Uma das cenas mais lindas dos evangelhos e que tem me encorajado nos últimos dias é a da restauração de Pedro em João 21. Há tantas lições nessa passagem. Gostaria de meditar sobre essa passagem nesse dia

Após negar Jesus, Pedro sem saber se ainda seria útil ao Senhor decide voltar a sua vida prévia, antes do chamado de Jesus. Ele diz: “Vou pescar” (Jo 21.3). Creio ter sido João Alexandre que escreveu uma linda canção sobre essa passagem chamada “Vou pescar” a qual eu recomendo. Vários outros discípulos o seguem “Nós vamos também” (Jo 21.3). Uma primeira lição que notamos aqui é que nosso desânimo e desesperança tem o poder de afetar e influenciar as nossas práticas.

Mas Jesus não os deixaria nesse estado. A palavra nos diz que Jesus “tornou a manifestar-se aos discípulos” (Jo 21.1). João diz “Assim que ele se manifestou”. Assim como? Ao analisar a cena veremos que sua manifestação foi cheia de ternura.

Podemos estabelecer vários paralelos e semelhanças entre as coisas que ocorrem nessa manifestação com cenas prévias da vida e caminhada de Pedro. Abaixo apresento algumas dessas semelhanças:

  • Os discípulos nada apanharam (Jo 21.3). Então um homem na praia que lhes chama de Filhos (ternura!), pede que eles lancem a rede mais uma vez e então eles apanham uma grande quantidade de peixes (Jo 21.6). Esse homem era Jesus e só após o milagre eles o reconhecem. Essa passagem é muito similar a Lucas 5.8, quando após um outro milagre de pesca, Pedro disse “Retira-te de mim, porque sou pecador” (Lc 5.8);
  • Quando os discípulos chegam na praia eles veem ali uma fogueira, peixe e pão (Jo 21.9). Que maravilhosa cena, havia um jantar esperando por eles. O evangelho de João nos diz que quando Pedro negou Jesus também havia uma fogueira (Jo 18.18). Talvez essa tenha sido a primeira vez que Pedro viu uma fogueira após negar o Senhor;
  • Jesus os convida a se aproximarem dizendo “Vinde comei” (Jo 21.12). A última vez que ele havia os convidado para comer havia sido na última ceia quando disse “Tomai, isto é meu corpo”;
  • Por último temos que Jesus pergunta a Pedro por 3 vezes “Tu me amas” (Jo 21.15 a 17) talvez para lembrar das 3 vezes que Pedro o negou, confrontando-o;

Estou convencido que essas semelhanças não ocorrem por acaso. Quando sentimos saudades de alguém, as lembranças podem ser dolorosas. Talvez lembrar desses eventos e de tudo que ele viveu com o Senhor fosse doloroso para Pedro. Mas o Senhor usa a própria cena para trazer a mente de Pedro episódios passados de modo a curar seu coração. O Senhor estava relembrando Pedro do que passou para que Pedro soubesse que Ele era fiel e que aquele não era o fim. Haveria um novo começo.

O momento que essa cena ocorre é muito sugestivo: “Ao clarear da madrugada”. Houve um personagem no velho testamento que, assim como nós e como Pedro, errou muitas vezes. Seu nome era Jacó. Certa vez ele tem um encontro com o Senhor durante a noite e luta com o Senhor durante toda a noite. Seu coração rebelde resistia ao Senhor. Contudo, “Ao romper do dia” (Gn 32.24), o Senhor o vence, muda seu nome e o abençoa. Ele então é transformado. A bíblia diz que nesse momento é como se o Sol nascesse para ele “Nasceu-lhe o Sol” (Gn 32.31). O Sol nasce para todos, mas a bíblia faz questão de dizer que o Sol nasceu especificamente para ele: “Nasceu-lhe o Sol”. Que expressão estranha não?

Creio que a intenção do autor é mostrar que a benção de Deus fez o sol nascer sobre a alma de Jacó. Ou seja, ele foi restaurado! João nos diz que o Senhor encontra Pedro “Ao clarear da madrugada”. Creio que o propósito era o mesmo, o Senhor o estava restaurando. Assim como fez com Jacó, o Senhor o confronta para restaura-lo. Bendito seja seu nome!

Certa vez vi um pregador muito querido dizer que Jacó estava na noite negra da alma naquele momento em que o Sol lhe nasceu. Esse termo foi criado por São João da Cruz, um místico católico para falar de períodos de sofrimento especifico que requerem a restauração do Senhor. Eu entendo que esse termo cai bem para Jacó na passagem apontada e também para João. “Ao clarear da madrugada” o Senhor tirou Pedro da noite negra da alma nas margens do mar de Tiberíades (Jo 21.4).

Oremos o Salmo 18.28: “Tu fazer resplandecer a minha lâmpada, o Senhor, meu Deus, derrama luz nas minhas trevas”. Restaura-nos Senhor. Amém!

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