Olá! Espero que estejam todos bem.

Temos conversado aqui sobre alguns testemunhos de pessoas que ousaram sonhar em Deus com a formação de uma família. A história de hoje não contará com o nome da personagem, porque se trata do testemunho de alguém que sofreu um abuso sexual na infância, mas que hoje é um dos maiores exemplos não só de fé, mas de família saudável, estruturada e abençoada que eu tenho por perto.

“No dia do fato, eu tinha apenas 5 anos. A pessoa que cometeu esse abuso era conhecida e tinha a intenção de fazer isso com mais outras meninas que estavam no mesmo local, mas não conseguiu porque uma outra pessoa chegou e impediu. Eu estava sangrando e ouvi a seguinte frase: engole seu choro, se arruma. Se você não fosse tão bonitinha, não teria acontecido nada contigo.

Naquele dia essa frase entrou profundamente no meu coração e eu decidi que seria feia para que não fosse vítima de mais ninguém. Na minha cabeça de criança, ser feia significava ser gorda (hoje meu pensamento é totalmente diferente), então eu comecei a comer muito porque eu PRECISAVA ficar feia pra me proteger. Com 9…10 anos eu já era obesa. Ouvia muitas críticas inclusive da minha família pelo sobrepeso, mas ninguém sabia o porque eu escolhia aquele comportamento.

Meus pais se converteram quando eu tinha essa idade e minha experiência pessoal com Jesus também foi mais ou menos nesse período. Foi muito especial!

Com 17 pra 18 anos, eu participei de um retiro e um pastor me entregou uma palavra dizendo que eu não havia nascido pra ficar sozinha, mas eu iria casar. Para outras pessoas pode parecer algo bobo, mas para mim era algo totalmente fora de cogitação e não era uma “profetada” do tipo que todo mundo recebe. Aquilo era algo muito específico. Lembro de orar dizendo ao Senhor que se Ele tinha isso pra mim, Ele precisaria gerar isso em meu coração, porque não era algo em que eu acreditava.

Ali começou um processo de cura muito profundo. Revisitar aquelas dores e traumas causados por aquela experiência não foi fácil, mas foi necessário. No processo, descobri que outras pessoas na linhagem da minha família já tinham vivido a mesma situação e tido que lidar com os mesmos problemas.

Meus pais só souberam dessa história toda quando eu já tinha mais de 18 anos, porque eu não tinha coragem de contar o que havia acontecido. Lembro também de deixar a critério deles o que fariam com aquela notícia e eles preferiram não denunciar, porque preferiam preservar a história da família. Isso foi bastante dolorido. Eu me sentia desprotegida com aquela atitude.

Eu cheguei a procurar o agressor pra conversar e liberar perdão, mas ele me chamou de louca e disse que isso nunca havia acontecido.

Não foi simples, mas aos poucos eu consegui liberar perdão para a pessoa que fez aquilo e quando esse processo de cura acabou, e eu me enxerguei, eu me assustei! Não conseguia acreditar no que eu tinha feito comigo, ao não me cuidar, ao me esconder por causa daquela dor.

Eu precisei me perdoar também por ter me abandonado nesse processo todo. Precisei confiar que Deus realmente cumpriria aquela palavra de que me daria uma família, mas deixei claro que isso ia ter que ser do jeito Dele, porque eu não ia correr atrás, não queria me incomodar com isso.

O meu marido entrou na igreja que eu frequentava e logo que o vi pela primeira vez percebi que havia algo diferente nele. No primeiro dia, lá estava ele lavando a louça em silêncio. Ele estava servindo e isso era fundamental pra mim. Naquele dia o Senhor falou ao meu coração que aquele era o meu marido.

Quando ele tentou me beijar pela primeira vez, eu bati nele! Hahaha Ele obviamente se assustou e aí eu tive que contar o que havia acontecido. Para minha surpresa, ele também havia passado por um processo de cura nas mesmas questões. Nenhum de nós imaginava que um dia teria uma família e sequer desejava isso realmente, mas decidimos acreditar na cura que o Senhor tinha disponível pra nós e ousamos viver esse sonho.

Ele casou comigo quando eu estava acima do peso saudável. Ele me enxergou e me amou quando eu não achava que seria notada por ninguém. O olhar dele de amor pra mim foi curador.

Quando olho pra trás e vejo tudo pelo que passamos e a forma como hoje somos usados pra restaurar famílias, percebo o cuidado de Deus em usar tudo isso para abençoar a nós e a tantos outros.

Temos uma linda família, dois filhos abençoados e muitas bençãos para contar.

Ele faz o solitário habitar em família! (Salmos 68:6)”

Eu, Carolina, já atendi muitas meninas com históricos semelhantes e só Deus sabe como é difícil ouvir seus relatos e querer tirar com a mão a dor que elas expressam em cada palavra. Mais difícil ainda deve ser precisar contar e ter vivido tudo isso. Mas graças a Deus, graças a Deus e repito, graças a Deus, não existe história tão quebrada que não possa ser consertada por Ele. Se eu que sou humana, limitada, egoísta e tenho mais um monte de pereba, consigo me compadecer dessas moças (e eu sei que rapazes também sofrem com isso, mas eu só atendo moças), quanto mais o Senhor.

Se você vivenciou situação semelhante, lembre-se que o Senhor nunca te deixou. Ele estava lá e sofreu o dano, a dor junto com você e está disponível hoje para te ajudar a lidar com cada uma das questões ao seu lado.

Por último, faz parte do processo de cura e salvação do agressor que ele responda por seus atos. Ainda que haja perdão, ainda que haja arrependimento, ainda há uma dívida perante a justiça dos homens que precisa ser quitada.  Quando você escolhe fazer a denúncia, você livra outras pessoas de sofrer o mesmo dano e também dá a oportunidade para que o agressor seja restaurado. Não podemos ser coniventes com esse tipo de situação. Infelizmente essa realidade se perpetua também no meio dos cristãos porque as pessoas se calam.

Quando o Senhor nos perdoa, Ele nos livra da sentença de morte eterna que estava reservada para nós em virtude do nosso pecado, mas Ele não nos livra de lidar com as consequências do nosso erro. Se o Senhor age dessa forma, quem somos nós pra tratar de modo diferente?

Ele é amor, mas Ele também é o justo juiz.

 

Deus abençoe vocês!

Até terça.

😉