Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo, o interior, contudo, se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória; não atentando nós nas coisas que se veem, mas sim nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, enquanto as que se não veem são eternas.
2 Coríntios 4.16-18

O apóstolo Paulo escreveu 2 Coríntios em um contexto de perseguição que a Igreja estava sofrendo. Ele, como um dos mais destacados ministros de Cristo, com certeza, estaria em evidência. Padeceu fome, nudez, perseguições, sofreu açoites, ameaças de morte, dentre muitas outras tribulações (2 Co 11.23-28). Mas o apóstolo não desanimava em meio a suas aflições. No texto que lemos, vemos Paulo dando a sua razão para isso. Vamos atentar com cuidado nas palavras dele.

16 Por isso não desfalecemos; mas ainda que o nosso homem exterior se esteja consumindo […] Paulo reconhece a sua fraqueza. Ele sabe que é apenas um ser humano. Carne e osso não sustentam a si próprios, mas é de Deus que provém o nosso viver (At 17.28). As aflições sofridas são demonstração da fraqueza e da vulnerabilidade do apóstolo dos gentios. Por isso, diz “o nosso homem exterior se esteja consumindo”. O resultado, no fim das contas, levando em consideração a fraqueza natural do corpo terreno revelada pelo envelhecimento, seria a eventual morte. Talvez por perseguições intensas, como ele já vinha sofrendo, e como, de fato, veio a padecer. Mas a esperança de Paulo se mantinha acesa ao saber que nem a morte poderia separá-lo de Cristo (Rm 8.38-39); ele estava com Ele para sempre.

16 […] o interior, contudo, se renova de dia em dia. Paulo, ao invés de se deixar desfalecer, se regozijava, pois seus olhos estavam no mundo por vir. Ele não labutava dia e noite esperando em Deus apenas nesta vida (1 Co 15.19); ao invés disso, sabia que o que importava era que, como o fogo intenso purifica o ouro, ele estava sendo feito à semelhança de Cristo, renovando o seu interior diariamente, pois o seu sofrimento (sua fraqueza) o fazia se apoiar na força de Jesus.

17 Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós cada vez mais abundantemente um eterno peso de glória; Paulo enxergava o mundo que virá após a morte como incomparavelmente superior à vida terrena. Ele sabia que o que ele padecesse em carne e osso resultaria em glória a Cristo que o trabalho dele proporcionou; ele se gloriava em Deus (2 Co 10.17). E ele seria recompensado por isso, pois a glória de Cristo era o seu deleite. Veja que, diante disso, ele chama a tribulação que sofre de “leve e momentânea”. É claro que Paulo sofria e diversas vezes se angustiava com as aflições (2 Co 1.8), mas ele encontrava paz ao vislumbrar o resultado de sua dor no porvir.

18 não atentando nós nas coisas que se veem, mas sim nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, enquanto as que se não veem são eternas. Podemos usar o pensamento empreendedor como analogia para o que Paulo quer dizer aqui. Quando você investe um capital em uma causa, digamos, para abrir uma empresa, você abre mão de se dispor daquele capital agora na esperança de que, a longo prazo, receba de volta o que investiu e tenha contínuo lucro. Paulo tinha mais do que esperança aqui. Era uma esperança certeira, uma certeza de que as coisas “que se não veem” viriam, e durariam para sempre. O “eterno peso de glória” pelo sofrimento terreno teria eterna duração!

Você consegue entender o que isso significa para nós, hoje? Ainda que padeçamos pelas nossas fraquezas humanas (até um simples escorregão pode nos ser fatal!), há um alvo em que devemos nos atentar. Este alvo é Cristo. Atribuir glória a Ele nos gerará uma satisfação imensa, que será nossa própria glória. Nos gloriamos na glória do Cordeiro Pascal. Se você passa por aflições pelo Nome de Cristo, se alegre, não temas. Há um eterno “peso de glória” que virá disso. Ou, se você não se dispõe a isso, preferindo ser “livre” das implicações de seguir o Evangelho, cuidado. Quando a empresa der certo, você vai querer ter investido o seu capital.

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