Estava navegando na internet, especificamente no blog do Ministério Fiel que muito tem contribuído para expansão do Evangelho, até que esbarrei em um texto que chamou bastante minha atenção, por seu título que gritava em palavras que esta vida não é tudo que existe.

Por mais que saibamos desta verdade, muitas vezes a negligenciamos ao trocar nossas prioridades (aqui inclui nossa disciplina espiritual) para focar naquilo que é perecível. Ao contrário do que podemos imaginar isso não significa que vamos viver como alheios ao que se passa ao nosso redor, mas aponta para o que é realmente relevante: fomos criados com um propósito maior que só pode ser satisfeito em Deus, pois Ele é suficiente. Enquanto, nós somos inevitavelmente pó.

Oro para que assim como me abençoou, esse texto possa lhe edificar e trazer esperança:

 

Deus “pôs a eternidade no coração do homem”, diz o pregador (Ec 3.11). A ideia não é apenas que nós possuímos um conceito intelectual ou noção da eternidade, mas que temos um senso profundo de que nossa vida presente no mundo não é tudo o que existe; que existe um “para sempre” que torna esta vida mais significativa do que muitos ousam imaginar e que revela a vaidade de viver meramente pelas coisas do tempo presente.

Essa consciência da eternidade pertence ao que João Calvino chama de sensus divinitatis, e inevitavelmente orienta até mesmo o não-regenerado para o nosso futuro sem fim. Isso está evidente no fascínio da humanidade pela vida após a morte e pelo modo como falamos daquele que “partiu”. Também é aparente em quão religiosos têm sido os homens em todos os tempos, incluindo o nosso. O que acontece conosco após a morte é uma doutrina fundamental de quase todas as religiões, e é geralmente considerada decisiva para como devemos viver essa vida em preparação para o que se segue.

Que a eternidade está em nossos corações é uma das razões pelas quais as pessoas que se dedicam a buscar o prazer temporal normalmente encontram a vida tão vazia. Como observa C.S. Lewis, nossos anseios vão mais fundo e alcançam mais longe e aspiram coisas muito mais altas do que qualquer coisa ao nosso alcance possa satisfazer. Viver para o presente exige que reprimamos ativamente esse sentimento interior de eternidade e neguemos nossos anseios (e aspirações) mais profundos, a fim de nos pacificarmos com outros muito mais superficiais.

Curiosamente, os antigos epicuristas identificaram o medo da morte como o maior obstáculo para uma vida dedicada aos prazeres temporais — isso constitui mais uma evidência do senso universal da eternidade (e expectativa de julgamento). Para se libertar do medo da morte, eles inventaram uma antropologia atomística na qual não somos mais que seres materiais sencientes. Sua única esperança, em outras palavras, era se a morte fosse realmente o nosso fim absoluto. Isso é mais ou menos onde muitos brasileiros estão hoje, e é um dos impulsionadores por trás da aceitação popular do naturalismo metafísico no ocidente secular. Se a morte não é o nosso fim absoluto, então devemos enfrentar a vaidade de qualquer vida que não seja vivida para a eternidade.

Não importa o quão vigorosamente alguém negue a vida após a morte, pois ainda a sensação de que há mais do que esta vida presente persiste obstinadamente — tão obstinadamente que Emanuel Kant, que negou que alguém pudesse saber de tal coisa, admitiu que devemos pelo menos acreditar em uma vida após a morte para podermos viver corretamente nesta vida.

Kant estava parcialmente certo: a razão por si só “não pode” penetrar a eternidade para “descobrir as obras que Deus fez desde o princípio até ao fim” (Ec 3.11). E, no entanto, o senso de eternidade está gravado em nossos corações com a mesma firmeza da consciência de Deus e da obra da lei (Rm 1.19-22; 2.14-16). Nossas consciências, desejos, aspirações e medos nos traem.

Jesus não viveu em uma cultura pós-iluminista de agnósticos seculares, como muitos de nós, mas até mesmo o judaísmo do Segundo Templo teve seus saduceus que negavam a ressurreição. Suas negações, no entanto, não paralisaram Jesus de modo algum; ele simplesmente apontou como o pensamento de uma vida após a morte (e futura ressurreição) é algo básico para toda a estrutura da revelação bíblica e sugeriu que aqueles que negam isso “não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus” (Mc 12.18-27).

A suposição das Escrituras é também a suposição de Cristo. É impossível dar sentido à obra e ensino de sua vida sem pressupor a existência interminável do ser humano. Jesus não argumentou sobre o ponto e então pressionou as pessoas a enfrentarem o dilema no qual estão. Há apenas dois estados eternos: um glorioso reino de paz e justiça no qual os justos desfrutam plenamente de Deus no meio de uma nova e incorruptível criação, e um terrível lugar de escuridão exterior, inextinguível conflagração e ranger de dentes (Mt 8.11-12; 13.40-42, 49-50; 22.1-13; 24.36—25.46). Cristo falou desses dois estados em termos severos, fez advertências sóbrias e deu preciosas promessas fundamentadas em suas realidades.

Além disso, Jesus afirma ousadamente que o destino eterno de cada pessoa depende de alguém recebê-lo pela fé quando é oferecido a nós no evangelho ou de rejeitá-lo para ficar diante de Deus no julgamento final tendo apenas nossa consciência condenada como conselho. “Eu sou a ressurreição e a vida”, disse ele a Marta. “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (Jo 11.25-26). Então Ele colocou a questão crucial diretamente para ela e para cada um de nós: “Crês isto?”.

Tradução: William Teixeira. Revisão: Camila Rebeca Teixeira. Original: Is This Life All There Is? Publicado pelo Ministério Fiel.