– Você precisa fazer algo, Vinícius, por favor!

– Vou orar por você.

– Não, eu disse que você precisa FAZER algo, não adianta mais oração, eu vou morrer, vou morrer desse jeito, você não vê?

Filipe era o melhor amigo de Vinicius, e sentia a morte perto. Estava no pior nível de dependência química, tinha crises diariamente, saía de si, e quando voltava gritava por socorro. Apesar de tudo, ele tinha noção do que estava pra acontecer.

Vinícius estendeu sua mão colocou sobre a cabeça de Filipe e começou a orar. O menino nada falava, continuava tremendo e suando frio, seu olhar amedrontado era de cortar o coração. Vinicius segurava o choro e clamava por uma direção de Deus.

De repente, Vinicius abriu os olhos assustado, como alguém que acaba de receber uma instrução de ouro do técnico aos 45 do segundo tempo. Levantou-se rápido e virou pra trás. Viu sua guitarra. Sorriu.

Filipe assustado só conseguia dizer:

– O quê? O que foi…? Cara, não me deixa aqui… Vini, me ajuda…

Vinicius agarrou sua guitarra como se tivesse encontrado um tesouro perdido, tirou uma palheta do bolso, olhou profundamente no olhar perdido do seu amigo.

– Filipe, olha pra mim cara.

– Eu não to agüentando, eu…eu não aguento mais, faz algo por mim pelo amor de D…

– DEUS VAI FAZER, eu vou tocar, e Ele vai fazer! Você acredita? Você acredita nisso cara?

Filipe sacudiu a cabeça positivamente com toda a força que lhe restava no corpo. Era praticamente um morto-vivo largado no chão da garagem onde a banda do amigo ensaiava.

Vinicius respirou fundo, seu semblante era confiante, ele sabia o que estava fazendo.

Começou a tocar sua guitarra, e seu sorriso se abria quando viu que o amigo se levantava. Parecia que uma linha o puxava na vertical, até levantar seu tronco do chão e o deixar de joelhos. Ao refrão da música, Filipe dava gritos que a vizinhança inteira ouvia. Mas não era mais desespero, era libertação. Estava sendo liberto. A medida que a música crescia, Vinicius se virava, sorria apesar do rosto molhado de lágrimas, tocava com mais força. Olhava pra cima. Não era só um menino tocando guitarra. Era uma parceria que ele tinha com o seu MELHOR AMIGO. Sua guitarra não podia nada, mas o seu Deus podia QUALQUER coisa.

Filipe deu o ultimo grito e Vinicius deu sua ultima palhetada.

Acabou.

“Daí em diante, toda vez que o espírito mau vinha sobre Saul, Davi pegava a sua lira e tocava. O espírito mau saía de Saul, e ele se sentia melhor e ficava bom novamente.” 1 Samuel 16:23

Comente!