Eles vagam de montanha em montanha, de site em site, de artigo em artigo, contribuindo com seus pensamentos não solicitados e comentários que revelam que eles mal leram o conteúdo. Eles “criticam muito e meditam pouco”. Sentados em casa, eles se enfeitam com perucas prateadas e roupas escuras e mantêm um olhar apático. Eles se auto intitulam juiz, júri e carrasco.
Nos velhos tempos, suas táticas de guerra teriam que penetrar a sala da redação e a editoria para chegarem ao público em geral; mas, agora, podem criticar suas vítimas impiedosamente com um clique. E é justamente isto que fazem. Podem golpear suas vítimas pelas costas, sem o menor incômodo de olhá-las nos olhos, voltando, logo depois, a assistir Netflix. Podem ser vulgares, grosseiros, implacáveis. Saul fez milhares de vítimas; Davi, dezenas de milhares; e os trolls da internet, centenas de milhares.
Será Que Comentamos Como os Incrédulos?
Agora, os cristãos não devem arfar cada vez que os trolls, que escolhem brigas e semeiam discórdia online, falam e escrevem as chacotas que vêm do seu amargo coração. Não nos surpreende que sapos e mosquitos saiam de pântanos. Mas devemos ficar surpresos com ratos saindo do palácio do Espírito de Deus; com poluição constante procedendo do rio da vida, vindo do coração do crente.
Alguns de nós, como Saulo antes de Damasco, temos sido perseguidores online da igreja de Deus. Em vez de usar nossos comentários para edificar nossos irmãos e irmãs, afiamos os nossos machados para cortar fora a cabeça deles. Com nossos insultos e um discurso impulsivo, recusamo-nos a atender o chamado categórico de nosso Mestre: “O meu mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.” (João 15.12). Aquele que entregou a própria vida por nós nos conclama a imitar sua paixão. Mas muitas vezes, não abrimos mão de nossos insultos – muito menos de nossa vida – por nossos irmãos.
Não estou dizendo que não devemos avaliar ou, mais especificamente, criticar. Devemos observar cuidadosamente nossa doutrina (1 Timóteo 4.16); devemos falar a verdade uns aos outros em amor (Efésios 4.15) – uma verdade que seja difícil de ouvir deve portanto ser dita com amor. Mas um espírito de acusação e crítica não é o espírito de Cristo.
O coração regenerado é mais encorajador que crítico. Charles Spurgeon descreve o crente implacável como alguém capaz de criticar os próprios apóstolos:
“Nada os agrada. Eles distribuem provocações sem se importarem com nada. Cefas é franco demais, Apolo é rebuscado demais, Paulo é contestador demais, Timóteo é jovem demais, Tiago é severo demais, João é brando demais… Bem, que cada servo de Deus proclame sua mensagem à sua maneira. À seu próprio Mestre deverão prestar contas.”
E devemos nos lembrar que, se alguém se colocará perante seu Mestre, esta pessoa não deve ser criticada por seu irmão. Não devemos postar e resmungar, fingindo não saber que Deus quer que estendamos a mão, em vez de só piorar o problema. Não nos cabe ficar murmurando como Salomão: “Esta publicação é vaidade! Este artigo é vaidade! Não há nada de novo debaixo do sol!”. Em vez disso, vamos mostrar ao mundo algo diferente.
Saiam de Suas Tocas
Ao ler nossos comentários, o mundo deve ver o respeito e o amor que diferenciam os filhos de Deus, dos filhos do diabo (1 João 3.10). Não me refiro a passarmos a mão na cabeça das pessoas, mas sim a oferecermos julgamentos sóbrios e caridade, a cultivarmos um coração satisfeito em Deus, de forma a publicarmos encorajamentos que mostram que Deus nos instruiu a amarmos uns aos outros (1 Tessalonicenses 4.9).
Em Cristo, somos chamados a ser “filhos de Deus inculpáveis no meio de uma geração pervertida e corrupta, na qual resplandeceis como luzeiros no mundo” (Filipenses 2.14-15). Quem poderá oferecer luz e alegria se ficarmos conhecidos por murmúrios e contendas gratuitas na internet?
Observações muito sábias podem estar perdidas no meio desse monte de comentários horríveis. Então, se você é um sábio espiritual lançando verdadeiras ideias espirituais misturadas com lama, convido você a deixar de lado sua infantilidade e a analisar melhor. Não estou declarando guerra contra você. Na verdade, pretendo ganhar você. Necessitamos de seu conhecimento afiado, seu olhar cuidadoso e sua ousadia para falar.
Se você for a mão, não arranque o olho. Se for o calcanhar esquerdo, não esmague o dedo do pé direito. Que seu discurso seja temperado com sal, e não com cianeto, de modo que, quando você atingir a nota adequada, o mundo não escute um “bronze que soa”. Ainda que conheça todos os mistérios e toda a ciência, se não tiver amor, você – e não apenas o seu discurso – não será nada. (1 Coríntios 13.2).
A verdade não é contrária ao amor. Aliás, elas são irmãs. E assim deve ser em nosso discurso. A própria edificação da Igreja depende disso:
“Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta, segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor.” (Efésios 1.16-19)
Questões a Considerar Antes de Comentar
Então, como devemos comentar? Veja alguns exemplos de perguntas que podemos fazer a nós mesmos antes de publicar:
- Meu comentário provem de uma alma satisfeita em Deus ou do meu descontentamento?
- Eu orei por esta pessoa a quem estou prestes a responder?
- Fiz esforço para entender o que ela quer dizer?
- Eu amo esta pessoa (1 Pedro 2.15-17), mesmo que ela pareça ser inimiga (Mateus 5.43)?
- Será que estou apenas tentando competir com ela?
- Como eu colocaria esta crítica se tivesse que fazê-la cara a cara?
- Posso fazer minha crítica em particular, em vez de publicamente?
- Como posso dizer isto de modo edificante não apenas para a pessoa, mas também para os leitores?
- Esta crítica específica é necessária neste momento?
- Será que posso estar errado?
- Estou semeando discórdia ou alegria?
Novamente, o discurso amoroso não significa que nunca podemos dizer algo que possa ofender. Tampouco deve levar a um sincretismo “água com açúcar” ou a um silêncio sobre importantes distinções doutrinárias e exegéticas. Jesus confrontou, incomodou, desafiou e repreendeu seus discípulos. Mas Ele também foi para a cruz por eles. E nós devemos amar – na internet ou fora dela – como Ele.
Publicado originalmente em DesiringGod.org.
Traduzido por Renata Jarillo.
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