Deus nunca ignora seus filhos. Ele nunca está ocupado demais. Nunca com falta de recursos. Nunca confuso. Nunca indisposto. Ele está sempre atento. É sempre gentil. Sempre atento. Sempre sábio. Sempre amoroso. Ele ouve todos os pedidos de seus filhos humildes e confiantes e responde com o que for melhor. Sempre vale a pena orar. Sempre.

Isso não significa que uma vida de oração não seja desconcertante. Meu objetivo é encorajá-lo em suas orações, respondendo a três perguntas especialmente difíceis: (1) O que significa pedir coisas a Deus “de acordo com a vontade dele”? (1Jo 5.14). (2) Por que somos instruídos a não orar pelo perdão do “pecado para morte”? (1Jo 5.16). (3) O que “aquilo” significa em 1 João 3.22, quando diz: “aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável.”? Penso que uma resposta baseada nos textos, para cada uma dessas perguntas, é um grande incentivo para orar.

Eu me concentro nessas três perguntas porque, ao tentar responder a primeira, percebi que o contexto também levava a respostas para as outras duas. Aqui está o texto que levanta e responde as duas primeiras perguntas:

“E esta é a confiança que temos para com ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que obtemos os pedidos que lhe temos feito. Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue. Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte. Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca.” (1Jo 5.14-18).

Duas Vontades em Deus

O que “segundo a sua vontade” significa no versículo 14? “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. Existem dois significados possíveis para a “vontade de Deus” encontrados na Bíblia. Por um lado, a vontade de Deus é o que ele ordena, ou o que ele nos diz que é certo fazer. Por outro lado, a vontade de Deus é o que Deus decide que acontecerá. Podemos chamar o primeiro significado de vontade preceptiva. E o segundo que podemos chamar de vontade decretiva de Deus.

Por exemplo, você pode ver a vontade decretiva de Deus em Efésios 1.11: “daquele [Deus] que faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade”. Ou em Tiago 4.15: “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”.  Nos dois textos, a vontade de Deus se refere ao controle de Deus sobre tudo o que acontece: “Todas as coisas”. Permanecer vivo e fazer “isto ou aquilo”. Esta é a vontade decretiva de Deus. Tudo o que acontece é a vontade de Deus nesse sentido. “No céu está o nosso Deus e tudo faz como lhe agrada”. (Sl 115.3; cf. Sl 135.6).

Por outro lado, você pode ver a vontade preceptiva de Deus, por exemplo, em 1 João 2.17: “aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente”. Ou em Marcos 3.35: “Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.” Ou 1 Tessalonicenses 4.3: “Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação”. Podemos ver que “vontade de Deus”, nesses versículos, não significa “tudo o que acontece”. Refere-se ao que Deus ordena que é certo para que façamos.

O fato de haver duas maneiras bíblicas de falar da “vontade de Deus” significa que um único ato pode ser a vontade de Deus em um sentido, mas não em outro. Por exemplo, era claramente pecaminoso e contrário à vontade preceptiva de Deus que homens inocentes fossem crucificados. Deus ordenou: “Não matarás” (Êx 20.13). Mas os homens assassinaram Jesus, de acordo com o plano de redenção de Deus. Isaías 53.10 diz: “ao SENHOR agradou moê-lo, fazendo-o enfermar”. E Atos 4.28 diz que esses assassinos (Herodes, Pilatos, gentios, judeus) fizeram “tudo o que a tua mão e o teu propósito [de Deus] predeterminaram”. Portanto, o assassinato de Jesus foi a vontade de Deus no sentido de sua vontade decretiva, mas não a vontade de Deus no sentido de sua vontade preceptiva.

Agora, qual delas é intencionada quando João escreve: “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”? (1Jo 5.14).

As pessoas nascidas de novo pecam?

A resposta é encontrada enquanto continuamos lendo o texto, no versículo 16:

“Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue”.

Essa preocupação a respeito do “pecado para morte” e “pecado não para morte” faz parte da preocupação maior de João nesta carta. Do começo ao fim, João está preocupado em se proteger contra dois erros opostos: (1) tratar levianamente o pecado em curso e (2) causar desespero já que, se um crente pecar, ele estará perdido. Ambos são erros.

