Refiro-me ao fato de cada um de vocês dizer: “Eu sou de Paulo”, “Eu sou de Apolo”, “Eu sou de Cefas”, “Eu sou de Cristo”. Será que Cristo está dividido? 1Co 1.12-13a
O problema
É alarmante o fato de uma igreja tão nova ser tão problemática. Paulo esteve em Corinto por um ano e meio no trabalho de evangelização e plantação da igreja (51-52 d.C.). Ele escreveu para eles entre 54-55 d.C., ou seja, a igreja de Corinto tem no máximo três anos de existência. Veja como eles já estão, quantos problemas há no meio deles! Se de um lado, plantar igreja exige tempo e esforço, de outro, dividi-la é muito mais fácil e pode acontecer rapidamente.
O primeiro problema apresentado pelo apóstolo nessa carta é a “divisão partidária”. Vemos que os membros dessa igreja estavam se “filiando” aos seus líderes de preferência. Existia o PP – Partido Paulino; PFA – Partido filosófico de Apolo (lembre-se que ele era de Alexandria e um excelente comunicador At 18.24); PCC – Partido Conservador de Cefas (provavelmente judeus convertidos seguidores do apóstolo Pedro); PCdoB – Partido de Cristo do Bem, aqueles que diriam que só seguem Cristo e não precisam de nenhum líder.
Agora, que fique bem claro que o estava acontecendo nessa igreja não era um problema na liderança. Paulo não era contra Apolo, Cefas, muito menos contra Cristo. Nas vezes que Paulo cita Apolo nessa carta é sempre com um tom positivo (veja 1Co 3.6, 22; 16.12). Aprendemos, portanto, que é possível termos uma liderança saudável, mas ainda assim sermos uma igreja doente!
A raíz do problema
Ficaremos apenas na superfície se pensarmos que o que estava acontecendo era só uma questão de sectarismo. Se lermos com atenção o argumento de Paulo (1.10 – 4) veremos que o diagnóstico que ele nos oferece é seríssimo. Para Paulo, a raiz do problema era o ORGULHO. Veja:
a fim de que ninguém se glorie na presença de Deus […] para que, como está escrito, “aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (1Co 1.29, 31).
Portanto, ninguém se glorie nos homens. Porque tudo é de vocês: seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é de vocês, (1Co 3.21-22).
E o que é que você tem que não tenha recebido? E, se o recebeu, por que se gloria, como se não o tivesse recebido? (1Co 4.7)
A “glória própria” era o verdadeiro diagnóstico de Paulo para esses irmãos (1Co 4.6b). Ao escolherem seus líderes de preferência, estavam na verdade afirmando a si mesmos, nutrindo suas próprias paixões, dizendo que estavam certos em suas convicções, achando que eram superiores aos demais por fazerem parte de determinado partido.
Nós sabemos como isso funciona…
Em um mundo em que somos massacrados com a exposição de pessoas mais importantes que a gente, mais bonita, mais rica, mais inteligente, nos sentimos inferiores. Para resolver esse problema de identidade, nos apegamos a alguém, escolhemos nossos ídolos: “Eu sou da igreja do Pr. Fulano de Tal”; “Eu sou amigo de Ciclano”; “Eu tenho foto com Beltrano”. Estamos sempre tentando demonstrar a nossa relevância/identidade naquele em que nos associamos.
Da mesma maneira, aqueles que eram de “Paulo” se orgulhariam em terem recebido a mensagem do evangelho diretamente da parte dele, se orgulhariam em serem os “fundadores” da igreja. Os de “Apolo”, se achariam mais intelectuais e dariam preferência a uma linguagem mais rebuscada. Os de ‘Cefas”, talvez se gabariam por serem mais conservadores, e até os de “Cristo” revelariam seu orgulho ao dizerem que não precisam de liderança, são autossuficientes. Em todos os casos o problema era o mesmo: orgulho!
A cura do problema
A boa notícia é que Paulo não só demonstra a doença, mas nos oferece a cura – o evangelho. Por duas vezes nessa passagem Paulo faz menção à cruz de Cristo. A primeira de um modo indireto, e a segunda citação é bem clara:
“Foi Paulo crucificado em favor de vocês?” (1Co 1.13).
“…para que a cruz de Cristo não seja esvaziada” (1Co 1.17).
O apóstolo introduz a mensagem da cruz a esses irmãos orgulhosos (1Co 1.18; 2.2, 8). A razão para tal é que perante a cruz de Cristo tudo é nivelado, somos todos pecadores! Se Cristo morreu para nos reconciliar com Deus, a postura de todos que se achegam perante o Cristo crucificado é a mesma, humilhação.
Perante a cruz de Cristo não há lugar para os grandes, poderosos, sábios, partidários, fortes, importantes. Não há lugar para o mérito próprio. Todos têm a mesma necessidade. Perante a cruz de Cristo um bandido pode dizer: “Jesus lembre-se de mim quando vier o seu Reino” (Lc 23.42), mas também, um centurião diz: “verdadeiramente este homem era o Filho de Deus” (Mc 15.39). Um ladrão e um centurião, diferentes em nível social e moralidade, mas com a mesma necessidade.
Mais adiante em seu argumento, Paulo diz que Cristo é a nossa “santidade, justiça e redenção” (1Co 1.30). Ele quer nos ensinar que Cristo é de fato tudo o que precisamos, nossa satisfação e valor se encontram nele. Sendo assim, a nossa necessidade em afirmar nossa identidade em algo ou alguém é saciada. O evangelho cura o nosso orgulho!
Igreja, nós somos o povo da cruz, fomos reconciliados com Deus e com o próximo pela obra de Cristo. Não deve haver divisões no nosso meio. Não podemos dizer com nossas ações que “Cristo está dividido”. Sejamos promotores da paz e da união. Sejamos os primeiros a zelar pela glória e testemunho de Cristo no meio da nossa comunidade. Façamos de tudo para preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz (Ef 4.3). Travemos constante guerra contra o nosso orgulho, tendo sempre Cristo crucificado diante de nós.
Autor: Thiago Guerra
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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