Nós somos sonhadores. O estudante sonha se formar e conseguir um emprego. Solteiros sonham em se casar. Recém-casados sonham com uma casa e filhos. O empresário sonha em ver sua empresa crescer. O missionário sonha ver muitos recebendo a Cristo como Senhor. O pastor sonha com sua igreja cheia de homens e mulheres piedosos alcançando as nações. Nós somos sonhadores.

Mas nós sonhamos e planejamos coisas não somente no longo prazo. Nós planejamos em uma escala menor também. Nós planejamos acordar e tomar café da manhã e fazer tal coisa em casa e estudar e trabalhar e se encontrar com aquela pessoa e ler aquele livro e a lista de planos se renova a cada dia. Nós sonhamos e planejamos, assim como nós respiramos e comemos. É parte do nosso ser.

Não há nada de errado em planejar. Eu iria ainda mais longe: planejar não é somente aceitável, é desejável. O apóstolo Paulo planejou viagens missionárias. Boaz planejou se casar com Rute. E Jesus usou o planejamento da construção de uma torre e o plano para uma batalha como ilustrações de uma fé verdadeira (Lucas 14.26-33). Há sabedoria em planejar.

Mas todos nós já experimentamos a diferença entre “planejado” e “cumprido”. E essa diferença gera a pergunta: “Como eu respondo quando meus planos são amassados como papel e jogados pela janela?”

Uma Resposta Natural

Quando eu digo “natural”, estou falando da reação da carne—nossa natureza pecaminosa.

Eu posso ficar realmente confuso quando meus planos parecem bons e justos, mas por algum motivo o Senhor impede que eles aconteçam. “Por que, Senhor?”. Essa confusão, então, planta sementes de amargura, que se deixadas no solo do meu coração e regadas por constante frustração, podem crescer ao ponto de um desencorajamento paralisante.

Mas, pela graça de Deus, nós podemos responder de forma diferente.

Tomemos Paulo como exemplo. Ele não estava planejando ser preso em Roma. Ele estava planejando ir aos gentios e pregar Cristo e ele crucificado. Um plano maravilhoso. Bom e justo! Mas Deus quis espalhar o evangelho por outra rota. Paulo acabou em uma prisão doméstica. Planos frustrados.

Como ele respondeu?

Uma Resposta Sobre-Natural

Ele respondeu sobrenaturalmente. A carne de Paulo nunca poderia ter feito isso. Ele disse:

Quero ainda, irmãos, que saibam que as coisas que me aconteceram têm até contribuído para o progresso do evangelho, de maneira que toda a guarda pretoriana e todos os demais sabem que estou preso por causa de Cristo… Mas que importa? Uma vez que, de uma forma ou de outra, Cristo está sendo pregado, seja com fingimento, seja com sinceridade, também com isto me alegro; sim, sempre me alegrarei (Filipenses 1.12-13, 18).

A resposta de Paulo ao seu plano frustrado foi uma alegria sobrenatural. Por quê? Porque o evangelho está progredindo (v. 12) através da proclamação de Cristo (v. 18).

Mas, de novo, por quê? Por que Paulo se alegra, se ele não é parte dessa proclamação e os planos dele foram frustrados pelo Senhor?

Contentamento

Porque Paulo aprendeu a viver contente em toda e qualquer situação que ele enfrentava.

Digo isto, não porque esteja necessitado, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Sei o que é passar necessidade e sei também o que é ter em abundância; aprendi o segredo de toda e qualquer circunstância, tanto de estar alimentado como de ter fome, tanto de ter em abundância como de passar necessidade. Tudo posso naquele que me fortalece (Filipenses 4.11-13).

Paulo recebeu o dom do contentamento. Mas ele teve que aprendê-lo. “Porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação” (v. 11).

Contentamento em Cristo é um presente de Deus, mas ele vem até nós através de um processo de aprendizado. E um dos lugares favoritos de Deus para nos ensinar contentamento é na escola dos planos frustrados.

Essas situações nos ensinam de maneira concreta que Cristo é precioso, a graça dele é suficiente e os planos do Senhor são melhores. Quando as coisas estão se desenrolando exatamente como planejamos, nossa alegria pode facilmente estar no sucesso dos nossos planos ao invés de exclusivamente no Senhor.

O teste da nossa fé (e a fonte do nosso contentamento) acontece quando o “planejado” não se cumpre. São nesses momentos que a oportunidade para responder naturalmente ou sobrenaturalmente surge.

E quando nós recebemos graça para nos alegrarmos com o plano diferente de Deus, nossa fé é purificada e Deus é glorificado. Deus não fez um compromisso com os nossos planos. O amor dele é maior o que isso. O compromisso de Deus é nos tornar à imagem do Filho dele (Romanos 8:29). Esse é o plano onde ele recebe a glória e nós recebemos a santidade que precisamos para nos alegrarmos nele para sempre (como a pergunta 1 do Breve Catecismo de Westminster nos lembra).

Se formos controlados por um desejo de ver Cristo sendo exaltado, mesmo que isso custe ver nossos planos despedaçados, nossos corações se alegrarão naquele cujos planos nunca podem ser frustrados (Jó 42.2).

Continuemos planejando grandes coisas para o Reino de Deus. Continuemos servindo o Senhor com paixão. Mas quando ele frustrar nossos planos, alegremo-nos e confiemos nos planos do nosso todo-sábio Deus. Diga a sua alma: “Aquiete-se e saiba que ele é Deus. Cristo será exaltado entre as nações. Ele será exaltado na terra” (Salmo 46.10).

 

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