Parece que algumas pessoas da comunidade de João pensam que você pode continuar pecando e ainda nascer de novo. Outros parecem pensar que, se você nasceu de novo, não tem nenhum pecado em sua vida. Para o primeiro grupo, João diz: “Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado” (1Jo 3.9). Para o segundo grupo, ele diz: “Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos” (1Jo 1.8). Em outras palavras, os cristãos pecam, mas os cristãos não permanecem na prática do pecado. As pessoas nascidas de novo confessam seus pecados como abomináveis (1Jo 1.9) e fazem guerra contra suas tentações (Rm 8.13).

Pecado para morte

Portanto, quando chegamos a 1 João 5.16 e lemos sobre dois tipos de pecados, não devemos nos surpreender. Um tipo “é para morte”. E o outro tipo “é não para a morte”. João não está se referindo a um pecado em particular. Mas, a que, então, ele está se referindo quando diz: “existe pecado [não um pecado] para morte”?

O versículo 18 dá a pista. Logo após dizer: “Há pecado para morte” (v. 16) e “há pecado não para morte” (v. 17), João diz:

“Sabemos que todo aquele que é nascido de Deus não vive em pecado; antes, Aquele que nasceu de Deus o guarda, e o Maligno não lhe toca.” (1Jo 5.18).

Portanto, o pecado que não leva à morte é o pecado daqueles que “nasceram de Deus”, mas cujo pecado é retido por Jesus. Jesus protege e sustenta os seus. Ele retém o pecado deles. Ele não os torna perfeitos nesta vida. Mas ele também não os abandona ao poder do pecado. Ele os protege. E o maligno não os toca no sentido de trazê-los à ruína.

Isso implica, então, que “o pecado para morte” é o pecado daqueles que não nasceram de Deus. O pecado deles não é retido por Jesus. De fato, eles não são verdadeiros crentes. Eles podem fazer parte da igreja por um tempo, mas dão lugar a padrões pecaminosos e desaparecem. João os descreve em 1 João 2.19:

“Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos”.

A razão pela qual digo que eles não são verdadeiros crentes é que João diz: “Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo é nascido de Deus” (1Jo 5.1). Em outras palavras, a fé salvadora é um sinal de que alguém nasceu de Deus, e acabamos de ver em 5.18 que aqueles que nasceram de Deus são guardados por Jesus. Ele não os deixa permanecer pecando – isto é, ele os impede de cometer “pecado para morte”.

Portanto, o que posso concluir de 1 João 5.8, e do contexto mais amplo de 1 João, é que “o pecado para morte” não é um pecado específico, mas um padrão de pecado desenfreado que leva alguém a se afastar de Cristo mostrando que nunca nasceu de novo (1Jo 2.19; 5.1,18). Portanto, ele “é para morte”, no sentido de que leva à destruição. À ruína final. Ao inferno.

“Por esse não digo que rogue”

Agora, estamos em posição de voltar e ver como o versículo 16 (“Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue”), lança luz sobre o significado do versículo 14 (“se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”). Esse versículo se refere à vontade decretiva de Deus ou à sua vontade preceptiva?

Para responder a isso, devemos perguntar por que João escreve: “por esse [pecado para morte] não digo que rogue”. A razão é que não faz sentido. A oração seria por arrependimento, perdão e vida (como no v. 16a). Mas João deixou claro que esse pecado leva à morte. Não haverá vida. Esse é o objetivo de dizer que há pecado para morte. Se alguém pudesse orar com sucesso pela vida, o pecado não seria o pecado para morte.

Agora, aqui está a implicação para o significado de orar “segundo a sua [de Deus] vontade”. É claramente a vontade preceptiva de Deus que oremos pelos pecadores para que se arrependam e sejam salvos. Paulo disse: “Irmãos, a boa vontade do meu coração e a minha súplica a Deus a favor deles são para que sejam salvos.” (Rm 10.1) – incluindo aquele que é “anátema, separado de Cristo” (Rm 9.3). E ele orou pelos crentes, para que eles fossem “conservados íntegros e irrepreensíveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Ts 5.23).

