A Escritura Sagrada exige que quando possível tenhamos paz com todos os homens, mas nunca em detrimento da verdade (Rm 12:18). No comum e corrente discurso de tolerância, inclusive no meio evangélico, repreender é sinônimo de desamor e arrogância. Não seja ingênuo, isto é resultado da mentalidade cultural predominante! É engraçado como todos reivindicam a verdade dos anunciantes, professores e políticos, e esta independentemente do seu grupo teórico, exige-se que todos sejam correspondentes aos fatos. A inexatidão ou incoerência é um pecado imperdoável quando se afeta o bolso!

Mesmo entre relativistas teóricos, que querem fazer areia da verdade, existem momentos de contradições práticas. Imagine como exemplo o Cristianismo, se ele é verdadeiro, então, todas as demais religiões que o contradiz são necessariamente falsas, e neste caso não é possível existir um meio termo, pois isto seria sincretismo, e conseqüentemente, a negação da fé cristã. Se o relativismo for aplicado ao discernimento da verdade, aceitando a pacífica convivência de inverdades e contradições como sendo apenas meras interpretações diferentes da verdade, então, estaremos negando Àquele que é a fonte da verdade e lançando o fundamento do caos em nossas mentes! Dentro da mesma linha de pensamento, se por hora, deixarmos a epistemologia e, nos voltarmos para a ética, teremos um problema prático ainda maior, porque contradições não são apenas equívocos, ou confusão semântica, de fato são mentiras e dependendo do caso, é puro dolo. Olhe que alguém pode ter que indenizar, ou até ser preso! Por implicação, podemos concluir que, uma falsa idéia sobre a verdade oferece um conceito falso da vida. Por isso Gordon H. Clark reconhece que “não existe uma antítese entre verdade intelectual e moralidade como superficialmente algumas mentes imaginam. Uma mentira, que é a negação da verdade, é imoral. Ela é pecado por pensar incorretamente. (…) Não pode existir tal coisa como moralidade, a menos que existam verdadeiros princípios morais. Moralidade depende da verdade”.

Numa reação imprópria os pós-modernistas acusam de orgulho a convicção de uma verdade absoluta. Posturas firmes, inteligentemente bem articuladas, evidenciadas pela pesquisa e de polida argumentação, sofrem a acusação de que a segurança conceitual é mero pedantismo sectário. Que absurdo! O pluralismo acusa a convicção de soberba. É um erro usar a palavra arrogância para se referir à convicção, e a humildade significando dúvida. Perceba que está na moda ser humilde, isto é, ter incertezas até do óbvio.

Repete-se o que G.K. Chesterton escreveu há um século. Ele declara que “o que sofremos hoje é de humildade no lugar errado. A modéstia se afastou do setor da ambição e se estabeleceu na área das convicções, o que nunca deveria ter acontecido. Um homem devia mostrar-se duvidoso a respeito de si mesmo, mas não acerca da verdade; isso foi completamente invertido. (…) Existe uma humildade característica de nossa época; acontece, porém, que ela é uma humildade mais venenosa do que as mais severas prostrações dos ascéticos… A velha humildade fazia que o homem duvidasse de seus esforços, e isto, por sua vez, o levaria a trabalhar com mais empenho. Mas a nova humildade torna o homem duvidoso a respeito de seus alvos; e isto o faz parar de trabalhar completamente… Estamos a caminho de produzir uma raça de homens tão mentalmente modestos que serão incapazes de acreditar na tabuada de multiplicação”.

É bom esclarecer que quando ataco o pós-modernismo não estou, em contrapartida, aceitando ingenuamente o ultrapassado modernismo. No desdobramento da história, o período anterior ao que vivemos, não foi melhor para o Cristianismo do que o presente. Numa leitura esclarecedora Os Guiness observa que “onde o modernismo era um manifesto de autoconfiança e auto-bajulação humana, o pós-modernismo é uma confissão de modéstia, se não de desespero. Não há verdade nenhuma; somente verdades. Não há nenhuma grande razão; somente razões”. O conhecimento e o discernimento da verdade era considerado como possível no modernismo, e é este ponto de concordância que acentuo.

