Alguns anos atrás, conversei com um homem cujo negócio era ajudar as pessoas a planejarem o futuro. Ele me perguntou sobre meus objetivos, sobre o que eu gostaria de realizar na vida. Ao fazer esse exercício, notei que uma coisa estava visivelmente ausente dos meus objetivos: não havia nada sobre justiça.
Pensei: “O que há de errado com esta situação? Como pode um cristão estabelecer metas de vida e não ter, como objetivo principal, a justiça, do ponto de vista de Deus?” Não disse nosso Senhor: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas”1? Uma das coisas mais assustadoras que Jesus disse foi a advertência de que “se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus”2. Os fariseus se dedicavam à busca da justiça, mas isto acabou se tornando uma busca distorcida de justiça própria. É fácil confundir busca por justiça com busca por justiça própria inflada. Mas isto não exclui o dever que Cristo nos dá de buscarmos primeiro o reino de Deus e a Sua justiça.
Isso fica claro nas bem-aventuranças, onde Jesus pronunciou uma bênção sobre as pessoas cujo objetivo é a justiça: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos”3 . Ele não disse: “Bem-aventurados aqueles cujo objeti
vo é a justiça, pois eles alcançarão seu objetivo”. Nem disse: “Bem-aventurados aqueles que têm desejo de justiça, pois eles alcançarão o desejo do seu coração”. Ao contrário, Ele falou em termos diários, se referindo à uma fome intensa. Não devemos simplesmente buscar a justiça ou ter a justiça como objetivo; devemos sentir fome e sede de justiça.
Às vezes, vemos os atletas que ganham tanto dinheiro tenderem a descansar em seus louros e sem motivação para vencer. Às vezes, os comentaristas olham para essas estrelas e dizem que elas não têm fome, enquanto que o jovem jogador ainda não consagrado, que não recebe fortunas, está faminto. Ele está se esforçando ao máximo. Quando alguém é apaixonado pelo que faz, dizemos que ele tem fome disso. Jesus não estava dizendo: “Bem-avent
urados os que estão preocupados, de maneira arrogante, com a possibilidade de que, talvez, possam crescer em justiça”. Ele proclamou uma bênção sobre os que estão famintos por isso. Bem-aventurados aqueles cuja sede de justiça é uma paixão que os consome.
O que diz o Novo Testamento sobre o próprio Jesus? Que o zelo pela casa de Seu Pai o consumia4 . Essa linguagem gráfica significa que a paixão de Jesus pelos afazeres de Seu Pai celestial o devorava. Seu alimento era fazer a vontade de Seu Pai. Portanto, o próprio Jesus foi retratado como um homem que buscava apaixonadamente a justiça, e que alcançou o que estava buscando. Não havia como Jesus ter sido mais justo do que Ele foi, mas em sua natureza humana, Ele tinha fome de justiça.
Estamos condicionados a nos definir por aquilo que fazemos, e não por nosso caráter. No entanto, Jesus pronunciou essa bênção se referindo ao caráter: bem aventurados os que têm fome e sede de justiça. Ele afirmou que este não seria um esforço infrutífero, pois prometeu: “serão fartos”. Frequentemente, os ensinamentos de Jesus, especialmente no Sermão do Monte, fazem eco a sentimentos que se encontram em Isaías. Em um texto, Deus diz o seguinte: “Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se seca de sede; mas eu, o SENHOR, os ouvirei, eu, o Deus de Israel, não os desampararei. Abrirei rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales; tornarei o deserto em açudes de águas e a terra seca, em mananciais. Plantarei no deserto o cedro, a acácia, a murta e a oliveira”5.
A promessa que Deus fez, numa terra seca e árida do deserto, era de que Ele saciaria os que estão famintos e sedentos por Ele. Ele disse: “Ah! Todos vós, os que tendes sede, vinde às águas; e vós, os que não tendes dinheiro, vinde, comprai e comei; sim, vinde e comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite”6 . Nós nos alimentamos com o pão da vida, o pão que desceu do céu, que alimenta a alma e preenche o espírito humano.
Em última análise, desejamos a aprovação de Deus; mas o aplauso dos homens pode ser ensurdecedor, e isto pode nos levar a desviar nossa atenção para alcançar tudo o mais, e não aquilo que Cristo estabeleceu como prioridade para o Seu povo: sermos justos. Ser justo não é tão complicado; significa fazer o que é certo. É preciso ter paixão por fazer o que é certo.
Por R. C. Sproul
Coalizão pelo Evangelho
1. Mateus 6.33
2. Mateus 5.20
3. Mateus 5.6
4. João 2.17
5. Isaías 41.17-19
6. Isaías 55.1
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