Ultimamente tenho estudado o livro de Jeremias e tenho encontrado em Jeremias uma figura muito interessante. O profeta Jeremias não teria frutos em seu ministério e teria de ver o seu povo rejeitando os caminhos do Senhor: “Dir-lhes-ás, pois, todas estas palavras, mas não te darão ouvidos; chamá-los-ás, mas não te responderão” (Jr 7.27). Ele também foi perseguido pelas pessoas de sua cidade (Jr 11.21) e foi odiado pelos da sua própria família: “Até mesmo os seus irmãos e a sua própria família traíram você e o perseguem aos gritos” (Jr 12.6).
Jeremias também se entristecia muito pela falta de arrependimento do povo de Judá que levaria ao iminente castigo por parte do Senhor, que prometeu os levar para o cativeiro babilônico como forma de disciplina: “Ah, minha angústia, minha angústia! Eu me contorço de dor. Ó paredes do meu coração! O meu coração dispara dentro de mim; não posso ficar calado” (Jr 4:19). Ele diz que não podia ficar calado. Sua dor o levava a proclamar a mensagem de arrependimento em face do juízo e da devastação que estavam vindo.
Ver as angustias de Jeremias pelo povo Judeu nos lembram das aflições que Jesus sofreu ao ver a falta de arrependimento desse mesmo povo centenas de anos depois: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que a ti são enviados! Quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta a sua ninhada debaixo das asas, e não quiseste!” (Lc 13.34). Certamente, Jeremias é uma figura do Cristo que haveria de vir. Contudo, em determinado momento, Jeremias também errou e deixou seu coração de amargurar por todo aquele cenário de dor, lamento, rejeição e tristeza.
No capítulo 14 do livro, Jeremias intercede três vezes pelo povo pedindo que Deus tivesse misericórdia e anulasse seus juízos. Contudo, Deus sabia que o povo não se arrependeria e estava decidido a disciplina-los em seu governo. Com essa mensagem dura, Jeremias passa a ser ainda mais ridicularizado e amaldiçoado pelo povo, que não o ouvia (Jr 15.10). Em face de tudo isso, Jeremias acusa ao Senhor de falhar em consola-lo: “Por que é permanente a minha dor, e a minha ferida é grave e incurável? Por que te tornaste para mim como um riacho seco, cujos mananciais falham?” (Jr 15.18).
Nesse versículo notamos que Jeremias deixou seu coração ser levado pela autocompaixão e autocomiseração. Ele deixou seu Eu falar mais alto e sentiu pena de si mesmo. Se lermos todo o capítulo 14 e 15 veremos que Jeremias, nesse momento, tinha no fundo do seu coração um sentimento de justiça própria. Ele achava que suas dores eram injustas, que ele não as merecia “Por que dura a minha dor continuamente, e a minha ferida me dói e não admite cura” (Jr15:18). Por isso, Ele acusa o Senhor de não estar o suprindo da maneira correta: “Tu te tornaste como riacho seco, cujos mananciais falham” (v.18). Que palavras duras!
A resposta do Senhor é imediata. O Senhor diz: “Portanto, assim diz o Senhor: Se tu te arrependeres, eu te farei voltar e estarás diante de mim; se apartares o precioso do vil, serás a minha boca” (Jr 15.19). O Senhor o chama ao arrependimento. Ele ordena que o profeta separe o precioso do vil. Jeremias certamente era um vaso precioso nas mãos do Senhor, que amava sua palavra. Mas também tinha sentimentos vis em seu coração. Palavras vis que vazaram no versículo 18. Palavras de autocompaixão e de auto merecimento. O Senhor o convida então a se arrepender para que possa continuar seu serviço: “Serás minha boca”.
Os sentimentos de autocompaixão e autocomiseração são vis ao Senhor: São desprezíveis e maléficos. Certa vez Pedro sugeriu ao Senhor Jesus não ir para a cruz dizendo: “Tenha autocompaixão”, e a resposta de Jesus foi “arreda-te de mim Satanás” (Mt 16.23). Jesus detectou ali uma tentação do inimigo. Devemos então, nos arrepender das vezes em que deixamos esses sentimentos tomarem conta do nosso coração. Escrevo como alguém que entende perfeitamente Jeremias. A situação era muito triste. Por motivos bem menores eu também sinto compaixão de mim mesmo. Mas a palavra de Deus para Jeremias é a mesma para nós hoje: “Se arrependa”, “Não deixe seu coração se amargurar” e “Separe o que é precioso do que é vil”. Que possamos encontrar tudo no Senhor, nos satisfazendo nEle, para que a autocomiseração não toque nosso coração.
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