Como vocês provavelmente já sabem, ontem celebramos 500 anos da Reforma Protestante, 500 anos desde que Martinho Lutero afixou 95 teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Por causa disso, há referências em tudo quanto é coisa sobre “5 Solas”. Vocês leram o texto da Caro ontem? Lá, ela diz:

Precisamos resgatar as 5 solas.

Mas que 5 solas são essas? A palavra “sola”, em latim, significa “somente”. Mas, primeiro, quero dizer porque elas são importantes.

A Reforma Protestante representou

[e representa] um chamado ao retorno às Escrituras. Na época em que aconteceu, a Igreja Católica, dominante, viajava nos seus ensinos. Era um monte de invenção que sabe Deus de onde tiraram, e que não tinha respaldo nem na sombra da Palavra de Deus. É aí que surge Lutero, dando a cara à tapa pra confrontar esses ensinos, chamando a igreja para voltar ao que a Palavra diz.

Os chamados “5 Solas” representam alguns credos básicos dos reformadores, que foram importantes pontos de confronto com o credo da Igreja Católica naquela época, e também com a igreja moderna, seja católica, seja evangélica. É por isso que são importantes. São valores bíblicos inegociáveis que servem de filtro para selecionarmos verdadeiros ensinos [e crermos neles]. Então, vamos lá:

SOLA FIDE (SOMENTE A FÉ)

Esta aqui é a doutrina da justificação somente pela fé. Em contraste com o que a Igreja Católica pregava (e prega até hoje) e com o que vemos em muitas igrejas evangélicas atuais, o homem é declarado justo diante de Deus apenas pela fé. Ou seja, não é possível ao homem que suas boas obras sejam moeda de negociação com Deus, para que receba salvação. As obras que Deus requer já foram cumpridas por Cristo, o que nos produz justificação, que é recebida através da fé, somente.

Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: “O justo viverá pela fé”.
Romanos 1:17

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
não por obras, para que ninguém se glorie.
Efésios 2:8,9

Então não precisamos mais de boas obras? Claro que precisamos! Só que a diferença é a seguinte: elas NÃO PRODUZEM justificação, elas EVIDENCIAM. As suas boas obras são resultado da sua fé, que é o meio pelo qual você é declarado justo por Deus. Não há qualquer mérito em nós, diante de Deus, pelos nossos bons feitos; o mérito é de Cristo. A salvação pertence ao SENHOR (Jonas 2.9).

Pode esquecer, então, o copo de água que foi ungido pelo líder religioso, esqueça a rosa ungida, ou o vale do sal, ou o próprio óleo ungido. Estes são objetivos inanimados, pare de dar poder a eles que eles não têm. O próprio Deus não o fez.

O Sola Fide foi o ponto central da teologia de Lutero, dizendo ele ser esta a “doutrina pela qual a igreja permanece ou cai”.

SOLA SCRIPTURA (SOMENTE A ESCRITURA)

Este ponto afirma que a única autoridade, a única regra de fé e prática dos cristãos devem ser as Sagradas Escrituras. Deus deixou o conhecimento de si mesmo através da escrita, e é somente nela que podemos ter acesso à verdade de Deus.

Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus’”.
Mateus 4:4

Interessante que neste verso acima, e em muitas outras ocasiões, Cristo baseia os seus ensinamentos nas Escrituras (o Antigo Testamento, disponível naquela época), atribuindo a ela o título de “palavra que procede da boca de Deus”.

Por que isso contradizia o ensino da igreja? Porque a Igreja Católica defendia [e ainda defende] que a Bíblia anda junto com a Tradição da Igreja, ou seja, há ensinos que não provém diretamente da Escritura Sagrada, mas que a igreja traz como tradição, sendo admitida como verdade incontestável. Nós, protestantes, repudiamos isto. Não há problema na tradição em si, mas de maneira nenhuma podemos assumir a tradição que não está respaldada pela Escritura como fonte da Palavra de Deus. Os homens são falhos.

Declaro a todos os que ouvem as palavras da profecia deste livro: se alguém lhe acrescentar algo, Deus lhe acrescentará as pragas descritas neste livro.
Apocalipse 22:18

Neste ponto aqui, também entra o que a Igreja Católica ensina sobre a interpretação da Escritura: somente ela pode fazê-lo com exatidão. Não é verdade. A Escritura tem, sim, um sentido particular e não é dado ao homem o direito de sair interpretando como bem entende (2 Pedro 1.20,21). Mas isto não significa que o Espírito só o revela a alguns; Ele revela este sentido a qualquer que busca o entendimento do texto.

É bom que este ponto nos ajude a confrontar as infindáveis “revelações” que vemos por aí nas igrejas neopentecostais como sendo Palavra de Deus. A revelação maior de Deus já foi dada: Cristo. Você não precisa de videntes de meia tigela pra ficarem adivinhando o seu futuro. Eu mesmo já te digo, pela Escritura: crê, e terás o céu; não crê, e terás o inferno.

SOLUS CHRISTUS (SOMENTE CRISTO)

Cristo é o único mediador entre Deus e os homens. Não há qualquer outro que possa cumprir esta tarefa. Nem Maria, nem qualquer que seja considerado santo, nem pastores, nem celebridade gospel. Afinal, somente Ele é o Filho de Deus, que padeceu na cruz, recebendo a ira de Deus pelos pecados de sua noiva, a igreja.

