Com a ceia de Natal tendo passado, me diga: você meteu o pé na jaca e saiu se empanturrando de comida, né? Relembre aí e leia esse texto tomando como referência a sua atitude no último dia 24 (ou 25, ou outro qualquer em que você cometeu esse pecado).

Qual foi a última vez que você ouviu um sermão, ou leu um artigo sobre gula? Provavelmente você vai ter que forçar bastante a memória pra achar, e ainda é bem possível que não ache vez nenhuma.

É triste ver que existe um estereótipo de que o crente compensa o fato de não beber na comida. E, quando falam isso pra ele, ele acha engraçado e vê tudo como uma coisa sem importância. É pronto para criticar quem bebe álcool, mas não olha para o seu estômago dilatando para se adaptar ao volume de comida recebido. Ninguém condena a gula. As pessoas estão mais preocupadas com questões mais notórias. Mas vamos ver o que a Bíblia diz:

Porque as obras da carne são manifestas, as quais são:

[…] glutonarias, […]
Gálatas 5.19-21

A gula é um desejo desregrado que altera algo que em sua essência não é para ser ruim – no caso, o ato de comer. Dessa maneira, pode ser traçado um paralelo entre a gula e a luxúria. Enquanto a luxúria usa o desejo pelo sexo, que em sua essência é bom, puro e instituído por Deus, a gula se utiliza do apetite, também bom, puro e instituído por Deus, e o deturpa.
É iniciada por uma sedução, como aquela expressão esclarece: “comer com os olhos”. Às vezes olhamos algum alimento que nos parece agradável e aquilo nos faz imaginar o prazer que tal alimento geraria no nosso paladar. Inclusive, cabe dizer que esse foi um dos motivos pelos quais Eva mordeu o fruto (Gn 3.6)

Não estejas entre os beberrões de vinho, nem entre os comilões de carne.
Porque o beberrão e o comilão acabarão na pobreza; e a sonolência os faz vestir-se de trapos.
Provérbios 23.20-21

Imagina aí comigo: sabe quando você não precisa sair depois do almoço, come bastante, e vai batendo aquele sono, aí você vai “descansar do almoço”, deita na cama e acaba dormindo a tarde toda? Bom, você acaba de ver um pecado aparentemente pequeno te levar a outro – preguiça. Inutiliza o seu dia. É por isso que é um pecado capital, porque encabeça outros pecados. Estão intimamente conectados.

Precisamos entender que tudo aquilo que toma espaço no nosso coração que é preparado para ser reservado a Deus é idolatria. Quando comemos em excesso para sentirmos maior satisfação, somos idólatras e damos mal testemunho da nossa fé, porque mostramos que Deus não nos está sendo suficiente, que buscamos satisfação em demasia em outras coisas porque Deus não nos satisfaz por completo. Percebe? Nossa satisfação máxima precisa estar focalizada em Cristo, na glória de Cristo, e na esperança de nossa redenção.

Em seu íntimo, a gula é um pecado que revela a falta de submissão, a falta de controle sobre si. Ela pode ser não apenas um erro em si mesma, mas também um sinal de que você tem um problema maior, como o supracitado. E por não ter prática com o autocontrole, você pode ser bastante vulnerável em situações outras que também exigirão que você domine a si mesmo. Mas como fazer isso?

Mas o fruto do Espírito é […] domínio próprio.
Gálatas 5.22-23

Exerça o fruto do Espírito. Se você O tem consigo, então Ele te dá capacidade de dominar a si mesmo. Todas as vezes que você falha nisso não é porque você “não pode se conter”; é simplesmente porque você não teve força de vontade o suficiente. Discipline-se não apenas na gula, mas pratique o autocontrole em outras áreas da sua vida que você percebe que podem estar se tornando ídolos para você. Além disso, pratique o jejum. Ele é exatamente o oposto da gula. Se você conhece os benefícios do jejum, é natural deduzir que o seu oposto vai provocar os malefícios contrários. Trate suas refeições como expressões de adoração a Deus (1 Co 10.31), com moderação e ações de graças.

“Não troque o pão do céu pelo pão da terra.”

Deus o abençoe e te desejo um feliz ano novo! Que nesse ano você possa ser ainda mais atraído à conformidade do Cristo.
Produza frutos (ao invés de comê-los)!

Obs. Como referências a esse tema, deixo os dois vídeos abaixo:
Gula: idolatrias à mesa – Dois Dedos de Teologia
Gula – Paulo Junior