DIÁRIO DE UM ADORADOR VII
Quanto vale a cabeça de um profeta?
Jesus havia sido ameaçado na Galiléia quando se manifestou como o Filho de Deus. De lá ele se mudou para Cafarnaum, cidade costeira, onde se deteve por algum tempo. Alí ele expulsou um demônio de um homem que estava participando do Shabat! Para mim ele tinha se tornado alguém realmente sobrenatural…quero dizer humano, mas…que fazia coisas incríveis, fora do natural! Judas e outros dos seus discípulos, comentavam que ele ficou muito impressionado com a falta de fé na Galiléia e, por isso, não podia fazer muitos milagres ali…sim, milagres…e eu continuava pensando no Jonathan, irmão da Miriam, minha pérola preciosa que tomava conta de meu coração…o Jonathan era coxo, não podia andar, e tinha seu irmão Jeuz, que seria, no futuro, o responsável pela família quando o pai, chefe da casa, morresse…
Jesus tinha uma família. Os nomes de seus irmãos e irmãs eram : Tiago, José, Simão e Judas além de suas irmãs que estavam sempre ajudando Maria sua mãe…essa situação trazia dúvidas a respeito de Jesus de Nazaré! João Batista, seu primo, era filho de Isabel, prima de Maria.
João estava em Macharus, para onde Herodes levou toda sua corte para comemorar seu quadragésimo nono aniversário…foram também importantes homens de negócios, tribunos e príncipes da Galiléia. Pilatos havia ordenado que nenhum romano poderia ir a essa festa, mas tinha seus informantes posicionados para saberem de tudo. As festividades duraram por uma semana culminando com um banquete, que lembrava o tempo quando o pai, Herodes o grande, foi coroado: mais de mil cordeiros assados, e cem das mais lindas jovens dançando! Além disso tudo, iguarias preciosas do Mediterrâneo. No momento culminante de toda essa loucura, há um silencio súbito e um murmúrio das garotas que pararam e se sentaram ao longo da mesa central do banquete que era longa e ocupava quase todo o hall que era gigantesco e imponente… Herodes Antípas pede a sua filha adotiva, Salomé, de não mais que quatorze anos de idade, para dançar na frente de homens bêbados, sobre a sua mesa…houve silencio total quando Salomé se levantou. Começando com piruetas, depois espirais, descalça, ela dançava diante de seu padrasto. Com muita graça e atração, ela começa a retirar um véu de seda depois do outro, atirando cada um deles para os homens que a olhavam como que enfeitiçados!
Ao final, ela se manteve ereta quase nua diante deles…Herodes, bêbado pelo vinho e pela sensualidade da dança daquela menina-mulher que naquele momento se impunha como deusa e dominadora de todos, eroticamente controlados por ela, levanta sua taça e brada meio bêbado, meio gago: “Pede-me o que você quiser, que eu te dou”. E então ele jurou:”Tudo que você me pedir eu te darei, até metade do meu reino!”Enquanto ela pensava indecisa, Herodes continuava a insistir no seu juramento com um desejo incontido de satisfazer e presentear sua sobrinha( pois era filha de seu irmão com Herodias) que naquele momento de bebedice se transformava em objeto de desejo e sedução de todos os presentes… A menina parecia assustada e insegura; de repente, o encanto pareceu desaparecer, e a figura de adolescente de quatorze anos voltou, correndo na direção de sua mãe para saber o que falar, o que pedir, afinal, metade do reino era muita riqueza! “Mãe, o que devo pedir a ele?” sussurrou ela ao ouvido de sua mãe que estava junto ao grupo de mulheres que estavam em outra área do hall juntas admirando aquela bailarina, vendedora de desejo…”a cabeça de João, o Batista!” respondeu a mãe no mesmo nível de voz, porém com total segurança. Salomé, após hesitar por um momento, levantou sua cabeça e andou na direção de Herodes, formosa, linda, seminua, brilhante, cativante, movendo-se com leveza, sensualidade e desejo. Na frente de todos ela formula seu pedido: “Quero a cabeça de João, o Batista”.
Herodes empalideceu, olhou a sua volta, coçou a barba, tentou uma negativa, mas o murmúrio de seus circunstantes, relembrando sua promessa, o intimidou, pois um rei não pode deixar de cumprir seus juramentos. Chamou dois de seus guardas reais e deu-lhes a ordem imediata!
