Você já ouviu a palavra antes. É como a escuridão sorrateira que vai se espalhando pela nossa cultura. Muitas vezes ouvimos esta palavra usada como um simples rótulo. Escola “secular”, música “secular”, sociedade “secular”, frequentemente usado sem muita explicação. A preocupação com o secularismo, na verdadeira acepção da palavra, tem crescido somente nos últimos anos e essa preocupação tem crescido por várias razões, incluindo decisões da Suprema Corte, mudanças nas opiniões dos jovens e mudanças na cultura pop.
Mas o que, exatamente, é secularismo? É uma ideologia que promove a ausência de qualquer obrigação relacionada à autoridade ou crença em Deus. É uma forma de ver o mundo onde se reconhece apenas o aqui e o agora, e se o mundo espiritual existe, isso não é uma preocupação para o secularismo, assim, podemos viver como se esse mundo espiritual não existisse. Outra questão é que, em contraste com o forte ateísmo de certas ideologias, como o novo ateísmo ou o comunismo, o secularismo é uma forma mais sutil de ateísmo, nem sempre exigindo que declaremos “não há Deus”. Isso implica em que, simplesmente, Deus não é relevante para a discussão – nunca. Em suas linhas ainda mais perniciosas, o secularismo implica em que Deus seria, na realidade, destrutivo para a sociedade.
O secularismo, por vezes, pode ser óbvio. Por exemplo, a decisão da Suprema Corte no caso “Obergefell v. Hodges”, legalizou o casamento entre pessoas do mesmo sexo nos Estados Unidos. Por essa decisão, o tribunal essencialmente assumiu o direito de definir o casamento, no entanto, as instituições humanas não têm esse direito, esse é um direito que pertence somente a Deus (Gn 2.24; Ef 5. 21-33). Uma vez que o secularismo não reconhece Deus, o homem joga com o nome de Deus para servir aos propósitos de suas próprias imaginações morais. Paulo nos diz que devemos esperar por tais coisas quando o homem abandona a Deus (Rm 1.28).
A decisão, no caso “Obergefell v. Hodges”, não ocorreu, é claro, no vácuo. A revolução sexual dos anos 1960 e 1970 marcou uma rebelião contra a ética sexual cristã. Promoveu a aceitação de sexo e expressão sexual fora do casamento, tanto em nossas vidas pessoais quanto no entretenimento. O tumulto daqueles anos foi acompanhado por uma outra grande decisão da Suprema Corte, em 1973: o caso “Roe v. Wade”, quando o aborto foi legalizado e marcou uma grande mudança de visão na sociedade, que passou da cosmovisão cristã para o secularismo. Essa foi uma decisão consciente em escolher a morte e a vontade do homem em detrimento da vida e da vontade de Deus. “Obergefell” foi apenas um “tiro de misericórdia” em uma reviravolta que vem ocorrendo há décadas.
Outro lugar óbvio, sobre o qual o secularismo tem avançado, é em nosso sistema de educação. A promoção do relativismo moral nas salas de aula contribui para o relativismo moral geral entre os estudantes. A eliminação, nos livros didáticos, de qualquer referência a um Criador, leva ao abandono até mesmo o conceito de Deus.
O secularismo tem surgido, ainda, de várias outras formas em nossa cultura. A aceitação dominante da expressão sexual extravagante, dos movimentos de “direito à morte” e da animosidade geral “em praça pública” em relação às visões cristãs ortodoxas, indica que o secularismo está em toda parte à nossa volta.
Faz sentido que os cristãos reconheçam esses exemplos de secularismo como significativos e procurem formas de resistir a eles. A escuridão sorrateira que vai se espalhando em nossa cultura deve ser motivo de preocupação. Entretanto muitas vezes pensamos no secularismo como algo que existe “lá fora” em vez de algo próximo – algo que pode estar até mesmo em nossos corações. O secularismo também é evidente no materialismo de nossa cultura, em seu desprezo pelo mundo espiritual e no efeito da revolução sexual em nossas vidas. Até mesmo os cristãos podem viver como se as suposições seculares fossem verdadeiras.
