2 de setembro de 1666, foi o dia em que o Grande Incêndio de Londres começou. Foi um incêndio devastador que durou quatro dias. Ele consumiu 13.200 casas, oitenta e sete igrejas (incluindo a Catedral de São Paulo) e a maioria dos edifícios do governo. Estima-se que tenha destruído as casas de 70.000 dos 80.000 habitantes da cidade. O incêndio começou na casa do padeiro do rei Carlos II, Thomas Farriner. Na noite de 1º de setembro, Farriner não conseguiu apagar adequadamente o forno. Ele foi para a cama e, por volta da meia-noite, fagulhas das brasas ardentes acenderam a lenha ao lado do forno. Em pouco tempo, sua casa estava em chamas. Farriner conseguiu escapar com a família e um criado pela janela do andar de cima, mas um assistente do padeiro foi alcançado pelas chamas. O fogo então aumentou e se espalhou por toda a cidade.
Algo que começou como um pequeno incêndio, por não ter sido tratado adequadamente, tornou-se um inferno devastador que causou uma quantidade incrível de danos. Da mesma forma, um pequeno problema na igreja que não é tratado adequadamente pode se tornar um grande problema com graves consequências.
A igreja primitiva enfrentou uma situação que poderia ter se transformado em um desastre em potencial. Em Atos 6, lemos: “Ora, naqueles dias, multiplicando-se o número dos discípulos, houve murmuração dos helenistas contra os hebreus, porque as viúvas deles estavam sendo esquecidas na distribuição diária” (v. 1).
Havia um problema na igreja de Jerusalém – um problema que foi causado (pelo menos em parte) pelo crescimento da igreja. À medida que as boas novas de Jesus, o Messias, se espalhavam por toda a cidade, não apenas os judeus de língua hebraica ou aramaica eram convertidos, logo os judeus de língua grega (helenistas) também foram adicionados à igreja. Mas com mais pessoas vieram mais necessidades. Logo, alguns membros dessa nova minoria estavam sendo ignorados ou maltratados. Ou seja, algumas das viúvas estavam sendo negligenciadas quando os alimentos eram distribuídos pela igreja aos necessitados.
Isso pode parecer uma questão relativamente menor, mas poderia ter levado a consequências potencialmente desastrosas. Primeiro, é um pecado grave negligenciar os fracos e vulneráveis. Paulo ordena à igreja a “Honrar as viúvas verdadeiramente viúvas” (1Tm 5.3), e Tiago nos diz que a religião pura e imaculada inclui visitar órfãos e viúvas nas suas tribulações (Tg 1.27).
Segundo, isso afetaria a unidade dos crentes e poderia levar à primeira divisão da igreja. O que começou como um pequeno incêndio na igreja poderia ter se espalhado facilmente se não fosse tratado imediatamente. As queixas não respondidas das viúvas de língua grega teriam levado outros a escolherem lados, provavelmente fazendo com que a minoria desprezada se unisse e depois se separasse dos outros.
Terceiro, isso teria afetado o progresso do evangelho. Observe que Atos 6 começa declarando que a igreja estava crescendo e aumentando em número. Certamente, esse crescimento teria sido severamente afetado se os apóstolos não tivessem apontado líderes para resolver com habilidade o problema. De fato, por causa da obra dos sete homens, lemos que “Crescia a palavra de Deus, e, em Jerusalém, se multiplicava o número dos discípulos; também muitíssimos sacerdotes obedeciam à fé” (v.7). O fogo potencialmente desastroso foi apagado e a igreja continuou a florescer.
Embora o termo diácono não seja usado em Atos 6, é justo ver os sete homens como protodiáconos. Os apóstolos eram aqueles dedicados “à oração e ao ministério da palavra” (v.4). Hoje, esses deveres são dados aos presbíteros que devem ser “aptos para ensinar” (1Tm 3.2), e aqueles que “governam bem” são “merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (5.17). Assim, como os apóstolos, os presbíteros são chamados ao ministério da Palavra.
Os diáconos, por outro lado, são requeridos a fazer o que for necessário para liberar os presbíteros para se concentrarem em seu chamado principal. Depois que os apóstolos receberam a queixa, eles convocaram a igreja e disseram: “Não é razoável que nós abandonemos a palavra de Deus para servir às mesas” (At 6.2). A questão não era que servir comida às viúvas estivesse abaixo deles. Jesus já havia lhes ensinado que ser líder em seu reino é diferente de ser líder no mundo (Mt 20.25-27). Ele já havia humildemente lavado pés para demonstrar liderança servil (Jo 13.1-20). Em vez disso, a questão em jogo era o chamado. Curiosamente, os apóstolos afirmam que não era “razoável” (literalmente, “agradável”) abandonar seu chamado principal para fazer algo que os outros podiam fazer. Hoje, os presbíteros são chamados para cuidar das necessidades espirituais da igreja (pastorear, ensinar, orar), enquanto os diáconos são chamados para cuidar das necessidades físicas da igreja.
Idealmente, a maior parte do serviço que os diáconos realizam é proativo e não apenas reativo. Os vários deveres dos diáconos dependem das necessidades de cada igreja local. Em Atos 6, a necessidade girava em torno de ajudar as viúvas negligenciadas. Hoje, os diáconos costumam servir a igreja em assuntos relacionados a instalações, finanças, caridade e logística.
Embora o ofício de diácono seja frequentemente negligenciado na igreja, sua importância dificilmente pode ser superestimada: os diáconos servem fielmente à congregação, permitem que os presbíteros se concentrem em seu chamado principal e, quando necessário, lidem com situações delicadas de crise. Talvez seja por isso que o apóstolo Paulo escreve: “Pois os que desempenharem bem o diaconato alcançam para si mesmos justa preeminência e muita intrepidez na fé em Cristo Jesus” (1Tm 3.13).
Autor: Benjamin L. Merkle
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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