Bom, o que você acha que se pode aprender em sete meses na Índia e dezoito dias na África?
Sei que para facilitar a sua imaginação posso usar filmes recentes como um em que a célebre atriz Júlia Roberts vai até a Índia para aprender a “rezar” e buscar um pouco mais da paz interior, ou um em que o americano Leonardo di Caprio interpreta um mercador de jóias no continente Africano, ou até mesmo o sucesso global Á caminho das Índias, mas confesso que essas referencias, ou tantas outras que poderia aqui mencionar, são incapazes de transmitir e interpretar o que vi e vivi nesse tempo.
Sei Também que é quase impossível narrá-las aqui nessas poucas linhas, então pensando nisso resolvi dividir tudo que consegui aprender e escrever em três partes:
1- Preparação- a causa de um possível julgamento.
2- Relacionamento- A quebra de paradigmas.
3- Reformulação- lidando com o imprevisto.
Espero que ao ler você consiga vivenciar e quem sabe sonhar vivendo em realidades tão distantes mas amadas de igual modo pelo nosso Senhor.
Etapa 1: Preparação: A causa de um possível Julgamento
Tomo uso aqui de uma parte de um texto do navegador brasileiro Amyr Klink, “Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente IR VER”
Antes de ir para a Índia e para a África eu havia lido vários livros e adquirido informações das mais variadas possíveis com pessoas que estavam ou que já haviam estado nesses lugares. Com recursos ilimitados de internet, cataloguei e avaliei informações que me davam a certeza de que com a redução dos riscos ao máximo, o sucesso da missão que teria a duração estimada de um ano, seria certo. Por mais que em meu coração eu estivesse ciente de que eu era apenas um aprendiz, não posso negar que a segurança das informações que eu possuía me trouxera uma tranqüilidade muito grande, ao ponto de até mesmo minhas orações reduzirem. Outro fator de segurança foi o que eu ouvia como o grande pavor de todos missionários: o sustento! Antes de sair do Brasil eu já estava com quase todas minhas despesas pagas e com meu sustento mensal garantido por minha igreja e por alguns amigos, que não falharam um dia sequer. Isso sem contar as inúmeras palavras que recebi de Deus, entregues por irmãos de confiança em momentos distintos desse processo de preparação.
Esse conjunto de fatores foi e é importantíssimo para qualquer envio missionário, porém, ás vezes nossa segurança foge um pouco do controle e se torna certa prepotência. O simples fato de adquirirmos informações e fazermos um bom planejamento nos faz mestres de uma realidade baseada em um ponto de vista alheio e não como em muitas vezes ela é. E isso é extremamente perigoso.
Achamos que pelo simples fato de termos lido algo a respeito de determinado lugar ou pessoa já estamos aptos a julgar e principalmente a emitir um veredito. Pois sempre julgamos com o pensamento de emitir um veredito que nunca absolve apenas condena.
Tudo o que li e conheci antes de estar na Índia e na África se tornaram mínimos perto da realidade que encontrei. Cheguei lá me achando um professor de cultura ocidental cristã equilibrada, e encontrei pessoas arrasadas por seus padrões culturais e religiosos. Precisando mais de amor do que de idéias e suntuosos projetos.
Não quero aqui anular o papel importante da busca da informação, e da preparação, pretendo sim, minimizar nossa tendência egoísta de nos acharmos superiores aos outros pelo acesso que temos aos mais variados meios de comunicação. Achamos que sabemos demais por ler a respeito. Que conhecemos pessoas por ver suas fotos no Orkut. Que somos amigos por conversar diariamente no MSN, mas tudo isso só nos dá uma falsa impressão de ser o que na verdade não somos e de saber o que na verdade não sabemos.
Aprendi nesse processo de envio, que as informações são capazes de nos animar, mas não de nos satisfazer. Em Lucas 10, Jesus instrui os discípulos com várias informações sobre como proceder enquanto em missões. Isso anima dos discípulos, mas eles só se satisfazem na volta, após verem o poder e a autoridade do nome de Jesus posto em prática na vida cotidiana.
Essa prepotência que tive enquanto em preparação teórica, foi completamente desmantelada, pelo relacionamento que tive que desenvolver com o povo e com a cultura local. Pois aprendizado só acontece de verdade quando se vive perto, quando se participa da vida integral do ser humano, quando se sente o cheiro da verdade impregnado nas ações humanas por mais primitivas que possam parecer.
O restante é teoria, e como o próprio nome já diz, é só teoria…. Na próxima semana compartilharei um pouco de como foi esse relacionamento transcultural tão importante e maluco. E a quebra das ilusões que as informações me faziam crer como verdade.
Deus abençoe!
Saulo Augusto
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