De onde procedem guerras e contendas que há entre vós? De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura: É com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele fez habitar em nós? Antes, ele dá maior graça; pelo que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós. Chegai-vos a Deus, e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração. Afligi-vos, lamentai e chorai. Converta-se o vosso riso em pranto, e a vossa alegria, em tristeza. Humilhai-vos na presença do Senhor, e ele vos exaltará. Tiago 4.1-10
A oração é um dever e privilégio do crente. Este deve orar sem cessar, de várias formas, por todas as situações, ocasionalmente com jejuns e seguindo o modelo de oração do Senhor. A vida de oração é crucial para o bom desenvolvimento da igreja, já que apenas com membros dispostos a ter um tempo de joelhos dobrados diante de Deus é que observamos o crescimento da membresia, o arrependimento dos pecados e famílias fortalecidas na fé.

Dentre os muitos inimigos da oração mencionados na Bíblia, Tiago nos alerta sobre o amor aos prazeres carnais, isto é, o apego, anseio, esforço e determinação do crente em satisfazer os próprios desejos, que nem sempre são corretos e condizentes com a vontade de Deus.

Esta “amizade com o mundo” é o que definiremos como mundanismo. Para muitos cristãos, ser mundano é frequentar bares e festas, ter uma vida imoral e sem regras. Contudo, alguém pode ter uma vida moral irrepreensível e, mesmo assim, estar dominado pela “amizade com o mundo”.

No capítulo 3 de sua carta, Tiago havia confrontado seus leitores devido às confusões, divisões e conflitos gerados pela disputa de posições de destaque na igreja. Agora, neste trecho do capítulo 4, ele expõe a origem dessas guerras, o efeito danoso da amizade com o mundo na vida cristã (especialmente na oração) e termina como podemos adequar nosso relacionamento com o Senhor.

De acordo com o autor da epístola, as guerras e contendas entre os cristãos têm como origem os prazeres que guerreiam na carne (v.1). A palavra “carne” nesta passagem significa nossa natureza pecaminosa, herdada de nossos pais. Essa “carne” tem fortes apetites por prazeres ilícitos e a busca por eles dá origem às guerras e contendas (Gálatas 5.19-21).

Esses prazeres lutam dentro de nós em busca da supremacia, guerreando contra nossa consciência, fé e valores cristãos. Um verdadeiro exército de maus desejos originado de nosso coração corrompido e decaído. Não poderemos nos ver livres dessas contendas senão na vinda do Senhor Jesus, quando o mal será vencido e experimentaremos a plena libertação do pecado e seus efeitos. Enquanto estivermos neste mundo, teremos que lutar contra os desejos impuros e vencê-los com a graça de Deus.

Os prazeres pecaminosos têm um efeito devastador na vida do crente e daqueles ao seu redor: guerras, contendas, cobiça, morte, inveja, lutas. Nas igrejas para as quais Tiago escreveu, muitos desejavam ser mestres apenas para usufruir da posição de autoridade e primazia (Tiago 3.14-16).

Colocando o foco na área da oração, o mundanismo também traz impactos negativos, já que o crente carnal buscará unicamente satisfazer seus prazeres.

O primeiro efeito negativo do mundanismo é que a busca por prazeres faz cessar a vida de oração (“não pedem” – v.2b). O próprio desejo ilícito mata a disposição para orar. Uma das razões de muitos crentes não sentirem vontade de orar é que o mundanismo está apagando o espírito de oração (a oração aumenta a dependência de Deus).

O segundo efeito é que as brigas e contendas levam o crente a orar mal (“e, quando pedem, não recebem, pois seus motivos são errados” – v.3). Pessoas que cobiçam o que não devem e se esforçam para obtê-lo, inclusive de forma errada, buscam de Deus somente a satisfação de suas ambições (lembre-se da motivação na construção da torre de Babel).

O terceiro efeito é que não pedir ou pedir mal faz que nada tenhamos da parte de Deus (“não têm o que desejam” – v.2a). Deus não responde orações marcadas pelo egoísmo desenfreado. O Espírito Santo nos auxilia nas orações, mas apenas quando feitas pelo motivo certo, buscando fazer a vontade de Deus. Aqueles que oram visando exclusivamente ao benefício próprio nada recebem de Deus, já que pedem apenas para seu prazer em vez da glória de Deus.

O quarto efeito é que o mundanismo nos coloca como inimigos de Deus (vv.4-5) Ser amigo do mundo é o mesmo que se tornar inimigo de Deus. A amizade com o mundo significa desejar poder, prestígio, prazeres (1João 2.15-17). Significa querer essas coisas a ponto de lutar até mesmo contra seus irmãos em Cristo. O mundo representa valores e o estilo de vida da humanidade que virou as costas para Deus desde a Queda.

Portanto, o que o crente deve fazer? Aquele que se conscientizou de que, por viver uma vida mundana, suas orações não têm sido atendidas, mas que ainda teme o Senhor, deve basicamente se humilhar diante de Deus e se arrepender de seu mundanismo (vv.6-10).

Tiago faz alguns apontamentos nessa passagem:

  1. Submeter-se a Deus, dizendo que Sua vontade seja feita em detrimento de nossos desejos;
  2. Resistir ao diabo, que atiça as ambições de nosso espírito;
  3. Aproximar-se de Deus, em oração humilde e sincera;
  4. Purificar o coração, arrependendo-se das motivações erradas.

Cada crente deve examinar seu coração a fim de avaliar se o mundanismo está ali enraizado, afetando, sutil ou explicitamente, seus desejos e orações.

O quadro final é o de um cristão em total quebrantamento e arrependimento diante de Deus. Desta forma, o Senhor se aproximará de nós, ouvirá nossas orações e nos dará resposta.

*adaptado de O que a Bíblia fala sobre oração, de Augustus Nicodemus

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