“Louvor incessante, canções apaixonadas, desejo de vencer, unidade de espírito, adoração direcionada, lamento pelas falhas, lotação máxima, e tudo em um lindo santuário”. Isso pode soar como um culto religioso, mas na verdade foi a experiência que tive há alguns anos em um jogo de futebol profissional na Inglaterra. Apesar do lugar, foi encorajador ouvir homens cantarem com paixão, uma paixão que muitas vezes falta na adoração congregacional.
Desta forma, os esportes profissionais revelam que fomos criados para adorar, celebrar a glória e admirar a excelência. Nós somos adoradores. Não está em questão se adoramos, mas o quê ou quem adoramos. E atualmente, muitos adoram os esportes de uma forma ou de outra. Passei tempo suficiente em vários ambientes esportivos (como atleta, torcedor e treinador) para compreender que tanto homens como mulheres, meninos ou meninas, podem ser muito apaixonados pelo esporte e pelos times que torcem. No entanto, parece que os homens e os meninos são mais sujeitos à idolatria ao torcer pelos seus times favoritos.
Paixões mundanas
Praticar esportes e torcer pelo time favorito não é necessariamente um problema (como eu disse, já fui jogador, torcedor e treinador). Porém, como tudo na vida cristã, devemos aprender a administrar sabiamente os dons de Deus. No entanto, às vezes fazemos mau uso desses dons e nos tornamos mundanos em nossos pensamentos e atitudes. João nos diz: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo” (1 João 2.15). Isso não significa que não podemos amar uma bela paisagem ou uma boa refeição, mas que precisamos ter cuidado para não amarmos as coisas criadas em vez do Criador. No mundo estão “a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida” (1 João 2.16). As equipes esportivas profissionais oferecem grandes oportunidades para que os desejos mundanos cheguem à sua máxima expressão.
Deus nos criou com desejos bons, como o desejo de amar ou de dar vazão à nossa alegria. No entanto, a nossa natureza pecaminosa corrompe facilmente esses desejos e faz com que amemos coisas que não deveríamos amar, ou da forma ou intensidade que não se enquadram nos propósitos dados por Deus. Os gregos costumavam falar de quatro paixões, e Agostinho e outros as viam como ferramentas úteis para analisar e compreender o comportamento humano: (1) o desejo, que é o bem desejado; (2) a alegria, que é o bem obtido; (3) o medo, que envolve um mal a ser evitado e o bem ameaçado; e (4) o luto, que ocorre quando um mal acontece e o bem se perde. Essas paixões correm soltas entre muitos fãs de esportes, e onde paixões fortes caminham soltas, é necessário proceder com muito cuidado.
Os fãs apaixonados de esportes desejam a alegria da vitória, mas em muitos casos, o medo da derrota e a dor que a acompanha pode revelar quão desordenadas podem ser as nossas paixões. Já ouvi muitos jogadores, treinadores e torcedores dizerem que odeiam perder mais do que amam ganhar. Para muitos, o esporte é a janela mais clara para a sua alma, onde demonstram mais alegria ou tristeza do que em qualquer outra área da vida.
Torcedores escravizados
Ao diagnosticar se o esporte tem um impacto prejudicial nas nossas vidas, devemos nos fazer algumas perguntas. Por exemplo, será que o nosso amor pelo esporte nos afasta do culto coletivo no Dia do Senhor ou nos distrai consistentemente durante o culto? Como em todas as áreas, podemos desfrutar de Deus e dar graças a ele através do nosso prazer nos esportes (Efésios 5.20)? Ou estamos apenas satisfazendo desejos egocêntricos? Lembre-se, tudo o que não provém de fé é pecado (Romanos 14.23). Mesmo na esfera do prazer pelo esporte, devemos considerar nossa fé, que também protege as nossas paixões à medida que procuramos o prazer como povo de Deus que desfruta dos vários dons que ele nos deu. Devemos fazer todas as coisas para a glória de Deus, incluindo torcer para times esportivos (1 Coríntios 10.31).
O nosso prazer nos esportes está prejudicando alguém – inclusive a nós mesmos? Alguns homens podem ficar tão angustiados ou zangados quando o seu time perde que descarregam a sua raiva nos outros, até mesmo nos seus próprios familiares. Isto é uma violação do sexto mandamento.
Poderíamos também perguntar: nos entregamos ao prazer de apoiar um time ou esse prazer nos é dado? Em outras palavras, não devemos permitir que as falhas de um time dominem o nosso sentimento durante dias após uma derrota. Quando nos entregamos a alguma coisa, essa coisa nos controla, em vez de sermos nós a controlá-la. A arte de ter prazer nos esportes é lembrar que podemos aprender a estar contentes em quaisquer circunstâncias (Filipenses 4.11).
Digo isso como uma pessoa extremamente competitiva (que odeia perder mais do que gosto de ganhar), mas preciso ver continuamente o sucesso dos times que torço e treino, tanto numa perspectiva temporal quanto eterna. Mesmo temporariamente, não é incrível como podemos ficar tão irritados com homens suados com os quais não temos nenhum relacionamento e que usam uma camisa de cor diferente do outro grupo? Nenhum desses homens suados dá a mínima para os meus sentimentos. Além disso, mesmo quando o seu time vence o campeonato, a alegria dura pouco: agora começa a próxima temporada, onde nos preocuparemos com o treinamento ou com a qualidade dos jogadores recém-contratados.
Maior glória
A solução para o nosso mundanismo e idolatria em relação ao esporte não pode ser encontrada apenas no vazio final de se tornar um torcedor escravizado. Como Thomas Chalmers (1780-1847) argumenta no seu famoso livro O Poder Expulsivo de um Novo Afeto, não se pode destruir o amor pelo mundo apenas mostrando o seu vazio. O amor do mundo – e especificamente um amor desordenado e escravizador pelos esportes – só pode ser expulso por um novo amor e afeição por Deus e que vem de Deus.
Como filhos, o amor a Deus Pai (1 João 3.1) é um deleite que nos liberta da escravidão pela glória do esporte. Portanto, a não ser que o nosso amor a Deus esteja baseado em tudo o que ele fez e fará por nós, ficaremos cada vez mais viciados em atividades mundanas, como os esportes.
Além disso, João também conecta a visão beatífica – ver Jesus face a face – ao nosso amor por Deus. Como filhos de Deus, aguardamos pacientemente o que um dia nos tornaremos: totalmente conformes à imagem de Cristo (Romanos 8.29). Quando Jesus aparecer, “seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1 João 3.2). Tanto o nosso amor pelo Pai como a nossa esperança de sermos semelhantes a Cristo ao vê-lo nos dão a paixão de tornar a adoração a Deus, e não aos esportes, central na nossa vida cotidiana como povo de Deus.
E se os torcedores dos times conseguem se reunir toda semana para se sentar em um lugar quente e desconfortável, cantando em voz alta e gritando para estimular a sua equipa à vitória, não deveríamos também ser capazes de nos reunir com os nossos irmãos e irmãs cada Dia do Senhor para celebrar com mais entusiasmo as vitórias do nosso Rei e as suas glórias eternas?
Autor: Mark Jones
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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