Logo ao entrar no país de Nárnia, Edmundo se depara com a Feiticeira Branca ao procurar por sua irmã, Lúcia.  A Feiticeira está sentada no lugar de honra de um trenó puxado por renas, conduzido por um anão. Como existe uma profecia em Nárnia que afirma que os quatro tronos de Cair Paravel serão ocupados por Filhos de Adão e Eva um dia, assim que a Feiticeira Branca percebe que Edmundo é um Filho de Adão, ela passa a seduzi-lo e enganá-lo, com o objetivo de proteger o seu reinado em Nárnia.

“– Que tal uma bebidinha quente? Seria bom, não seria?

– Seria, Majestade – respondeu Edmundo, batendo o queixo.

Lá de dentro dos agasalhos, a rainha tirou uma garrafinha que parecia de cobre. Levantando o braço, deixou uma gota cair na neve. Edmundo viu a gota brilhar, como um diamante, durante um segundo no ar. Mas, no momento em que tocou na neve, produziu um som sibilante e, logo surgiu um copo cheio de um líquido fumegante. Imediatamente, o anão o apanhou, passando-o a Edmundo com uma reverência e um sorriso afável. Depois de ter começado a beber, Edmundo sentiu-se muito melhor. Era uma bebida que nunca tinha provado, muito doce e espumante, ao mesmo tempo espessa, que o aqueceu da cabeça aos pés.

– Beber sem comer é triste, Filho de Adão – disse a rainha. – Que deseja comer?

– Manjar turco, Majestade, por favor – disse Edmundo.

A rainha deixou cair sobre a neve outra gota da garrafa; no mesmo instante, apareceu uma caixa redonda, atada com uma fita de seda verde, que, ao se abrir, revelou alguns quilos do melhor manjar turco. Edmundo nunca tinha saboreado coisa mais deliciosa, tão gostosa e tão leve. Sentiu-se aquecido e bem disposto”(C. S. Lewis. As Crônicas de Nárnia. Volume único. Ed. Martins Fontes: São Paulo, 2009. p. 117).

Quanto mais Edmundo comia, mais tinha vontade de comer. Edmundo, então, foi contando à Feiticeira que ele possuía três irmãos e que Lúcia já havia estado em Nárnia e conhecido o Sr. Tumnus.

“Por fim, acabou-se o que era doce, e Edmundo olhava fixamente para a caixa vazia, louco para que a rainha lhe perguntasse se ainda queria mais. Sabia ela muito bem o que ele estava pensando. E, melhor ainda, que o manjar turco estava encantado: quem o provasse, ficaria querendo sempre mais e chegaria a comer, a comer, até estourar” (p. 117).

A rainha, então, promete que lhe dará mais manjar turco se ele levar seus irmãos até ela. Ela promete que Edmundo será príncipe e que seus irmãos serão nobres em seu castelo. Mas pede a Edmundo que a conversa entre eles fique em segredo. A Feiticeira se vai e Edmundo encontra Lúcia. Lúcia, então, comenta com Edmundo a respeito da Feiticeira Branca:

“–

[A Feiticeira Branca é] Uma pessoa horrorosa. Diz que é a rainha de Nárnia, embora não tenha o direito de ser rainha. É odiada por todos os faunos e dríades e náiades e anões e animais… Pelo menos, pelos que são bons. É capaz de transformar pessoas em pedra e de fazer mil coisas horríveis. É por causa de um encantamento dela que é sempre inverno em Nárnia, sempre inverno, mas o Natal nunca chega” (p. 119).

“Edmundo, já meio incomodado por ter comido tanto manjar turco, sentiu-se ainda pior ao ouvir dizer que a dama da qual se tornara amigo era uma perigosa feiticeira. Mas, lá no fundo, o que mais desejava era voltar para fartar-se daquele maravilhoso manjar” (p. 119).

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1. O manjar turco é o pecado

Sem dúvida, o manjar turco representa o pecado. Foi sob a promessa de que Adão e Eva seriam como Deus que a serpente os enganou, fazendo-os comer do fruto da árvore proibida. Assim como Adão e Eva, o pecado de Edmundo foi o orgulho: ele queria ser nobre e superior aos demais.

2. Pecar traz um prazer momentâneo

De fato, pecar traz um prazer momentâneo. Se assim não fosse, ninguém pecaria. O pecado satisfaz os desejos da nossa carne. O pecado é tão prazeroso quanto o sabor de um manjar turco.

