Estamos em clima de copa e olha só o que o Hélio e a Regiane fizeram para um amigo surdocego:

“No dia 11/06/14 acordei pela manhã com uma vontade de chamar meu amigo Carlos (surdocego) para assistir a abertura da Copa, mas precisaria de algumas adaptações para que ele entendesse melhor! Além da Libras-Tátil optamos (a Regiane e eu) também pela comunicação háptica para passar algumas informações como: Faltas, cartões, Times, números da camisa dos jogadores entre outras!

Ao chegar na minha casa, o Carlos me relatou que durante a semana estava orando e pediu a Deus que Ele usasse alguém para ajuda-lo na interpretação do jogo da copa, e no final ele disse que Deus foi além das expectativas dele!

Espero que nós guias-intérpretes tenhamos feito o dever de casa!

Agradeço a Deus por me permitir ser usado por Ele!”

Hélio Fonseca de Araújo
Regiane Cunha Pereira

Abaixo a reportagem feita pelo UOL

Carlos Alberto Santana Junior é um jovem de 26 anos que nasceu sem escutar. A partir dos 10 anos, passou a perder também sua visão. Enquanto os olhos funcionavam bem, era apenas mais um brasileiro apaixonado por futebol. Sem a visão, o garoto surdocego perdeu a chance de vivenciar a experiência de ir para um campo bater uma bola ou de simplesmente curtir uma partida na TV. Não mais. Um casal fez a Copa de 2014 ser inesquecível para ele.

Na última quinta-feira, Carlos chegou à casa de dois amigos, o casal de guias-intérpretes Hélio Fonseca de Araújo e Regiane Pereira com um pedaço de papelão na mão. Ele queria pedir para eles que encenassem no simples objeto a estreia do Brasil contra a Croácia e o ajudassem, pelo tato, a saber o que milhões de pessoas estavam vendo em suas TVs. Ele só não contava que eles já tivessem preparado algo semelhante, com direito a um campinho e à adaptação de seu meio de se comunicar para voltar a “ver” um jogo.

Regiane explica: “A ideia de colocar o Carlos para ‘assistir’ a esse jogo veio do Hélio, meu marido. Ele acordou de manhã e perguntou: ‘onde ele vai assistir e como vai saber o que aconteceu?’. Uma vez vimos um surdocego usando um campinho, com bonequinhos. Então montamos para ele um campo tátil e o chamamos para assistir”. O detalhe foi a surpresa do paulistano. “Ele não sabia que tínhamos feito. Antes ele participava, ia a jogos. Para ele, poder reviver foi muito emocionante. Ele chegou aquele dia com um pedaço de papelão… Aí mostrarmos para ele ( o campo). Não filmamos a parte da reação quando ele começou a tatear o campo, mas foi fora da série, ele ficou muito emocionado.”

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O fato de não ouvir – e por ter nascido surdo não ter desenvolvido a fala – e de ter apenas um mínimo resíduo da visão dificulta a comunicação de Carlos com o mundo exterior. Assim, ele se comunica com as outras pessoas por sinais – a libras, língua brasileira de sinais – e apreende o que acontece pelo tato, usando uma versão diferente da língua de sinais, a libras tátil, e a comunicação háptica, pouco comum no Brasil.

Para entender um jogo de futebol, Hélio e Regiane tiveram de ir além. Eles formaram uma parceria para passar a noção total do que estava acontecendo e narraram até a cerimônia de abertura.

“O Hélio fazia os jogadores no campo e a bola, falando com o Carlos por meio do tato, com as mãos. E eu fazia em suas costas a comunicação háptica: passava informações adicionais, mostrava quem estava com a bola, falava os cartões, impedimentos… A comunicação háptica meu marido trouxe de um congresso das Filipinas, países como a Noruega usam. E antes do jogo nós adaptamos, porque não tem nada criado no Brasil. Então o Carlos decorou os números dos jogadores e combinamos alguns sinais para a hora da partida”, explicou ela.

O resultado está no vídeo divulgado por Hélio – que já gera repercussão internacional. Nas imagens (o vídeo completo pode ser visto aqui), é possível ter uma noção da intrincada comunicação que Carlos, Hélio e Regiane conseguiram usar, e perceber a grande emoção que o paulistano voltou a vivenciar ao acompanhar do hino ao susto com o gol da Croácia, dos gols do Brasil ao alívio do apito final.