Hello!

De cada 10 treinamentos motivacionais, ou mesmo de coaching, 11 falam que você precisa sair da sua zona de conforto para conseguir viver algo que almeja. Todas as vezes que eu ouvia esse termo pensava em um ambiente agradável, fofinho, de acomodação e descanso, que precisaria ser deixado para trás a fim de encarar desafios novos, mas recentemente descobri que nós temos a habilidade de criar uma zona de conforto até mesmo em ambientes que nos são desfavoráveis. Explico.

Não estou falando aqui de pessoas que gostam de sofrer e deliberadamente escolhem isso. A situação é mais sutil e comum do que se pensa. Vou começar pelo exemplo que Deus me deu para que eu entendesse o que Ele gostaria de tratar comigo.

Eu sempre pratiquei vários esportes e amava isso. Por essa razão, minha postura era correta, meus ossos, ligamentos, músculos, tudo funcionava bem. Durante o ensino médio, eu resolvi que sentar de lado na cadeira, encostada na parede, era bom. Parecia confortável e inofensivo. Depois, resolvi que era desnecessário usar a mochila com as duas alças devidamente postas em cada ombro. Usar as duas em um único ombro, era mais descolado. Quando cheguei no período da faculdade, eu continuei a carregar a mochila desta forma. Ocorre que agora, uma vez que fiz Direito, o peso era ainda maior devido ao pequeno tamanho dos livros. Eu até sentia algumas dores, mas acreditava que faziam parte do pacote. Afinal, alguém me disse que a vida adulta era assim mesmo, feita de dormir pouco, comer mal e sentir dores pelo corpo.

Em dado momento, as dores ficaram piores, viraram enxaquecas e eu precisei procurar ajuda médica (vocês lembram que eu fujo de médicos né? Então era grave mesmo). Eu havia adquirido um desvio na coluna. Na verdade dois. Eles é que provocavam todas as dores. Fiz inúmeros tratamentos até que o último, e graças a Deus eficaz, foi o pilates. (Quem acha que pilates é só alongamento, nunca fez uma aula. O sofrimento é real, mas os resultados também).

Nos primeiros dias de tratamento eu queria sair correndo. Aqueles exercícios me davam mais dor do que os tais desvios poderiam promover. Não fazia sentido. Agora, pra ajudar, quando eu sentava na postura errada, que era de costume, minhas costas e também meu abdômen latejavam. Só ficava mais desconfortável a cada dia.

Indignada, fui conversar com a professora. Ela me disse: “Carol, você precisará diariamente decidir mudar sua postura. Seu corpo, está acostumado com a postura errada. Por mais prejudicial que isso tenha sido para você, seu corpo se acostumou com isso e vai te “empurrar” pra voltar para o lugar onde estava antes. Tenho certeza que você não deseja voltar a ter as dores que já teve ou aos tratamentos pelos quais passou, então decida corrigir isso.”

Eu ainda argumentei que não fazia de propósito e quando via já estava lá na postura errada novamente, mas ela foi incisiva. Deixou claro que se eu permanecesse naquela postura, eu havia feito uma escolha de continuar doente.

Situação semelhante foi vivenciada pelos amigos de Moisés no Egito. QUE? Isso mesmo.

Os caras estavam sofrendo as consequências de uma vida de escravidão. Eles sequer conheciam condição diferente daquela. Já nasceram escravos e ouvindo a respeito da promessa de um libertador. O moço (Moisés) vem, passa todo aquele perrengue para tirar eles do Egito e no meio do caminho os caras sentem saudades do Egito. Eu poderia citar vários versículos de reclamação dessa galera, mas vou usar só um pra vocês lembrarem o contexto:

Disseram a Moisés: “Foi por falta de túmulos no Egito que você nos trouxe para morrermos no deserto? O que você fez conosco, tirando-nos de lá? Já não lhe tínhamos dito no Egito: Deixe-nos em paz! Seremos escravos dos egípcios! Antes ser escravos dos egípcios do que morrer no deserto! ” Êxodo 14:11,12

(E esse era só o começo da viagem. Depois eles sentiram falta até das cebolas que comiam no Egito).

Eles literalmente disseram: me deixa ser escravo! Eu prefiro isso do que o caminho para a Terra prometida.

Nós por vezes dizemos:

Me deixa ser escravo! Eu prefiro isso do que ser curado.

Me deixa ser escravo! Eu até queria essa alegria que você está me propondo, mas se isso me custa algo, eu não quero.

Me deixa ser escravo! Eu não sei lidar com a liberdade.

O Senhor tem tratado as minhas emoções. Ele me mostrou há alguns anos que elas estavam doentes e precisavam de cura. Tal como aqueles que ouviram sobre a Terra Prometida, eu ouvi (e li em sua palavra) que Ele tinha cura para todas as áreas da minha vida, e as emoções são parte do pacote. Quando Ele me disse “vamos?”, eu achei que seria fácil seguir Suas orientações no caminho, afinal, eu não queria mais ser escrava das dores que eu estava sentindo. No entanto, no processo, me vi desejando voltar à postura anterior (como no exemplo da coluna). Era nocivo, gerava danos difíceis de reparar, mas era confortável. Era uma dor com a qual eu sabia lidar. O novo gerava insegurança e medo. Como eu suportaria mexer em tudo que Ele estava me pedindo? Como lidar com essas novas dores? Era desconfortável.

No caminho, eu desejei as cebolas do Egito. Eu estava recebendo maná dos céus e ainda assim queria saber da comida que eu recebia antes. Não faz sentido, mas agimos exatamente assim.

Alguém já disse que se o evangelho te deixa confortável, não é a respeito do evangelho que você tem ouvido. A vida com Cristo é feita de novidade e também de mudança. Ocorre que mudanças geram transtornos. Há um preço a pagar. Serão necessárias decisões diárias para que o caminho/tratamento não seja perdido e você não acabe morrendo no deserto.

Sonde seu coração. Analise suas orações. É possível que você esteja pedindo ao Senhor por coisas com as quais você não está disposto a lidar. Coisas que vão exigir de você um posicionamento. Coisas que vão te confrontar a ponto de você descobrir que o lugar de dor, era também o lugar de conforto e que o permanecer ali, era uma escolha sua.

Não tenha medo de ficar desconfortável durante o processo. Confie que se o Senhor está te pedindo isso é para o seu bem.

Deus te abençoe.

#Atéterça

😉