Pois há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens: o homem Cristo Jesus,
o qual se entregou a si mesmo como resgate por todos. Esse foi o testemunho dado em seu próprio tempo.
1 Timóteo 2:5,6

É claro que este ponto não nega o ofício do pastorado e similares. Nega, apenas, que você precisa de qualquer pessoa para te ligar a Deus. Seu pastor pode te ensinar, pode te aconselhar, te ajudar na sua vida cristã, mas ele não tem a função de servir de canal entre você e Deus. Só Cristo o faz, mediante o seu sacrifício. Podemos aplicar este ponto também no meio evangélico. Atualmente, há uma exaltação incrível de líderes religiosos, ou de figuras artísticas do meio gospel. Você pode gostar deles, não vejo problema com isso, mas não os exalte e nem os enxergue como caminho até Deus. Cristo não divide essa missão com ninguém.

Respondeu Jesus: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim.
João 14:6

SOLA GRATIA (SOMENTE A GRAÇA)

Esse aqui tem um pouco a ver com o Sola Fide. Você é salvo pela fé? NÃO! “Ué, Lucas, você não disse que somos salvos pela fé? Não é esse justamente o Sola Fide?” Não. Nós somos salvos MEDIANTE a fé, ou seja, POR MEIO dela. Mas a salvação é pela GRAÇA.

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus;
não por obras, para que ninguém se glorie.
Efésios 2:8,9

O que significa “graça”? Significa favor imerecido da parte de Deus. Você acha que merece salvação? Então volte lá pra cima e releia o Sola Fide. Seus atos não são meritórios diante de Deus para a salvação. Deus opera a salvação no homem unicamente por sua graça, porque Ele é bom. Todos nós somos pecadores e não temos qualquer direito de pedir de Deus uma retribuição pelo que fazemos de bom. Aos olhos de Deus, não somos, em nós mesmos, bons.

Como está escrito: “Não há nenhum justo, nem um sequer;
Romanos 3:10

Deus revela a sua graça e a sua bondade enviando Cristo para morrer pelos pecadores, salvando aquele que crê [e vive como quem crê (Tiago 2.17)]. Você não é salvo pela sua escolha, pelo seu livre arbítrio, ou pelos seus atos. Se assim fosse, o mérito seria seu, não? Afinal, você escolheu Deus. É, você escolheu Deus. Mas você só o fez porque Ele te escolheu primeiro.

Nós amamos porque ele nos amou primeiro.
1 João 4:19

Nós, protestantes, somos monergistas, ou seja, cremos que a salvação vem unicamente de Deus, pelos próprios atos dele, sem que contribuamos para nada.

A Igreja Católica ensinava [e ensina], bem como certas igrejas evangélicas, que os atos do crente são meritórios e contribuem pra sua salvação. Será? Não, não, não…

SOLI DEO GLORIA (GLÓRIA SOMENTE A DEUS)

Aqui, temos o ensino de que não há qualquer outro que seja digno de receber qualquer glória. Em vista de todos os outros pontos acima, especialmente o Sola Gratia e o Solus Christus, como podemos enxergar qualquer outro que seja digno de glória? Todos os homens são pecadores e vermes diante de um Deus tão bondoso, santo e poderoso! Quem pode receber glória ao Seu lado?

Jesus lhe disse: “Retire-se, Satanás! Pois está escrito: ‘Adore o Senhor, o seu Deus e só a ele preste culto’”.
Mateus 4:10

Na época em que a Reforma aconteceu, este questionamento foi muito focado na glória que a Igreja e os seus oficiais recebiam. Hoje, podemos direcioná-lo a isto, também. A glória que o papa recebe é indevida. A glória que os “santos” recebem é indevida, ou até mesmo a que Maria recebe. Maria também foi pecadora, e precisou de Cristo para ser salva.

Então disse Maria: “Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a humildade da sua serva.
Lucas 1:46-48

Ora, quem não peca não precisa de Salvador. Mas Maria se refere a Deus como o agente de sua salvação. Logo, Maria foi pecadora como qualquer de nós. Hoje, não mais, pois está junto a Cristo e todos os crentes que já partiram, sem posição de glória, pois ela só recebeu o que recebeu pela graça de Deus (vide Sola Gratia). Sendo assim, somente Ele deve receber a devida glória.

Assim como a igreja Católica peca neste ponto, em não compreendê-lo, muitas igrejas evangélicas produzem (e seus fiéis ecoam) glória a figuras do seu meio. Esqueçam isso. Somos todos pecadores, não sendo nenhum de nós digno de glória. Deus repudia a exaltação de sua criação no lugar da Sua exaltação.

Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos e trocaram a glória do Deus imortal por imagens feitas segundo a semelhança do homem mortal, bem como de pássaros, quadrúpedes e répteis.
Romanos 1:22,23

Bom, espero que você compreenda melhor agora o porquê de a Reforma Protestante ser algo tão especial em nossos corações. Estes são os principais pontos gerais do movimento. Após 500 anos, que estes continuem sendo princípios norteadores para nós.

Glória a Deus pela sua graça que opera salvação em nós, mediante a fé no sacrifício de Cristo, conforme nos ensina a Escritura.