Este texto é uma ficção baseada no primeiro capítulo do livro de Cântico dos Cânticos.

Capítulo 1 – A Princesa Plebéia

“Ah, se ele me beijasse, se a sua boca me cobrisse de beijos…” Uma jovem moça sussurrava para si mesma, olhando para as estrelas do céu, vívidas como nunca.

Algo dentro de sua alma havia aflorado, e queimava ardentemente dentro dela. Esta noite, a brisa era mais suave, as palavras mais sinceras, o aroma de seu perfume mais profundo. Suas amigas a admiravam e elogiavam, enquanto elas festejavam juntas sob o clarão da lua.

“Estou tão feliz por você. Tenho certeza que você será uma linda princesa.” Rania era sua melhor amiga, companheira desde sua infância.

Todas as amigas se achegavam e desfrutavam de um momento único na vida de qualquer mulher: ser escolhida pelo Príncipe.

“Esta noite,” começou uma mulher gorda e baixinha, de olhos vivos e um sorriso enorme no rosto, “vamos comemorar como nunca! Este amor fará com que todas nós vivamos no palácio do Rei!”

Gargalhadas ecoavam nas ruas escuras de Jerusalém. As mulheres se deleitavam em saber que o príncipe havia declarado seu amor para uma simples plebéia. Ninguém além das moças sabiam deste amor escondido, por isso que a festa era tão mais interessante.

Mas apesar da festa, aquela noite parecia durar eternamente. Para a jovem moça, seu coração batia tão depressa quando pensava em seu amado, que ela queria sair correndo e encontrá-lo nas ruas. Ela queria sentir a doçura daquele perfume que havia a cativado, queria abraçá-lo e nunca mais deixá-lo ir.

O Príncipe era o mais cobiçado de todos os homens na nação. Seus cabelos eram longos e ondulados, seus olhos como jóias preciosas brilhando ao encontro do sol. Sua pele era bronzeada, seu corpo forte e ele poderia ser distinguido entre milhares de homens. A jovem moça era a mais linda de seu vilarejo, mas sua família não era de muitos bens, por isso ela tinha que trabalhar arduamente para ter seu pão diário.

O sol raiou suavemente no horizonte, iniciando a estação do verão.

“Que bagunça é essa, menina?” Disse seu irmão, esbravejando por causa da sujeira na casa.

Ela despertou-se assustada, com seus três irmãos à sua volta. “Minhas amigas vieram aqui ontem.” Ela respondeu, timidamente.

“Você acha que a vida é só sobre festa? Nós trabalhamos o dia todo e você gasta tudo a noite com festas?”

Simão, o irmão mais velho, mantinha seu silêncio, enquanto Joel apontava o dedo na face da jovem irmã.

“Você é muito folgada. Acha que a vida é assim?”

“Pode deixar que eu limpo, não se irrite comigo.”

Simão segurou os dois irmãos inconformados, e decidiu abrir sua boca.

“Minha irmã, você não deveria ter gasto tanta comida e vinho nesta festa.”

“Mas vocês sabem qual a razão?” Ela se levantou, esperançosa de tirar-lhes um sorriso do rosto.

“Não importa a razão. Você passou dos limites. Para compensar isso, você vai trabalhar em nossas vinhas, cada dia da semana em uma diferente. E então pagará por estes custos que você mesmo escolheu em ter.”

Os três irmãos saíram de seu quarto zangados com a moça, que sorriu despreocupada.

“Ah, se eu soubesse onde meu amor faz pastar o seu rebanho, eu iria encontrá-lo ao fim da tarde.”

Ela levantou-se de sua cama, se vestiu apropriadamente e caminhou rumo ao seu infortúnio de trabalhar todos os dias sob o sol escaldante de verão.

“Como sou feliz! Minha pele está queimada, mas minha alegria me faz mais bela que nunca, como as cortinas do Rei.”

A jovem moça trabalhou toda a semana nas vinhas dos irmãos, cumprindo seu serviço. E no fim da tarde do último dia, recebeu uma carta com o selo real. Seu coração palpitava, enquanto suas mãos trêmulas rompiam o lacre do papel. O pôr-do-sol a abraçava, fazendo-a sentir o doce encanto do amor.

A jovem plebéia nunca pensou que viveria um amor tão sincero, tão puro com o Príncipe da sua nação. Sua vida nunca havia sido mais a mesma depois que ela o encontrara. E muito mais agora, que tudo estava prestes a mudar. Ela abriu a carta, e seus olhos umideceram.

Ela haveria de se tornar princesa.

 

To be continued…