3. Pecar é um prazer indevido

Muitas vezes, pecamos para nos beneficiarmos a curto prazo de um prazer que Deus somente nos permitirá a longo prazo. Você sabe, por exemplo, que pode garantir rapidamente aquela promoção em seu emprego (que levaria anos para conseguir em termos normais) se mentir ou se fizer algum trabalho sujo. Sabe também que pode “ficar” com alguma moça ou algum rapaz em uma balada e obter um prazer momentâneo e fútil, quando Deus lhe reserva um prazer perene no futuro com sua esposa ou marido. O pecado, em certo sentido, é realmente um atalho. É uma forma de tentar antecipar, de uma maneira pervertida, aquilo que pode ser a vontade de Deus para você no futuro.

A sabedoria do livro de Provérbios nos diz: “Há caminho que parece certo ao homem, mas no final conduz à morte” (Provérbios 14.12; 16.25 – NVI). Você pode pensar que a mentira, o trabalho sujo, a pornografia ou o relacionamento sexual fora do casamento é a solução para o sofrimento que você está passando, assim como Edmundo pensou que uma bebida quente e um manjar turco criados num passe de mágica eram a solução para o frio que estava sentindo. No entanto, quem prova do manjar turco fica querendo sempre mais e chega a comer, a comer, até estourar. O pecado tem um poder de encantamento grande o bastante para nos escravizar e nos levar à morte, no mesmo sentido que o flautista encantou e conduziu à morte milhares de ratos na cidade de Hamelin.

O apóstolo Paulo é categórico em relação à prática do pecado. Ele afirma:

“Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6.23 – NVI).

2. Jesus rejeitou o manjar turco e venceu a Feiticeira Branca

Em Mateus 4.1-11, vemos que Jesus também foi tentado a comer do manjar turco. Fazia quarenta dias que Jesus estava em jejum, e o diabo então surge dizendo que Jesus poderia transformar as pedras em pães, se Ele quisesse. Não bastasse isso, o diabo prometeu “nobreza” e reinado a Jesus se Ele, prostrado, o adorasse.

Mas nosso Senhor não apenas conhecia muito bem Sua identidade junto ao Pai, como também conhecia a Palavra e o caráter de Deus. Ele sabia que o Pai não lhe abandonaria. E, de fato, após ter vencido a tentação, vieram os anjos e serviram a Jesus (v. 11). Além disso, com a sua ressurreição, após ter feito a purificação dos pecados, Jesus se assentou à direita de Deus, se tornou superior aos anjos e herdou o mais excelente nome de todos (Hebreus 1.3-4), para que, ao Seu nome, se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Ele é Senhor (Filipenses 2.10-11).

Jesus olhava para as coisas eternas e não para as coisas deste mundo. Por isso, rejeitou o manjar turco do diabo em troca da alegria que lhe estava proposta. Ele suportou as tentações e os sofrimentos. Se há alguém que devemos imitar esse alguém é Jesus.

3. Livres do pecado

Em sua carta aos Romanos, o apóstolo Paulo afirma que, uma vez que estamos em Cristo Jesus, o velho homem morre (6.5-6). Então, devemos nos considerar mortos para o pecado, mas vivos para Deus (6.11). Assim, não devemos permitir que o pecado continue dominando os nossos corpos, fazendo com que nós obedeçamos aos nossos desejos (6.12). Paulo diz que fomos libertados do pecado e nos tornamos escravos de Deus e o fruto que colhemos disso nos leva à santidade e à vida eterna (6.22).

O apóstolo João diz:

“Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Pois tudo o que há no mundo — a cobiça da carne, a cobiça dos olhos e a ostentação dos bens — não provém do Pai, mas do mundo” (1João 2.15-16 – NVI).

Por isso, nem deve passar por nossas mentes a saudade ou o desejo de voltarmos à vida de pecado. Um cristão não pode amar o pecado. É simplesmente intolerável que um filho de Deus deseje se deleitar no pecado como Edmundo desejou voltar para fartar-se de manjar turco. João ainda diz:

“Todo aquele que é nascido de Deus não pratica o pecado, porque a semente de Deus permanece nele; ele não pode estar no pecado, porque é nascido de Deus” (1João 3.9 – NVI).

Por Jonathan Silveira em Tuporém

ps. para ouvir:

Turkish Delight – David Crowder Band

 

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