“Se Deus não existe, tudo é permitido” foi a frase cunhada pelo escritor russo Fiódor Dostoiévski há quase dois séculos. Não houve um tempo em que essa frase foi tão levada a sério (i.e. praticada) do que o tempo atual. Claro, há quase um século houve genocídios sem precedentes, no entanto, (1) todos tinham uma noção clara de que eles eram (extremamente) errados e (2) eles só foram feitos sob a justificativa de um bem maior – o que é uma “desculpa” para aliviar a consciência.
O problema de nosso tempo é que, enquanto discutíamos, dentro das igrejas, interpretações bíblicas básicas e, fora das igrejas, se esse ou aquele partido era o melhor, uma revolução silenciosa, porém não menos poderosa, ocorreu. Ela não veio anunciando sua chegada com tomada de bastilhas ou guerreando pela mentalidade momentânea. Não, de forma sorrateira ela foi se infiltrando nos jovens, sem pressa, pois sabia que venceria. Seu meio de locomoção permitiu um alcance sem precedentes. Se não está claro ainda, falo acerca da revolução sexual.
Sim, hoje temos uma comunidade não-heterossexual gigante – isto não é dizer que antes eles não existiam, afinal, Paulo em Romanos 2 alerta contra a homossexualidade, porém é constatar que seu número nunca foi tão grande. Ainda assim, eu diria que esse é um fenômeno secundário, um subproduto do verdadeiro problema. Restringirei esse texto ao que eu considero ser o efeito mais nocivo da revolução sexual: a normatização da pornografia.
Se você não acredita que a pornografia está normatizada, deixe-me apresentar alguns dados. Cerca de 30% de todo o tráfico da internet se deve à pornografia.[1] O maior site de pornografia do mundo, que orgulhosamente revela suas estatísticas, alegar possuir 75 milhões de usuários por dia – sendo que o Brasil está em 8° nesse ranking. A idade mais cedo com que meninos têm acesso à pornografia agora é de oito anos. Vou repetir, oito anos. A cada segundo trinta mil pessoas estão assistindo pornografia. Por fim, em 2015, em um único site de pornografia, foram assistidos 4,4 bilhões de horas de vídeos. E esses dados não consideram a imensa cadeia de pornografia criada através das redes sociais por “amigos”.
Então, sim, a pornografia é a norma, principalmente entre os jovens. Porém, isso faz alguma diferença? Como cristãos sabemos que isso constitui pecado e, portanto, logicamente traz consequências nefastas (sendo a morte a última) – afinal, você acha que Jesus mandou cortar fora a mão direita e arrancar o olho em vão (Mt 5:29-30)? O problema surge tanto desse consumo desenfreado quanto a partir da seguinte estatística.
Dentre os 100 vídeos mais assistidos de pornografia, 90% contém ao menos uma cena de agressão (física ou verbal) à mulher, sendo que a média é de 12 por cena. E as agressões vão além de xingamentos chegando até a espancamentos e enforcamentos. Além disso, há muitos dados falando acerca do atentado emocional e físico que isso é às “atrizes” que são estupradas e abusadas diariamente. Recentemente, um diretor de filmes pornô postou no Twitter a foto de uma clínica de tratamentos urgentes de um hospital com a seguinte frase “Para todas as novatas da indústria, se esse lugar (cuidados de urgência) não é familiar para você, ele vai ser MUITO em breve”. Se isso não te choca e comove, não sei o que fazer. Lembro da frase de Gail Dines:
“Nenhuma mulher foi colocada neste mundo para ser machucada ou humilhada para servir à masturbação masculina.”
Assim, não é difícil concluir que esse é o tipo de sexo que os jovens estão aprendendo: um ato que tem o único propósito de satisfazer um desejo. E pior, não faz diferença se o outro é ou não uma pessoa real, pois naquele momento (do vídeo) não se tem acesso a uma pessoa, se tem acesso a uma coisa. Assim, infelizmente, não é de se surpreender que os homens cada vez mais vejam as mulheres como meros objetos para seu prazer. O consumo de pornografia (paga) é correlacionado com a possibilidade de estuprar. Mas eu diria ainda mais: um viciado em pornografia é um estuprador potencial. Uma verdade dura. Não que todos vão fazer isso, longe de eu afirmar algo tão categórico; porém, mesmo assim, o potencial está ali. Afinal, se você vê tranquilamente um homem abusando fisicamente de uma mulher em vídeo, é bem plausível que queira experimentar alguma hora.
