade que o Senhor Jesus nos ensina que é das crianças o Reino dos céus (Mt 19:14), e que “se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18:3), mas observamos também que, ainda falando aos coríntios, Paulo apóstolo admoesta: “Irmãos, não sejais meninos no entendimento, mas sede meninos na malícia, e adultos no entendimento” (1 Co 14:20). Uma leitura mais cuidadosa do texto de Mateus 18 leva-nos à conclusão de que nunca foi intenção do Senhor Jesus ensinar que precisamos ser IMATUROS, e sim HUMILDES COMO CRIANÇAS (Mt 18:4). Mais uma vez, a simples leitura do contexto explica-nos o versículo seguinte! Mas, infelizmente, este é um dos piores e maiores sinais da imaturidade de nossa geração: nem ler a Bíblia sabe!! Nem a analisar um contexto foram ensinados!!

Assim, um dos maiores desafios da igreja e de seus líderes é desenvolver nas ovelhas uma mentalidade de constante desenvolvimento, crescimento, amadurecimento. Manter as ovelhas imaturas e dependentes pode ser uma forma de deixá-las escravizadas ao “sistema”. Entretanto, ensinar as ovelhas e levá-las à maturidade ainda é o melhor caminho. Afinal, ovelha madura e bem alimentada JAMAIS procurará comida seca e sem substância em outras pastagens!

Comente!