Não é nenhuma novidade que a vida cristã se inicia no momento em que um pecador se arrepende. Jesus disse isso de forma clara ao afirmar que, para marcar a ocasião, acontece até uma festa nos céus1 !
Apesar disso tudo, nosso coração continua sendo mau, mesmo após esse processo de conversão. O arrependimento e a nova vida não retiram de nós os desejos de pecar e nossa alma continua insistindo em demandar mais e mais de suas vontades, fazendo com que o arrependimento seja algo que devemos experimentar durante toda caminhada. Além do mais, nosso coração também continua sendo mestre em nos enganar. Bem disse o profeta sobre ele: é mais enganoso do que qualquer coisa e é extremamente perverso2. Pare e pense por um minuto: a natureza humana que existe dentro de mim e de você consegue nos enganar tão facilmente e chega a estar corrompida a tal ponto que não é possível medir a profundidade de sua maldade! Por isso é necessário (necessário mesmo!) que a obra de arrependimento e conversão venha de fora de nós3.
O problema todo é que nosso coração pode (e muitas vezes consegue) fingir arrependimento e aí mora o grande perigo: esse fingimento não traz perdão e não transforma a vida do pecador. A festa que era para ter acontecido nos céus, não aconteceu! Conhecemos esse fingimento por um nome muito característico: remorso e é extremamente importante que saibamos diferenciá-lo do arrependimento genuíno.
Há uma maneira de ouro de sabermos se o que sentimos é arrependimento ou remorso: você se arrepende pelo que fez ou pela consequência do que fez? De forma bem resumida, arrependimento verdadeiro é aquele sentimento de tristeza profunda por algo de errado que fazemos, enquanto remorso é um sentimento de tristeza profunda pela consequência do erro.
Um ladrão pego em flagrante e que dá depoimentos “arrependidos” na TV por ter sido preso está sentindo remorso – ele foi pego no ato e não quer pagar por isso. Um ladrão que devolve o que roubou e se entrega mesmo não tendo sido pego pela polícia, sentiu arrependimento e está disposto a reparar o dano que causou. O interesse do arrependido é arrumar uma maneira de reparação4, enquanto o interesse daquele que sente remorso é arrumar uma forma de se safar. Vê como não se trata de choro, de desespero ou cinzas sobre a cabeça? Isso tudo pode ser manifestações de arrependimento ou de remorso!
O interesse do arrependido é arrumar uma maneira de reparação, enquanto o interesse do que sente remorso é arrumar um jeito de não sofrer a consequência.
Um exemplo clássico de remorso e arrependimento é Saul e Davi. Quando lemos textos sobre os dois, tendemos a pensar nos moldes de vilão e mocinho: Saul é o vilão e Davi é o mocinho. Besteira. Ambos são vilões e, em toda a história humana só há um mocinho, que é Jesus. Apesar disso, uma das diferenças entre os dois é que comumente Davi sentia arrependimento, enquanto Saul, remorso.
A Bíblia registra pecados dos dois, mas a postura em relação a eles é diferente: quando Davi foi confrontado com um de seus pecados, se arrependeu prontamente, aceitando a consequência5 e não temos registros de que Davi tenha caído no mesmo erro outra vez. Com Saul, entretanto, a manifestação do remorso vinha, mas ele acabava incorrendo no mesmo erro repetidas vezes6. Além disso, Saul não aceitava a consequência pelo que fazia e lutou contra ela o resto de sua vida. Por conta disso, houve perseguições ferrenhas entre Saul e Davi7.
No final das contas, o fruto do remorso não produz transformação: não há espaço para o vá e não peques mais8, enquanto que no arrependimento genuíno, o pecador se esforça para não cometer mais o mesmo erro9, além de aceitar a consequência por aquilo que fez.
É tempo de repensarmos nossas expressões de arrependimento: são genuínas ou apenas remorso? Nos arrependemos só por medo das consequências do pecado (inclusive medo do inferno) ou nos arrependemos porque nosso pecado, de fato, fere ao Senhor e foi capaz de matar seu Filho? Houve festa no céu pelo pecador que se arrependeu? Talvez seja momento de nos arrependermos de verdade, inclusive do nosso remorso.
1. Lucas 15.7
2. Jeremias 17.9-10
3. Efésios 2.8
4. Efésios 4.28
5. II Samuel 12.13-20
6. I Samuel 15.24-30
7. I Samuel 18, 19, 21, 24, 26
8. João 5.14
9. Gálatas 5.17
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