Tem misericórdia de mim, ó Deus, por teu amor; por tua grande compaixão apaga as minhas transgressões.
Lava-me de toda a minha culpa e purifica-me do meu pecado.
Salmos 51:1,2

O conceito de culpa é execrado pelas pessoas por uma razão bem clara: ele se contrapõe frontalmente ao desejo de ser feliz. Pois a culpa gera tristeza, e a tristeza é adversária da felicidade.

Assim, a ideia de sentir culpa pode ser algo benéfico por algum tempo – como resultado da ação graciosa de Deus (e não em oposição à graça) – é ofensiva ao conceito de felicidade de nossa época. Afinal, você e eu queremos seguir Jesus para ser felizes, fugir da tristeza, livrar-mos de toda culpa e alcançar o máximo de alegria que a vida com Cristo poderia nos proporcionar.

O anseio por felicidade na vida cristã é legítimo. Contudo, até chegarmos ao momento em que seremos plenamente felizes, teremos de enfrentar muitas dores – entre elas a culpa e a tristeza. O Evangelho não nos promete uma vida terrena isenta de dificuldades1. No que tange ao papel da culpa no processo de levar o pecador ao arrependimento, a sequência é:

  1. O cristão peca.
  2. O Espirito Santo o convence do seu pecado.
  3. Esse convencimento faz brotar no coração de quem pecou, advinhe você, culpa2
  4. A percepção dessa culpa leva ao arrependimento mediante a ação graciosa do Espírito Santo.
  5. A confissão do pecado aciona a ação intercessória de Cristo junto ao Pai, e o pecado é apagado.
  6. A consicência de ter recebido o perdão de Deus produz tranquilidade, gratidão e alegria no coração do pecador. O sentimento de culpa cessa.

Quando o profeta Natã mostra a Davi que ele é réu de pecado, o rei, assolado pelo seu sentimento de culpa, escreve: “Livra-me da culpa dos crimes de sangue, ó Deus, Deus da minha salvação! E a minha língua aclamará por justiça!”3

Precisamos abandonar o conceito freudiano de culpa como elemento destruidor e passar a abraçar o conceito bíblico de culpa como elemento transformador. Para Freud, a culpa gera neuroses. Para o Deus da graça, a culpa leva ao arrependimento dos pecados – e, com isso, à felicidade na vida com Cristo.

A culpa age como um combustível para buscarmos, com a mesma contrição de Davi, o Deus Todo-Poderoso que… nos livra da culpa! E, somente mediante esse contato, deixaremos de ser escravos dela – por meio da ação perdoadora, reconciliadora e justificadora do Jesus ressurreto.

Assim, por mais estranho que possa parecer, é justamente a culpa que, pela ação da graça de Deus, nos livrará da culpa. E isso sim é graça: ser culpado mas ser absolvido da culpa sem nenhum merecimento. Pois tudo é mérito cruz.

 

Por Maurício Zágari
Perdão Total (Editora Mundo Cristão)


1. João 16.33; Atos 14.22; Romanos 5.3
2. Salmos 38.18; Salmos 51.2
3. Salmos 51.14

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