Pense em um atributo de Deus. Provavelmente você pensou em justiça, amor, bondade ou misericórdia. Está correto, sem sombra de dúvida. A Bíblia deixa bem claro que Deus é tudo isso: é amor1, é perfeitamente justo2, é o nível e o padrão máximo de bondade e é imensuravelmente misericordioso3.
Atributos são perfeições que constituem predicados4 de Deus. Isso significa que, por ser pessoal, Deus tem certas características que nos ajudam a construir certo entendimento de como Ele é e de como age. É claro que com isso não estamos afirmando que a soma dos seus atributos revelados consiste na totalidade de Deus. É simplesmente impossível conhecê-lo totalmente5 visto que temos vivido tempos em que há uma grande incompreensão da esfera de atuação de Deus, gostaria de compartilhar com vocês dois atributos “secretos” Dele: Sua imanência e Sua transcendência, revelados logo no primeiro livro da Bíblia. São “secretos” porque quase nunca pensamos ou ouvimos sobre eles.
Podemos definir a imanência de Deus, revelada em Gênesis 2, como a capacidade de estar presente e ativo dentro de sua criação, inclusive da raça humana, mesmo naqueles que não creem nele ou que não lhe obedecem6. Isso significa que Deus age nos processos naturais e não atua somente através de eventos milagrosos7. Lembra aquela divisão que fazem quando crente fica doente: “ou ora ou toma remédio”? Pois é, ela é falsa. Crente doente ora e toma remédio8 A imanência de Deus nos ensina que quando uma descoberta científica é alcançada, quando alguém é curado através de medicamentos, quando nos levantamos pela manhã ou quando uma árvore dá frutos, Deus está agindo por trás das cortinas: não existem esferas na vida em que Deus não atue.
Um excelente exemplo são os livros de Apocalipse e Lucas. Ambos foram inspirados por Deus, entretanto Apocalipse foi recebido por revelação sobrenatural9 , enquanto Lucas teve que fazer um trabalho árduo de pesquisa e entrevistas para compor seu livro10. Nenhum dos dois é mais divino que o outro. Ambos foram produtos da imanência de Deus.
Outro atributo secreto é a transcendência de Deus, revelada logo no primeiro capítulo de Gênesis e que pode ser definida como a diferença infinita entre Deus e qualquer outra criatura. Deus não é simplesmente o mais elevado dos seres humanos e não é limitado à nossa capacidade de compreendê-lo6. Isso significa que quando você imagina uma perfeição de Deus, ela é maior do que você a imaginou. Quando pensamos que Deus é todo poderoso, não conseguimos compreender a totalidade do seu poder, por causa da Sua transcendência. Deus é maior do que pensamos que Ele é, ainda que depois de ter lido tudo isso, O imaginemos maior do que O imaginávamos antes.
O que podemos aprender com tudo isso? Em primeiro lugar, que a oração se torna um privilégio e não um fardo. É só porque temos um Deus imanente e transcendente que nos invade um sentimento de privilégio poder falar com Ele. Em segundo lugar, não existe essa divisão entre ciência e religião: essa dicotomia boba só está presente na mente de pessoas que ainda não entenderam a imanência de Deus. Em terceiro lugar, a obra de salvação é ainda mais espantosa: como pode um Deus desse tamanho se importar com meros seres humanos? Em quarto lugar, Deus não compete e não precisa ser convencido. Em quinto, conseguimos arranhar mais um pouco o significado do esvaziamento de Cristo que mesmo sendo Deus se fez homem11. E em último lugar, isso coloca tudo sem seus devidos lugares: nós no nosso e Ele no Dele!
1. 1 João 4.16
2. Salmos 119:142
3. Salmos 106.1
4. Cf. Louis Berkhof, Teologia Sistemática, p. 51
5. Oséias 6.3
6. Cf. Millard J. Erickson, Introdução à teologia sistemática, p. 101.
7. Cf. Franklin Ferreira e Alan Myatt, Teologia sistemática, p. 214.
8. Tiago 5.14
9. Apocalipse 1.9-10
10. Lucas 1.1-4
11. Filipenses 2.6-7
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