-Sabe a história do cego curado? -Sei, claro. -Bonita, né? -Linda, mesmo. -É. Também acho. Mas e quando você não quer ver o mundo e nem as pessoas e nem o cenário ao seu redor? E quando é mais fácil ser cego?
Hm.. essa é difícil.
-E a história do paralítico, tá lembrado? -Opa, paralítico curado, lembro sim! Foi um milagre! -Foi sim. Mas e quando você não quer se movimentar? E quando você não quer ir a lugar nenhum? E quando você quer sentar quieto e ver a vida e o mundo passar na frente do seu nariz?
Hm.. essa é difícil.
-E o mar, hein? O mar vermelho. Coisa colossal, né não!? -Pô, o mar vermelho! Deu até filme, né? -É, deu.. Mas e quando você correu tanto, fugiu tanto, que não quer uma intervenção divina, e prefere afundar? E quando você tá na frente do marzão e o impulso é mergulhar bem fundo, se afogar mesmo, até o mundo ficar em silêncio, e você descobrir outro mundo lá embaixo? Como é que fica quando você prefere o descaso ao milagre?
Hm.. essa é difícil.
Sempre me intrigou uma coisa em Jesus. Ele curou muita gente, mas não pediu pra todos irem com ele, após a cura. Jesus tocou nas pessoas, conversou com elas, algumas delas pegaram suas trouxinhas e se mandaram com aquele cara que curava tudo e todos. Alguns não quiseram seguir Jesus, ok, cada um cada um, mas e aqueles pra quem Jesus não pediu nada, a não ser “vai em paz” ou “vai e não faça mais besteiras”.. As vezes a religiosidade faz a gente pensar que isso é uma coisa horrível de se dizer, né? Afinal, só teve história pra contar os que mudaram completamente de vida e seguiram Jesus.
Será?
O fato de Jesus não ter chamado todos para o seguir, tem uma razão de ser. Claro que tem. Primeiro, ninguém é igual a ninguém. Segundo, Jesus não veio criar um clube. Terceiro, o mundo, a vida, a terra, as pessoas, precisam que outras pessoas ocupem-se de coisas diferentes. Quarto, depois que você tem uma experiência com Deus, a experiência anda com você, onde quer que você vá. Quinto, não há história melhor contada do que um testemunho diário, de fatos reais, que comprovem o que antes eram só palavras. Quer dizer, você já pensou se todos os cegos seguissem Jesus estrada afora? Quem é que acreditaria na história da cura, se todos os curado estivessem no mesmo lugar?
Isso nos leva a um outro lance:
A sua experiência espiritual existe com um destino. Mesmo se o destino for o de ficar onde você está. Nem todos são pastores, nem todos são missionários, nem todos são velozes, nem todos falam inglês, nem todos gostam de viver na estrada, nem todos têm facilidade em ficar longe de casa. Você acha que o amor de Deus pelas pessoas muda de acordo com o que elas estão fazendo com suas experiências espirituais?
Sabe, alguns estão pregando. Outros, estão sendo bons profissionais. Uns estão escrevendo blogs, outros estão andando de skate. Uns estão fazedo teologia, escola dominical, estão orando três vezes ao dia, estão jejuando, orando nos hospitais, orando de madrugada. E outros estão sentindo Deus da mesma forma, enquanto andam de avião pela primeira vez. Enquanto têm uma idéia genial, enquanto ensaiam apresentações para reuniões importantes, enquanto estudam, casam-se, lêem um livro, assistem a um culto no meio de mil pessoas, todas desconhecidas para ele.
O que você está fazendo, não é o que te define pro completo. Mas a sua experiência de cura, salvação e restauração, precisa utilizar-se do que você está fazendo. Seja o que for. É por isso que Jesus não chamou todo mundo pra andar com ele, e ainda assim, tantos sentiram-se escolhidos, acolhidos, amados, curados, sentiram-se especiais. Jesus nunca estipulou uma regra. As vezes ele deixou que os feridos se chegassem à ele, e outras vezes ele foi em direção aos feridos. Houve dia em que Jesus disse “Me segue” e outro dia ele disse “Venha à mim, e de forma alguma você vai sair sem nada” Ou seja, Jesus sabia que precisaria dar coisas à pessoas, para que elas não fossem embora sem nada. Ele sabia que nem todos iriam com eles, porque ele já sabia uma coisa que nós lutamos todos os dias para saber: ninguém é igual a ninguém, e ao mesmo tempo é exatamente isso que faz de nós, seres iguais, ninguém melhor que ninguém. Deus é para todos, precisa de todos, mas precisa que todos estejam em todos os lugares.