Então, se é “segundo a sua [de Deus] vontade” que oremos pelas pessoas desviadas, por que João diz: “por esse [pecado para morte] não digo que rogue”? A resposta é porque Deus não pretende salvá-los. Eles cruzaram a linha. São como Esaú em Hebreus 12.17, que pecou de tal maneira que ele não podia se arrepender e encontrar perdão.

Em outras palavras, não é a vontade de Deus salvar aqueles que pecaram o “pecado para morte”. Ele não lhes concederá arrependimento. Sua vontade decretiva é deixá-los ir. Nenhuma oração vai mudar isso.

De acordo com a vontade decretiva

Mas por que João diz diretamente: “por esse não digo que rogue”, em vez de dizer: “Não digo que se deva orar por esse”? É porque ele não assume que sempre podemos saber quem são essas pessoas. Mandar-nos não orar por eles implicaria que sempre podemos reconhecê-los. Mas não podemos. Nem sempre podemos dizer quando alguém pecou a ponto de estar além do arrependimento. Então, João apenas diz que orar por eles seria ineficaz. A vontade de Deus é deixá-los ir. “Não digo que se deva orar por esse”.

O que significa que, se você pedir por arrependimento e perdão, não o receberá.

Mas os versículos 14-15 dizem: “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve”. Portanto, não entendo “segundo a sua vontade” como “segundo a sua vontade [preceptiva]”, porque, como vimos, é de acordo com a vontade preceptiva dele que devemos sempre orar por santos desviados e incrédulos. Em vez disso, entendo “segundo a sua vontade no versículo 14 como “segundo a sua vontade [decretiva]”, porque o versículo 16 mostra que Deus decretou não salvar essas pessoas. Portanto, você não precisa orar por eles e, se o fizer, não receberá o que pede. Não está de acordo com a vontade decretiva de Deus.

Portanto, quando João diz: “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve” (1Jo 5.14), ele quer dizer: “Se pedirmos algo que esteja de acordo com o plano onisciente de Deus – seus oniscientes decretos para o mundo – ele nos ouve e concede o nosso pedido”.

Isso não torna a oração inútil

Uma resposta comum a essa conclusão é que ela parece tornar a oração inútil, porque a oração respondida ocorre somente quando Deus decretou que algo seria feito. O evento decretado não aconteceria de qualquer maneira? Então, por que orar?

Mas esse tipo de resposta não vem de cuidadoso pensamento bíblico. Pensamentos cuidadosos veriam que Deus realmente faz as coisas em resposta à oração. “Nada tendes, porque não pedis;” (Tg 4.2). Deus deseja que os eventos sejam causados pela oração. E um cuidadoso pensamento bíblico também veria que, assim como Deus decreta os efeitos, ele também decreta as causas desses efeitos. Como ele decreta os fins, ele também decreta os meios. Como ele decreta que um santo perdido se arrependa e volte, ele decreta as orações que o trazem de volta.

A oração é uma causa real de eventos reais neste mundo. Deus quis que fosse assim. E assim é.

“Porque fazemos o que lhe é agradável”

Agora, e a nossa terceira pergunta? O que “aquilo” significa em 1 João 3.22, quando diz: “aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável”? A resposta está ligada ao que vimos.

Uma condição diferente é estabelecida para a oração respondida aqui em 3.22 em relação ao previsto em 5.14. A condição era que a resposta à oração chegará, se orarmos de acordo com a vontade de Deus – de acordo com o plano onisciente de Deus, com sua vontade decretiva. Aqui a condição é que a resposta à oração venha se “guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável”.

Como essas duas condições andam juntas?

O que agrada a Deus é a submissão alegre à sua soberania

Aqui está minha sugestão. A condição de 3.22 inclui a condição de 5.14. Ou seja, fazer o que agrada a Deus inclui submeter-se consciente e alegremente à vontade decretiva de Deus. Este decreto será sempre a resposta mais sábia e amorosa às nossas orações.

