A igreja está lotada nessa noite. Mais um domingo normal, na vida de qualquer membro daquela igreja. O culto começa pontualmente. Ela, que por acaso passava por ali, ouvia uma música tão linda, tão suave, tão confortadora, que parecia ser um coral de anjos chamando-a. Na letra da canção, ela podia ouvir claramente que alguém nesse mundo a amava, que Ele se encontrava naquele lugar, que Ele podia limpá-la. Seu coração pulou ao ouvir a palavra “amor”. Na verdade, fazia muito tempo que ela não sabia o que era isso. Amor, ela só lembra de ter sentido quando era criança, quando seus pais ainda estavam juntos. Mas não lembra de sentir amor, quando se largou nas esquinas dessa vida.
Ela, entra naquele local, procurando uma cadeira vazia, bem no fundo, de preferência. Sabe que está atrasada. Ninguém dá as boas vindas para ela, tudo bem. Avista uma cadeira vazia do outro lado do salão. Timidamente e na ponta dos pés, caminha até lá. Ela não sabe ao certo o que está fazendo ali, mas ela sabe que esse é seu lugar. Enquanto dirige-se à cadeira vazia, reflete sobre sua vida e suas decisões. Sabe que tem tido uma vida errada, mas ela quer mudar. O que mais a machuca, não são as marcas em seu corpo e em sua alma. O que mais a machuca são os olhares julgadores daquelas pessoas ali.
Quando finalmente chega ao lugar vazio, uma garota imediatamente coloca a sua bolsa na cadeira e diz que o lugar está ocupado. Ela dá um sorriso e responde: tudo bem. Quando ela sai, consegue ouvir a garota dizendo à amiga ao lado: quem é essa garota? Você viu…
E ela prefere não ouvir mais nada. Ela sabe muito bem quem ela é, não precisa que os outros lhe falem. Sem lugar para sentar, ela resolve ficar de pé, na porta, ao lado de fora mesmo, para que não fiquem olhando para ela.
Sabe que não está com a roupa adequada para a ocasião. Mas consegue ver meninas com roupas quase iguais às suas. Ela pensa que talvez, não esteja tão errada assim. Sabe que o lugar que ela estava ontem, não tem o mesmo cheiro que tem essa igreja. Mas ela está ali. Ansiosa para conhecer Aquele que falaram que a ama. Quem será que é Ele? Como Ele é?. Espero que alguém, logo me apresente para esse Alguém.
Mas o tempo vai passando. Ela olha no relógio grande, colocado na parede. Até agora, ela ouviu as pessoas cantando músicas, que falam sobre esse Homem, ou músicas que falam sobre Deus.
Deus. Essa palavra não me é estranha. Pensou. Sei que estou em uma igreja. Já ouvi que essa é a casa de Deus. Lembro-me de mamãe, ajoelhada ao lado da minha cama orando a Deus, pedindo que Ele me protegesse. Ela sempre me falou que Ele me amava muito. Acho que ela estava errada, pois Deus não poderia amar alguém como eu, com uma vida suja, uma vida errada.
Mergulhada em seus pensamentos, nem entendia o que aquela cara lá no púlpito falava. Ela tinha uma sede dentro de si, uma sede que ela não sabia o que era, não sabia do que. Mas com o passar daqueles minutos, essa angústia e esse vazio dentro de si só aumentavam. Desesperada, com os olhos cheios de lágrima, estava disposta a colocar um fim naquela angústia. Se alguém não lhe apresentasse logo, o tal Homem que cura, que liberta, que a ama, ela iria embora.
Término do culto. Mesmo ela ali, parada na porta, chorando, parecia invisível aos outros. As pessoas desviavam o olhar. Do outro lado do salão, uma jovem a observava e sentia uma enorme vontade de abraçar aquela pobre criatura, mal vestida e com frio. Afinal, a pregação da noite tinha sido sobre amar ao próximo como a ti mesmo. Quando deu um passo em direção à moça parada na porta, sua mãe a puxou pelo braço, dizendo que não se misturasse, que aquela moça, não valia a pena. Não perca seu tempo com ela, vamos embora.
A nossa personagem vai embora sem conhecer Aquele que havia morrido por ela, Aquele que a amava e queria estar com ela. Ela não O conheceu, porque ninguém foi capaz de apresentá-Lo a ela. Ela nem ao menos sabia se Ele se encontrava ali ou não.
Com tanta dor em seu coração, tantas cicatrizes, tantas lágrimas, tristezas, não sabemos se a nossa personagem saiu dali naquela noite e foi procurar o amor em algum lugar errado, em alguma bebida, em alguma droga, em algum homem. Não sabemos se ela continua a sua busca por Aquele que ela ouviu que a amava ou se ela não tirou a própria vida naquela madrugada. Não sabemos.
Mas deveríamos ter lhe apresentado o seu Libertador. Afinal:
“Mas se somos o corpoPor que Seus braços não estão alcançando?Por que Suas mãos não estão curando?Por que Suas palavras não estão ensinando?E se somos o corpoPor quê Seus pés não estão indo?Por quê Seu amor não está mostrando-lhes que há um caminho?Há um caminho”
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