Então quando a questão ficar difícil, não esquece:
1- Se você era cego e não quer enxergar as coisas ao seu redor, lembre-se que essa é a única escolha que você não pode fazer. Deus te deu visão das coisas e isso muitas vezes faz você sofrer. Enxergamos a sacanagem, o desrespeito, a injustiça, a malandragem, a mentira. E se você quer saber, continuaremos vendo essas coisas. Mas vez ou outra, como um bálsamo para nossos olhos cansados, aparece alguém procurando por você. Alguém que precisa ver um milagre vivo, um milagre que tenha resistido à toda meleca dos dias de hoje. E aí você vai olhar nos olhos dessa pessoa e dizer que não é mais cego. E a pessoa que te ouvir, ainda que não entenda, vai ter certeza de que Deus existe, de que coisas maiores existem, e você será a prova de que ainda existe verdade no mundo. Você será a prova da verdade. É possível não estar em todas as cidades que Jesus está, e ainda assim, ser portador de Jesus. É possível ser um anônimo cheio de Deus. Uma pessoa comum com um segredo espiritual dentro do coração: você não é mais o mesmo. Ainda que a rotina, a vida, a família e a vizinhança sejam. Você enxerga as coisas como são. E nada é como antes. Nada.
2- Se você era um paralítico mas depois de um tempo não tem a menor vontade de ficar de pé, lembre-se que o maior movimento já aconteceu dentro de você, e que é tarde demais porque você sabe andar. Você sabe correr. Você sabe ir atrás das coisas. Ainda que você negue, isso é uma capacidade que vem de Deus. Muitas vezes, andar no meio desses buracos, implica em cair, e implica em se machucar, e implica em se cansar. Mas um dia, como um impulso que nos faz andar mais depressa, aparece alguém afim de dar os primeiros passos, e esse alguém vê em você inspiração para ousar. Inspiração para acreitar que tem jeito. Inspiração para esticar-se. Nessa hora, você vai entender porque foi curado, porque está de pé, porque é importante manter sua fé inabalável, porque o equilíbrio, apesar de um pouco chato, faz sentido e faz valer as verdade espirituais. Só quem está de pé pode ajudar quem caiu. Um caído não levanta outro caído. Um paralítico curado, ainda que cansado de alguns caminhos, não pode sentar-se pra sempre. Justamente porque sentar-se pra sempre é coisa de quem não é curado. E você foi curado, lembra? Um dia você aprendeu um caminho.
3- Se você está planejando afundar-se na situação ao invés de ver algo extraordinário nela, lembre-se que Deus não é limitado. Que é possível fugir por um milagre e não por um medo. Aquela história do mar vermelho é sobre isso. Não é sobre água, é sobre escape, possibilidade, criatividade, fé. Geralmente quem acredita nessas coisas, vive pressionado por um exército de chatos que vem logo atrás, te empurrando pra água, te fazendo apelar para o desespero. Mas um dia, como um milagre improvável, indizível e inacreditável, o mar se abre. Um telefone toca, uma pessoa manda um email, um novo amor acontece, um dinheiro entra e se não entrar, uma paz entra, ou um conselho aparece, ou Deus fala com você através da pessoa certa, na hora certa, no lugar certo. E você, por mais agitado, desesperado que esteja, precisa acreditar que esse caminho vai se abrir. Porque quando você chegar do outro lado, a sua missão de ser o louco que acredita no que ninguém acredita, vai continuar. Dessa vez, com um pouco mais de respeito, afinal, você atravessou a seco.
Esse texto é para quem tem Deus mas ainda não vive no céu. Pra você que sabe que ele passou por você, tocou em você, mas curiosamente, não pediu para que você abandonasse sua cidade, seu emprego, seus planos sinceros para o seguir. É pra você que sabe que chamado e missão é, a difícil tarefa de continuar sua história. Agora, com marcas sobrenaturais que ajudam a contar quem você é nesse mundo complicadinho. É para quem está aqui e pretende ficar um pouco mais.
Texto de Luciana Elaiuy
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