Não vamos cair no engano de que só aqueles que veem esses vídeos pesados alimentam a indústria. Primeiro que, provavelmente, você que diz ver vídeos “leves” alguma hora chegará nos pesados – a evidência disso é incontestável. Porém, o simples fato de você ver qualquer vídeo que seja estará alimentando essa indústria; será um pequeno fato ajudando a engrenagem da pornografia a rodar.
Entretanto, infelizmente, as consequências não acabaram. A cidade do Kansas divulgou um relatório sobre abusos sexuais infantis[2] em que não só foi percebido um aumento na taxa de abuso de crianças, mas também foi percebido que crianças estão abusando de crianças. Um quarto dos abusos registrados nos hospitais da cidade foi descoberto como realizados por menores de 18. As enfermeiras relatam que
estão descobrindo cada vez mais que a pornografia está desempenhando um papel nesses casos. Isso pode incluir uma vítima sendo forçada a ver pornografia, uma vítima relatando que o agressor disse que assistiu a pornografia, sendo forçado a fazer algo mostrado em um vídeo pornográfico ou uma vítima sendo gravada fazendo um ato sexual.
O jornal The Economist também tem uma matéria sobre isso[3]. Ainda existem diversos estudos ligando o consumo semanal de pornografia a uma diminuição da capacidade cerebral e à disfunção erétil em homens[4], o que são problemas secundários visto o que vimos.
Se você não é cristão, os motivos acima são mais do que suficientes para te motivar a se livrar desse vício perverso. No entanto, se você for cristão, eu sei que você já tentou parar e, talvez, tenha falhado. Eu passei por isso. Conheço a sensação que se tem ao falhar em não praticar um ato tão vergonhoso. Em Gênesis 4:7 Deus diz à Caim:
Por que você está irado? Por que tão abatido? Se você fizer o que é bom, não deverá erguer a cabeça? E se não fizer o que é bom, o mal está diante da sua porta (ou diante do seu celular) – ele o deseja, mas você pode dominá-lo.
Essas são as palavras do nosso Deus para nós: você pode dominá-lo. Eu entendo que pode parecer que não, mas não fiquemos num fatalismo, se Deus disse que podemos vencer é simplesmente por que nós, de fato, podemos.
O que fazer, então? Essa semana passei pelo texto Mateus 11:12:
Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos céus é tomado à força, e os que usam de força se apoderam dele.
Essas são palavras de Jesus. Elas me levam a crer que devemos ser radicais. Primeiro devemos ter em mente que podemos, pela graça de Deus vencer. Porém consideramos que somos tentados constantemente e, portanto, como ensinou Jesus, podemos pedir que Deus afaste de nós a tentação. Isso, ainda, não é o bastante. Alguma rede social te tenta ou te leva a querer ver algum vídeo? Exclua. Alguma pessoa te tenta nessa área? Como José, fuja (e não volte atrás). Seja honesto com algum amigo de confiança, um líder ou com seu pai (ou com os três), pois “é melhor serem dois do que um (…), pois se um cair, o outro levanta seu companheiro, mas aí do que estiver só” (Ec 4:9-10). O caminho é difícil e envolve negar a si mesmo e às suas vontades, mas foi para isso mesmo que Jesus nos chamou. Meu apelo final é: não basta não ver pornografia; no nosso mundo, é preciso ser contra a pornografia.
[1] https://enough.org/stats_porn_industry
[2] https://medium.com/@feminismoclasse/gra%C3%A7as-ao-porn%C3%B4-crian%C3%A7as-est%C3%A3o-abusando-sexualmente-de-outras-crian%C3%A7as-em-n%C3%ADveis-alarmantes-22934a30de66
[3] https://thebridgehead.ca/2018/07/25/porn-culture-now-has-little-kids-sexually-assaulting-each-other/
[4] https://www.newsweek.com/porn-addiction-harming-sexual-health-1242994
O texto de hoje é do Lucas Belasque, cristão genuíno, estudante de física, se destaca em seu engajamento nesta geração e, certamente (anotem) será um nome conhecido mundialmente no campo científico para honra e glória do Senhor.
Deus abençoe vocês!
Até terça
😉
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