Os guardas saíram da sala toda coberta em mármore, com muitas tochas, muita gente, muita riqueza, muita fartura, muito vinho, muita luxúria, muito desejo, falsa alegria, muitos olhares mútuos entre homens e mulheres…um lugar onde havia uma aura de desejo libidinoso, e mentes dominadas pela bebedeira. Saindo de lá os guardas foram até a masmorra, onde João estava.
Um lugar muito diferente, escuro, silencioso, com odor fétido, companhia de ratos e aranhas, quase totalmente em trevas a noite, e com pouquíssima luz de dia, que vinha por um pequeno feixe de luz que vinha de cima, de uma pequena janela…alí João ficou injustamente encarcerado por quase um ano, só, isolado do mundo. As vezes, Herodes, movido por sua culpa, permitia que os discípulos de João o visitassem. Uma vez, quando vieram, João mandou que perguntassem a seu primo, o Filho de Deus, se ele era realmente o Filho de Deus?!? Sua luta naquela masmorra era, por vezes, insustentável. Sua dúvida era se valeria a pena estar preso alí por delatar o pecado de um rei adúltero, quando todos se calavam, inclusive os sacerdotes que aceitavam aquela situação??? Várias vezes Herodes conversou com João, argumentou, até berrou de desespero, pedindo que não falasse mais sobre aquele assunto para que pudesse soltá-lo. Porque Herodias o dominava e controlava ardendo em raiva e ira contra João que era o único que tinha coragem para desnudar o pecado dos dois diante de Deus! “Várias vezes tentei mostrar-lhe seu pecado e seu juízo perante Jeová” pensava João enquanto ouvia os passos na direção de sua cela.”Por que estão vindo aqui? Já não é mais hora de receber “visitas”, pensou.
Os guardas abriram a cela que rangeu quando a porta foi forçada. Não pareciam contentes ou mesmo tranqüilos. Eles haviam ouvido João muitas vezes quando lhe traziam comida. Sempre o respeitaram pois viam em seu olhar a verdade e o temiam! “Por que vocês estão aqui?”perguntou. Sem muita conversa, o levantaram, retiraram suas cadeias e o trouxeram a um lugar mais aberto onde havia um tronco. João não havia entendido ainda o que estava acontecendo… parecendo não querer fazer aquilo, mas cumprindo sua disciplina militar, não conseguiram mirá-lo ou mesmo responder sua pergunta. Colocaram seu pescoço apoiado sobre o tronco com a cabeça a frente. João não resistiu. Talvez tenha pensado:”Jeová, minha missão está cumprida. Procurei abrir o caminho para aquele que é maior do que eu, cuja vida vale meu sacrifício. A tí entrego meu espirito”. Wuuupttt!!! Sua cabeça rolou ensangüentada e seu corpo ainda apresentou algumas convulsões devido a contrações reflexas do trauma mortal. Os guardas tomaram aquela cabeça, e a colocaram em um prato de prata, incrustado com pedras preciosas que o rodeavam externamente. Ao entrarem na sala, onde todos bebiam e conversavam enquanto esperavam o cumprimento da ordem do rei, houve silêncio e , repentinamente um grito!! Salomé, ao ver aquela cabeça ensangüentada se assustou, talvez chocada…arrependida?! Bem, Herodias, sua mãe, ao ver a cabeça ser colocada sobre a mesa, levantou sua taça na direção de Caifás, que estava assentado em uma mesa próxima a de Herodes, junto com um seleto grupo de seus sacerdotes, com um ar de triunfo…
De novo, ao saber de toda essa história por alguns amigos que conheciam os vigias de Pilatos, que tudo presenciaram, pensei:”Senhor, porque teu Filho não pode evitar a morte deste profeta? Por que um profeta morre pelo capricho de homens poderosos deste mundo? Por que o Messias não vem em força com seu exército e destrói estes assassinos de profetas?” Chorava, enquanto ia pensativo para a casa da Miriam, com a necessidade de achar algum conforto, desesperado para tentar encontrar Jesus e perguntar tantos porquês!
Eu, Nabih, filho de Izhar, prometi a mim mesmo, que lutaria por me separar para Deus, o Senhor, lutar contra o desejo da carne, pois a adoração a Deus envolve espírito verdadeiro, alma sujeita e corpo separado para Ele! João era meu exemplo, meu modelo…”e se minha vida for pedida para pagar o preço da verdade, estarei pronto??”
continua
@gersonortega gjortega@uol.com.br
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