Há grande segurança na salvação que vem do Senhor. Deus nos escolheu em Cristo antes da fundação do mundo, e sua decisão permanece. O Espírito Santo nos fez nascer de novo, e não há meios pelos quais possamos destruir a vida que ele nos deu. Todo crente foi crucificado com Cristo, e em nenhuma parte da Escritura vemos uma maneira pela qual possamos não ser crucificados. Todo aquele que crê em Jesus Cristo é justificado, e nenhuma obra do homem ou de Satanás pode anular o veredito de Deus. Jesus exerce cuidado soberano sobre todo o seu povo. Aqueles que estão em suas mãos não podem ser tirados dele. Ainda assim, apesar da segurança e permanência de nossa salvação diante de Deus por meio de Jesus Cristo, podemos nos encontrar em sofrimento quando nos afastamos da esperança do evangelho.
E nos desviamos. Enquanto o desvio pode vir na forma de ceder à imoralidade, mais frequentemente se disfarça como uma espécie de Cristianismo. Para muitos, a vida cristã é guiada pela precisão doutrinária. Podemos devidamente valorizar nossa herança confessional e ver a importância de uma teologia robusta, mas esse pode se tornar o objetivo pelo qual nos esforçamos, enquanto perdemos a conexão de toda a teologia com o evangelho. O conhecimento muitas vezes “vangloria-se” e o orgulho resultante nos leva à confiança confessional mais que à confiança evangélica. Alguns cristãos baseiam a sua vida espiritual em emoções — os movimentos íntimos do coração que muitas vezes estão conectados com as profundas verdades de Deus. Mas enquanto as verdades de Deus nunca mudam, a nossa experiência destas verdades muda. E quando os sentimentos não estão presentes, nossa fé acaba em crise. Ao encontrar confiança em nossas emoções, nos desviamos do que deveria ser a nossa única esperança na vida e na morte. Muitos de nós perdemos de vista o evangelho enquanto nos concentramos em nossas próprias obras e em quão bem estamos indo espiritualmente. Ao nos medirmos por padrões autoimpostos, acreditamos ser fortes ou fracos, mas em cada caso a correção é encontrada em fazer o nosso melhor, em vez de na obra de Cristo.
Fundamentalmente, o evangelho é esquecido quando já não funciona como nossa esperança e confiança diante de Deus, ou quando se torna não essencial para o viver prático e diário da vida cristã. O evangelho que muitas vezes esquecemos deve ser recuperado e retido para a segurança das nossas almas, e isso é feito através da pregação do evangelho para nós mesmos.
Pregar o evangelho para nós mesmos é chamar a nós mesmos para nos voltarmos a Jesus por perdão, purificação, fortalecimento e propósito. É responder as dúvidas e medos com as promessas de Deus. Meus pecados me condenam? Jesus cobriu-os todos em seu sangue. Minhas obras são insuficientes? A justiça de Jesus é considerada como minha. O mundo, o diabo e minha própria carne estão conspirando contra mim? Nem mesmo um cabelo pode cair da minha cabeça se não for a vontade do meu Pai que está nos céus, e ele prometeu cuidar de mim e me guardar para sempre. Posso realmente negar a mim mesmo, carregar minha cruz e seguir a Jesus? Sim, porque Deus opera em mim o querer e o realizar segundo o seu próprio prazer. É a isso que se assemelha pregar para nós mesmos.
Essa pregação privada e pessoal só pode acontecer quando a Palavra de Deus é conhecida e crida; quando a lei de Deus revela nosso pecado e desamparo, e sua graça cobre esse pecado e supera as nossas fraquezas. Pregar o evangelho para nós mesmos não é simplesmente o ato de estudar a Bíblia (embora possamos pregar para nós mesmos nesse ato), mas é nos chamar ativamente a crer nas promessas de Deus em Jesus, seu Filho.
Pregamos para nós mesmos através das disciplinas da oração e meditação nas Escrituras. Na oração, buscamos a Deus para satisfazer graciosamente as nossas necessidades, e no ato em si exercemos fé. Em sua exposição da Oração do Senhor, Thomas Manton disse: “A oração… é uma pregação para nós mesmos na audiência de Deus. Nós falamos a Deus para nos confortar, não para a sua informação, mas para a nossa edificação”. As promessas do evangelho na Palavra de Deus nos guiam na oração, levando-nos à segurança da obra e sacrifício de Jesus. Pela meditação, lembramos o evangelho; pela oração, reivindicamos o evangelho como a nossa grande esperança.
A maioria de nós precisa redescobrir o evangelho. E tal redescoberta é necessária diariamente, porque nossa necessidade está sempre presente e nossos corações são propensos a se desviar. Mas a recuperação do evangelho só acontece quando nós sentimos o fardo dos nossos pecados, a fraqueza da nossa carne e a fragilidade da nossa fé. Isso significa que somente aqueles que sabem que são pecadores indignos e que a Palavra de Deus é verdadeira descobrirão que o evangelho não é apenas uma boa notícia, mas uma boa notícia para as suas próprias almas.
Autor: Joe Thorn
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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