Que roupa devo usar? Com quem devo namorar? Qual faculdade escolher? Que animal devo adotar? Nós, até muito bem intencionados, queremos sempre saber a vontade de Deus sobre quais decisões tomar, para que o agrademos com elas. O problema é que temos sido educados em uma cultura muito aquém do ensino da Palavra de Deus – com certeza muito por parte da omissão dos pastores em seus púlpitos – e a gente acaba sem querer aprendendo muita coisa que, às vezes, não estão realmente enquadradas com uma visão correta das coisas de Deus.

Queremos que um anjo do céu desça e nos diga “compre o vermelho”. Ou que a “voz de Deus” fale ao nosso coração e diga exatamente o que fazer. Queremos sinais, dicas divinas, ou qualquer coisa que nos faça sentirmos seguros em nossas escolhas. Eu falo isso porque já botei muita escolha que fiz na conta de Deus que hoje sei que foi mera preferência minha.

Hoje vejo muita ênfase nessa “subjetividade espiritual” do “ouça a voz de Deus em seu coração” em assuntos que a Bíblia é muito clara e objetiva. Aprendi que até quando a Bíblia se cala, ela fala. Muitas vezes, na nossa vida cristã, influenciados por uma visão muito mística aderida já há tempos pelo evangelicalismo brasileiro, tratamos a Bíblia como se fosse um horóscopo, sabe? Ou biscoitinho da sorte. Queremos abrir em qualquer página e ver escrito “Case-se com a Filomena”. Descobrir a vontade de Deus parece muito mais como um fast food, onde você paga e obtém a resposta (facilitando muito o caminho pra gente).

Tem um ponto muito central na questão de saber a vontade de Deus: a Bíblia. Quando vemos o que Paulo diz em 2 Timóteo, que “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.”, me vem uma pergunta: será que precisamos de algo além dela?

Nem todos os assuntos são tão claros assim na Bíblia que podem ser facilmente respondidos. Nem todas as decisões eu consigo abrir a Bíblia e sair convicto. A vida é repleta de situações cinzentas que vão nos exigir dias, meses ou até anos de oração. Precisaremos sim de oração, conversas com amigos, precisaremos ouvir o Espírito Santo em nossa mente e até ficarmos atento a sinais. Mas aí vai uma conclusão que acho importante: O Espírito Santo, a oração, o discipulado e os sinais de Deus não estão indo em um caminho oposto ao da Bíblia.

Foi o próprio Espírito Santo que inspirou as Escrituras. Será que ele inspirou a Escritura de forma incompleta, que precisamos de outros meios para entendermos a vontade de Deus? Além disso, vemos, em várias passagens, que oramos errado, que devemos pedir segundo a vontade de Deus e que não recebemos o que pedimos porque muitas vezes pedimos mal. Sabemos também que não há ser humano que possa nos dar total garantia de que nunca falhará. Então, me pergunto, por que queremos tanto nos apoiar em amuletos e coisas tão falhas se já temos a própria Palavra de Deus para pautar nossas decisões? Se temos tantos meios que podem falhar, que podem nos conduzir a um caminho, por que insistimos em procurar por eles sem levar em consideração que temos uma Palavra sem erro algum?

Por isso que a oração, o discipulado e as impressões que tenho do Espírito Santo em meu coração devem ser todas pautadas pela única coisa que no mundo que é garantia de nunca errar: a Bíblia.

Mas eu não estou falando só de ler a Bíblia, sabe? Estou falando da Suficiência das Escrituras. Estou falando de profundidade bíblica afetando minhas decisões. O Espírito Santo fala aos nossos corações? Sim. Deus manda sinais? Sim! Oramos e pedimos sabedoria para agir? Sim! Mas tudo isso pautado em um fundamento: as Palavras do próprio Deus.

Conhecer a vontade de Deus é muito mais do que saber algo ainda não relevado. É olhar para o que Deus já disse! As escrituras não são só palavras. É o Verbo vivo. As Escrituras são sobre alguém. São sobre Jesus. Ele é a Palavra encarnada. Eu penso que priorizar sinais subjetivos ou mesmo coisas como saber o que fazer na faculdade, com quem namorar, pra que igreja ir, como se Deus fosse um tutorial do YouTube é dizer “Jesus não é bastante pra mim, me fale sobre outra coisa, Deus”. Fazemos muito isso e quase nem percebemos. Na verdade, há muito mais misticismo no nosso cristianismo do que percebemos.

Às vezes, querer conhecer a vontade de Deus (dessa forma mística que descrevi) pode ser realmente errado. Que tal se ao invés de buscarmos saber os mistérios dos planos de Deus, não tentamos olhar para os princípios que Ele nos deixou? Deus pode não dizer em que time você vai jogar, mas diz que devemos respeitar e amar os inimigos (Mt 5:44). Deus pode não dizer com quem você vai se casar, mas diz que não deveria ser alguém que não o tema (2Co 6:14). Deus pode não deixar claro pra você qual faculdade escolher, mas diz para servir não como se estivesse servindo a homens, mas servindo a ele (Cl 3:23).

É por isso que Teologia importa e que faz muito mais diferença do que pensamos quando um púlpito é cheio das Escrituras. É interessante que antes de Paulo começar uma série de conselhos práticos sobre o que fazer ou não fazer para os Romanos, ele conclua dizendo: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos! Por que quem compreendeu a mente do Senhor?” (Rm 11:33-34).

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