Uma das práticas devocionais menos compreendidas e aplicada pelos cristãos é a meditação. A palavra meditação invoca em nossa mente associações com religiões orientais e muitos cristãos a rechaçam sem entender que tal prática é extremamente bíblica quando o objeto de meditação é a palavra de Deus e o que ela revela.
A meditação nada mais é que o coração voltado para Deus e sua palavra. É refletir deliberadamente e seriamente sobre as verdades que já ouvimos. O puritano Thomas Watson define de modo perfeito essa pratica: “A meditação é o ato de a alma retirar-se de si mesma para que, por meio de reflexão séria e solene sobre Deus, o coração seja elevado às afeições celestiais” Andrew Murray completa: “É por meio da meditação que o coração se apropria da palavra de Deus”.
Muitos são os métodos que podemos empregar para meditar na palavra de Deus. Podemos meditar em um texto em específico ou em temas gerais (trazendo a mente versículos que endossam o tema enquanto meditamos). Temas como o amor de Deus Pai, sua sabedoria revelada na criação (quando visitamos um parque ou vemos uma paisagem, por exemplo), a pessoa preciosa santa e amorosa do Senhor Jesus Cristo (contemplando seu caráter e perfeição), o poder explosivo do Espírito Santo, o sacrifico de Cristo na cruz, dentre muitos outros, são um prato cheio para a meditação. Todos esses métodos de meditação nos levarão a contemplação divina, se não desistirmos.
Os benefícios da meditação são muito grandes e há um salmo específico para falar deles. O primeiro Salmo nos diz que o varão que “Tem o seu prazer na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Sl 1:2), “será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, a qual dá o seu fruto no seu tempo; as suas folhas não cairão, e tudo quanto fizer prosperará” (Sl 1.3). Por meio da meditação cresceremos espiritualmente, tendo a alegria de Cristo e a santidade em nosso ser em meio as nossas atividades. Além disso, daremos fruto “ao seu tempo”, ou seja, no tempo certo. Quantos de nós não temos frutificado espiritualmente mesmo tendo muito tempo de caminhada Cristão? Quantos de nós temos demorado a amadurecer? Uma das razões para tal demora pode ser a falta de meditação e imersão na palavra de Deus.
Outro texto que nos mostra a importância da meditação, são as palavras de Deus para Josué no primeiro capítulo desse livro. Josué teria que conduzir o povo até Canaã, cuidando de centenas milhares de pessoas e enfrentando diversas guerras. Que homem atarefado! É natural pensar que ele tinha muitos problemas e a cabeça cheia de coisas para resolver, e que estava liberado do dever de meditar na palavra de Deus. Certo? Errado! Muito errado! A ordem de Deus foi: “Não se aparte da tua boca o livro desta lei; antes medita nele dia e noite, para que tenhas cuidado de fazer conforme a tudo quanto nele está escrito…” Js 1.8. Meditar na lei do Senhor dia e noite! É interessante notar as palavras “para que” nesse versículo. A consequência da meditação seria viver uma vida obediente aos mandamentos de Deus. Só é possível viver uma vida obediente e correta diante de Deus com meditação. Deus sabia que seu servo enfrentaria muitos desafios e tentações, por isso ordenou a meditação como forma de que mantivesse uma vida piedosa, gozando do seu favor. Como escreveu um cristão antigo “A meditação cura a alma do mundanismo”.
Um exemplo prático e maravilhoso da meditação na história da igreja é o do irmão Lourenço, um monge francês do Século 17. Para o Irmão Lourenço, as “obrigações comuns”, sem importar o quanto fossem deste mundo ou rotineiras, eram o instrumento do amor de Deus. Mesmo na cozinha do monastério, ele voltava o coração a Deus a todo momento em meditação amorosa. “Durante os quinze anos que havia trabalhado na cozinha, tudo tinha sido fácil, porque o fez com a oração e movido pela graça de Deus”. Aqueles 15 anos em um trabalho tão comum não haviam sido perdidos, pois ele estava sempre diante do Senhor. Depois da morte de Lourenço, um padre francês, coletou os escritos de Lourenço e os publicou juntamente com as recordações do irmão leigo. Esta obra levou o nome de “A prática da Presença de Deus”, um tesouro em forma de livro.
O grande teólogo John Owen escreveu, nas proximidades de sua morte, um livro chamado “Meditações sobre a glória de Cristo”. Segundo o autor, seu objetivo era estimular a sua própria mente quando a fraqueza, cansaço e a aproximação da morte o estavam chamando deste mundo. Que testemunho precioso o de John Owen, gastar seus últimos tempos de vida meditando nas glórias de nosso Senhor!
Que esses exemplos nos inspirem e que Deus nos ajude a viver uma vida de meditação na Sua palavra. Que sejamos imersos na palavra de Deus de modo que possamos orar com o Salmista: “ Oh! Como eu amo a tua Lei! Nela medito o dia inteiro” Sl 119.97.
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