O secularismo, sendo um ateísmo sutil, reconhece o mundo material como o único mundo existente, não há mundo espiritual ou vida após a morte, em tal mundo, o prazer material é o bem maior. Tal mentalidade se presta então, a adorar o dinheiro como deus, pois que melhor maneira pode haver para adquirir prazer material do que dinheiro? Essa mentalidade materialista é especialmente aparente na TV, no rádio, enquanto navegamos na Internet, e até mesmo quando dirigimos pela estrada. Comerciais, programas de TV, a “cultura de celebridades” e outdoors incessantemente exigem que compremos algo – qualquer coisa – para nos fazer felizes. Muitas vezes, até mesmo os cristãos são levados, por esses meios, a acreditar que coisas materiais preencherão o vazio em suas vidas. Essas “coisas” nos farão felizes. Se nossos pensamentos estão constantemente em nosso dinheiro, o que comprar e quando comprar, provavelmente já adotamos o modo de pensar de nossa cultura secular. Se nossa alegria está ligada exclusivamente à nossa próxima compra, não estamos adorando a Deus. Pelo contrário, abandonamos a Deus e colocamos um ídolo secular em seu lugar.
O secularismo tem, ainda, entrado em nosso pensamento de outras maneiras sutis. Devido nossa mentalidade materialista, muitos de nós ignoramos ou esquecemos as realidades do mundo espiritual. Paulo nos diz, em Efésios 6, que nossa luta não é fundamentalmente contra os poderes deste mundo, mas contra as “forças espirituais do mal” (v.12). O cristianismo é uma religião que acredita no sobrenatural. Ou seja, acreditamos em um mundo além deste mundo. Nós acreditamos em anjos e demônios, acreditamos no céu e no inferno. Acreditamos que Deus, um ser espiritual, criou os céus e a terra. Se a perda de nossos recursos materiais nos causa total desesperança, por acreditar que não nos resta mais nada, é porque nos esquecemos do Senhor. Se nossa vida de oração é inexistente ou meramente uma obrigação, entendemos mal nossa situação espiritual. Em vez disso, ter uma mentalidade bíblica nos dará uma perspectiva eterna sobre essa vida, permitindo-nos afirmar como Paulo que “Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor” (Rm 14.8). Isso nos levará a orar sem cessar, dando graças em todas as circunstâncias (1Ts 5.16-18), pois sabemos que nosso Senhor já conquistou as forças espirituais ordenadas contra nós.
O secularismo também tem nos levado na esteira da revolução sexual. O vício em pornografia é um problema com o qual muitos cristãos lutam. Basta observar que, o simples fato de assistir ao Netflix ou navegar na Internet requer, muitas vezes, que utilizemos uma “armadura” para podermos enfrentar os desafios de imagens sexualmente tentadoras que nos são apresentadas. Nós geralmente não honramos nossos casamentos como deveríamos. Muitas vezes, inconscientemente, aceitamos o que o entretenimento nos diz a respeito do que homens e mulheres devem ser. Se estamos simplesmente absorvendo as definições de nossa cultura secular de masculinidade e feminilidade, em vez de buscar as Escrituras, o secularismo já se infiltrou em nossos corações. Se nos tornamos insensíveis a imagens sexualmente explícitas ou expomos nossa família a entretenimento inadequado, é provável que o secularismo esteja nos moldando mais do que as Escrituras. Em tal cultura, a Palavra precisa ser verdadeiramente lâmpada para nossos pés e luz para nossos caminhos (Sl 119.105).
Existem, é claro, outras maneiras pelas quais o secularismo se manifesta. As mudanças óbvias de nossa cultura ao longo dos últimos cinquenta anos têm sido chocantes para os cristãos que viam, na sociedade em geral, a preservação da mentalidade dos chamados valores judaico-cristãos. No entanto, as mudanças não devem ser motivo de desespero.