Numa conferência no Brasil, John MacArthur Jr. declarou que “a heresia vem montada nos lombos da tolerância”! De fato, os ventos frios do engano não vêm como tormentas, mas como suaves brisas entre as frestas da janela dos desatentos livres pensadores. O abandono da Escritura, como única fonte e regra de fé e prática, abre para as mais extravagantes possibilidades de desvios. Para ilustrar esta afirmação basta apenas que recordemos do movimento teológico liberal no século XIX. Não esqueçamos que a preocupação destes teólogos era abandonar o Cristianismo clássico e substituí-lo, por um novo sistema de crenças, transformado e adaptado para uma nova realidade, relevante aos reclames de uma sociedade que não queria submeter-se ao senhorio de Cristo, mas, ansiava os benefícios da religião cristã e da filosofia naturalista. Entretanto, ao adulterar o evangelho, o liberalismo teológico perdeu a sua essência cristã, despojando-se dos seus fundamentos. Repudiando a teologia liberal, o neo-ortodoxo H. Richard Niebuhr descreveu a sua essência, afirmando que ela apregoa “um Deus sem ira que levou homens sem pecado a um reino sem julgamento pelo ministério de um Cristo sem cruz”. O discurso liberal de tolerância acompanhava o esforço de adaptar a antiga fé cristã. Apesar de toda linguagem e terminologia da teologia clássica, tanto o liberalismo como a neo-ortodoxia, estão vazios da semântica divina, bem como dos seus resultados sobrenaturais.

O Senhor Jesus é o nosso exemplo de humildade e de vigorosa fidelidade à verdade (Jo 13:14-15). Antecipadamente o profeta Isaías declarou que em Cristo “dolo algum se achou em sua boca” (Is 53:9). O nosso redentor, que é o revelador da verdade, disse que: “se vocês permanecerem firmes na minha palavra, verdadeiramente serão meus discípulos. E conhecerão a verdade, e a verdade os libertará” (Jo 8:31-32, NVI; veja também Mt 11:27; Hb 1:1-3). Em momento algum, o Filho de Deus foi tolerante com os falsos mestres de seus dias (Mt 23:1-36), nem os apóstolos adotaram esta postura com a mentira e o engano. Mas, infelizmente o evangelicalismo sofre duma crise de infidelidade.

Como resultado da influência do pós-modernismo no meio das igrejas evangélicas James M. Boice e Philp G. Ryken constatam que “o que uma vez foi falado das igrejas liberais precisa ser dito das igrejas evangélicas: elas buscam a sabedoria do mundo, crêem na teologia do mundo, seguem a agenda do mundo, e adotam os métodos do mundo. De acordo com os padrões da sabedoria mundana, a Bíblia torna-se incapaz de alimentar as exigências da vida nestes tempos pós-modernos. Por si mesma, a Palavra de Deus seria insuficiente de alcançar pessoas para Cristo, promover crescimento espiritual, prover um guia prático, ou transformar a sociedade. Deste modo, igrejas acrescentam ao simples ensino da Escritura algum tipo de entretenimento, grupo de terapia, ativismo político, sinais e maravilhas – ou, qualquer promessa apelando aos consumidores religiosos. De acordo com a teologia do mundo, pecado é meramente uma disfunção, e salvação significa desfrutar de uma melhor auto-estima. Quando esta teologia adentra a igreja, ela coloca dificuldades em doutrinas essenciais como a propiciação da ira de Deus, substituindo-a com técnicas e práticas de auto-ajuda. A agenda do mundo é a felicidade pessoal, assim, o evangelho é apresentado como um plano para a realização pessoal, em vez de ser a caminhada de um comprometido discipulado. Para terminar, vemos que os métodos do mundo nesta agenda egocêntrica são necessariamente pragmáticos, sendo que as igrejas evangélicas estão se esforçando a todo custo em refletir o modo como elas operam. Este mundanismo tem produzido o ‘novo pragmatismo’ evangélico”.

Esta é uma briga que terá continuidade. Entretanto, apenas precisamos permanecer firmes na verdade, ou seja, persistentemente fiéis à Escritura Sagrada (Gl 1:6-9; 2 Ts 2:7-12).

Autor: Ewerton B. Tokashiki

Fonte: Bereianos

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