Às vezes, tenho hesitado em descrever o pecado como uma doença. Acho que a razão para isso é que, por ser reformado, quero ter certeza de que explico apropriadamente a doutrina do pecado. Admitir que o pecado é semelhante a uma doença pode implicar que, de alguma maneira, somos capazes de ajudar a nós mesmos em meio à nossa pecaminosidade. Por isso, é comum entre os calvinistas se dizer: “Um homem morto não pode crer!” e coisas desse tipo. Descrever o nosso estado espiritual dessa maneira é certamente exato. Estamos mortos. Não podemos ditar o nosso caminho para Deus. É somente por nascermos de novo, por obra do Espírito de Deus, que cremos. “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andastes outrora” (Ef 2.1-2). Entretanto, na Bíblia o pecado está frequentemente ligado a doença (Êx 15.26; Sl 103.3; Mt 8.17). Quando a Covid-19 se espalhou rápido pelo mundo, refleti novamente sobre o pecado como uma doença. Admito que, às vezes, tenho usado a doença como uma metáfora — especialmente em descrever o pecado original.

O pecado original é um conceito teológico difícil de comunicar às pessoas de nossos dias, especialmente nos Estados Unidos. Votamos para escolher nossos líderes, escolhemos onde compraremos uma casa e decidimos a que igreja iremos. O Burger King teve por vários anos um slogan bem conhecido: “Faça-o do seu jeito”. Será que algo tão importante como o meu status diante de Deus pode ser decidido por outra pessoa? Isso não é cultura americana! No entanto, a Bíblia diz: “Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (Rm 5.12). Ou seja, a verdade é não somente que nós pecamos, mas também que agora somos pecados por natureza. Somos considerados culpados em Adão e, além disso, nascemos com mente, vontade, corpo e afeições corrompidos É assim que eu descrevo os efeitos do pecado de Adão em nossa constituição moral e física, quando ministro estudos bíblicos: “Adão se tornou doente. A sua doença foi transmitida a nós. Somos seus filhos. Há uma doença hereditária que agora atinge todas as gerações da raça humana”. Muitas vezes, quando explico o assunto desta maneira, várias pessoas se mostram esclarecidas e dizem: “Ah!, agora eu entendo”.

Talvez a razão pela qual essa metáfora seja útil é que as pessoas geralmente entendem como a doença se espalha. Não decidimos quem pega um resfriado, uma gripe ou a Covid-19. Podemos tentar impedir que a doença se espalhe e tentar aliviar seus efeitos. Mas a decisão de “ficar doente” está fora de nosso controle. Está especialmente fora de nosso controle quando uma doença é transmitida de pai para filho antes do nascimento. É por isso que agora ouvimos o ciclo de notícias com atenção extasiada, enquanto médicos e cientistas nos explicam a maneira como a Covid-19 se espalha e as maneiras pelas quais podemos evitá-la.

Covid-19 se espalha, mas o pecado também. Ele se espalha de geração em geração. Enquanto as pessoas não reconhecerem as profundezas de sua doença, não pensarão numa solução. Por isso, oramos por arrependimento, mesmo durante esses tempos catastróficos — para que pessoas vejam as profundezas de seu pecado e se convertam dele. Talvez o Espírito de Deus use essas circunstâncias para despertar o coração de pessoas. Certamente, esta doença está nos ensinando que não são apenas as minhas decisões que importam. As medidas de distanciamento social e de permanência em casa funcionam, porque, quando todos decidem ficar em casa, as decisões de todos afetam todos os outros.

Enquanto isso, à medida que o caos continua, fica claro em relação a futuro de longo prazo que temos uma esperança: uma vacina e uma cura. Até lá, podemos tomar medidas para impedir a propagação do vírus, mas não podemos pará-lo. Todos nós esperamos uma solução, seja uma vacina ou uma cura. Essa solução é a aquela salvação que esperamos nos traga de volta certa medida de nossa vida. Ela introduzirá uma nova época em que poderemos ir novamente sem medo ao supermercado, poderemos sorrir novamente com nossos amigos em seus lares e poderemos novamente visitar nossos familiares. A vida retornará ao curso que deveria ser.

Sim, este mundo está doente. Não é mais como era antes. Porém, enquanto esperamos por aquela vacina ou cura, é bom lembrarmos que Jesus Cristo é a solução definitiva para o pecado e a doença. O mundo estava doente mesmo antes desse vírus aparecer. Espiritualmente, estava pior do que doente — estava morto. Ainda está morto. A manhã da ressurreição representa o alvorecer de uma nova época em Jesus Cristo. Ele não está sujeito à morte; e nós que cremos nele não precisamos mais temer a morte. Até à segunda vinda de Jesus, a morte chegará a todos nós. Mas ela não terá a palavra final. Herdamos a vida espiritual. Nosso corpo será ressuscitado naquela nova vida, como o de Jesus o foi. Naquela nova vida, não ficaremos mais doentes — física ou espiritualmente. Habitaremos juntos numa cidade, Deus estará presente com seu povo para sempre, e nenhuma doença ou pecado nos frustrará e nos aterrorizará com sua propagação silenciosa.

Então, espere e ore por uma solução nesta crise. Que venha rápido! Mas lembre-se de que a grande cura para o pecado e a morte já foi entregue em Jesus Cristo.

Autor: Thomas Brewer

Fonte: Voltemos ao Evangelho

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