Por quê? As razões são várias. Primeiro, o secularismo não é a dissolução do cristianismo. Deus prometeu que Sua Palavra não retornará a Ele vazia e que as portas do inferno não prevalecerão contra Sua igreja (Is 55.11; Mt 16.18). Além disso, o Novo Testamento não apenas prevê, mas assume o fato que os cristãos serão perseguidos. (1Jo 3.13). Em vez de representar a dissolução do cristianismo, o secularismo representa mais a dissolução do cristianismo nominal. Deus não está falhando na sociedade, e Ele também não está falhando em sua igreja. Ele permanece no controle como sempre.
Em segundo lugar, o status “assumido como certo”, do cristianismo, tem mudado por causa do declínio do cristianismo nominal. Mais e mais jovens estão se identificando como “espirituais, mas não religiosos”. Embora isso possa parecer negativo, na verdade pode ser positivo, pois sem os impedimentos do cristianismo meramente nominal, há mais oportunidades para as pessoas ouvirem a verdadeira mensagem do evangelho. Por exemplo, “mal-entendidos” do evangelho são comuns entre pessoas nominalmente cristãs. Elas frequentemente entendem o evangelho promovendo uma salvação baseada em obras, testemunhar para tais indivíduos requer um passo extra na explicação do evangelho. Além disso, os jovens que cresceram em um lar legalista e nominalmente cristão, mas abandonaram o legalismo de seus pais, muitas vezes não querem nada com o cristianismo. Eles identificam o cristianismo com o legalismo. À medida que o cristianismo nominal desaparece, tais obstáculos ao evangelho são removidos.
É claro que sempre dependemos da obra do Espírito Santo na vida das pessoas para regenerar seus corações. Nunca devemos parar de orar para que Deus salve, mas isso não anula o fato de que um contexto nominalmente cristão frequentemente apresenta um solo difícil para a evangelização. À medida que nossa cultura abandona o cristianismo nominal, nós nos tornamos mais parecidos com Paulo entre os atenienses, que perguntaram: “Poderemos saber que nova doutrina é essa que ensinas?” (At 17.19).
Nós não sabemos o que o futuro nos reserva. Pode ser que Deus promova um grande reavivamento. Pode ser que nossa cultura simplesmente retorne, em grande parte, a uma visão nominalmente cristã das coisas. Pode ser que nossa cultura se torne mais e mais secular. Aconteça o que acontecer, sabemos onde está a nossa esperança. Não é no aqui e no agora, como o secularismo quer nos fazer acreditar. Nossa esperança está na segunda vinda de Cristo, e embora seja tentador abandonar a esperança, devemos nos lembrar de que estamos servindo ao seu reino aqui na terra, enquanto aguardamos sua vinda. Somos forasteiros aqui.
Os Estados Unidos não são o reino de Deus. Nem o Império Romano o foi. Os primeiros cristãos sabiam que o reino de Cristo não é deste mundo. Essa é a razão pela qual o Apocalipse não é um manifesto político terreno ou um manual de instruções exclusivamente dedicado a mudar a cultura romana para Cristo (embora os cristãos, ao servirem o reino de Deus, mudassem a cultura). Pelo contrário, o Apocalipse é a conclusão adequada para a Bíblia, pois é a conclusão adequada para esta era. Mostra-nos a vinda de Cristo do céu em toda a Sua glória para consumação do Seu reino aqui na terra. O “aqui e agora” se tornam em “para sempre”. Jesus Cristo certamente voltará algum dia. Ele trará o céu para a terra (Ap 21. 2). Enquanto isso não acontece, dizemos como o salmista: “Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra”. (Sl 130. 5).
Autor: Thomas Brewer
Fonte: Voltemos ao Evangelho
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