João diz que tudo o que pedimos receberemos, se “fazemos diante dele [Deus] o que lhe é agradável”. Quando se trata especificamente de oração, pelo menos estas três coisas:

  1. De acordo com 1 Pedro 5.6, é agradável a Deus que sejamos humildes diante dele: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus” Por isso, agrada a Deus admitirmos, de bom grado, que não somos Deus. Não estamos em condições de governar o mundo ou de tirar as rédeas do universo das mãos de Deus.
  2. De acordo com Tiago 3.2, “todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão”. Agrada a Deus que admitamos isso. E as palavras “no falar” incluem “o que ele falar em oração”. Não nos tornamos, de repente, perfeitos quando oramos. Somos finitos e falíveis. Nós cometemos erros. Deus fica satisfeito quando seu povo admite isso.
  3. De acordo com Tiago 4.15, os cristãos deveriam dizer: “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”. Devemos dizer isso. Ou seja, é agradável a Deus, quando realmente dizemos (em oração!): “Se o Senhor quiser, não só viveremos, como também faremos isto ou aquilo”.

Dessas três descrições bíblicas, do que agrada a Deus quando oramos, parece-me que a condição que devemos cumprir, de acordo com 1 João 3.22, para recebermos aquilo pelo que oramos, inclui a condição que devemos cumprir em 1 João 5.14. A condição é a seguinte: “se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, [decretiva] ele nos ouve”. Estou sugerindo que implícita nessa condição está a disposição agradável a Deus de abraçar as respostas decretadas por Deus com confiança de que elas são as melhores. Em outras palavras, o que agrada a Deus é uma mente humilde que confessa nossa finitude e falibilidade e diz: “Se o Senhor quiser, as pessoas pelas quais oramos não somente viverão, como também farão isto ou aquilo”.

O que é melhor para nós

Qual é, então, a resposta para a nossa terceira pergunta – O que “aquilo” significa em 1 João 3.22, quando diz: “aquilo que pedimos dele recebemos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos diante dele o que lhe é agradável”?

O significado de “aquilo” é moldado pelo plano onisciente, abrangente e amoroso de Deus para o bem de seus filhos e a glória de seu nome. Por “moldado”, quero dizer limitado ou expandido, adiantado ou atrasado, purificado e completo, mas nunca ignorado. Se pedirmos pão, ele não nos dará uma pedra, mas pode nos dar bolo, pão de milho ou óleo de fígado de bacalhau. Se pedirmos um peixe, ele não nos dará uma cobra, mas pode nos dar bife, ensopado ou lutefisk (Mt 7.9-11).

Ele é nosso pai. Seus recursos são infinitos. Seu amor é perfeito. Sua sabedoria é insondável. Ele nunca está em prejuízo. Portanto, ele só nos dará o que é bom para nós (Rm 8.28,32; Mt 6.33). É isso que penso que seja o que “aquilo”, em 1 João 3.22, significa.

Portanto, seja encorajado a orar. Decida agradar ao Senhor com toda humildade, admitindo sua falibilidade e submetendo-se ao plano perfeito e a seus decretos oniscientes. Ele decretou milhões de coisas para fazer em resposta à oração. Nossas orações são verdadeiras causas dos eventos que Deus planejou – assim como acionar um interruptor de luz é a verdadeira causa de ter luz na sala, abrir a torneira é a verdadeira causa de termos água na pia, ou manusear um martelo é a verdadeira causa real de uma unha afundada. É absolutamente verdade que “Nada temos, porque não pedimos” (Tg 4.2). Então peça. Mantenha a palavra de Deus. Faça o que lhe agrada. E peça.

Claro que existem coisas que ele não fará. Esse foi o ponto de 1 João 5.16. Ele não nos proíbe de orar por eles, porque nem sempre podemos saber o que são. Mas ele nos diz que apenas seus sábios decretos serão cumpridos. E ele nos chama para agradá-lo, sendo humildemente submissos à sua soberania no que ele faz acontecer. Portanto, sempre vale a pena orar. Sempre.

Autor: John Piper

Fonte: Voltemos ao Evangelho

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